A Igreja do convento de Santo António dos Capuchos, em meados do século XIX, antes da construção do Hospital da Misericórdia. Cliché de Frederick W. Flower. |
Terminada
a revisitação das quatro freguesias que, em 1758, constituíam a
vila de Guimarães e que, agora, se resumem a uma só), passamos para
o território suburbano, contornando o espaço mais urbano em sentido
contrário ao dos ponteiros do relógio. Começámos por S. Pedro de Azurém, a
freguesia onde o Castelo encosta. A
memória de Azurém não é tão extensa como as que já pudemos ler, mas dá-nos
informações igualmente curiosas, como a que se refere à rua de
Santa Luzia, que se repartia pela rua da parte de cima e pela rua da
parte de baixo. A parte de baixo, que acabava na antiga ponte de
Santa Luzia (que atravessava a ribeira de Santa Luzia próximo do
local onde hoje está levantado o quartel dos Bombeiros Voluntários),
pertencia, alternadamente, ano sim, ano não, ora à freguesia de
Azurém, ora à freguesia de S. Paio.
Azurém
Extracto
da freguesia de São Pedro de Azurém, extramuros da vila de
Guimarães, da comarca e Arcebispado de Braga Primaz.
Em
virtude de uma ordem ambulatória do Muito Reverendo Senhor Doutor
Provisor deste Arcebispado de Braga Primaz, que me foi entregue com
uns interrogatórios de letra impressa, em que me manda responder a
eles.
Francisco
Dias de Miranda, pároco da paroquial igreja de São Pedro de Azurém,
extramuros da vila de Guimarães, da comarca e arcebispado de Braga
Primaz, faço certo que o que nesta freguesia achei acerca dos ditos
interrogatórios é o seguinte.
Fica esta
freguesia na Província do Minho, chamada a freguesia de São Pedro
de Azurém, termo da dita vila de Guimarães, da comarca e
Arcebispado de Braga Primaz. É de el-rei Nosso Senhor. Tem esta
freguesia duzentos e dez vizinhos e, pessoas, seiscentas e uma.
Está
esta freguesia situada num vale e dela se descobrem as povoações
seguintes, como são a dita vila de Guimarães, a freguesia de Santo
Estêvão de Urgezes, a freguesia de São Miguel de Creixomil, a
freguesia de Santa Eulália de Fermentões, a freguesia de São João
de Pencelo, a freguesia de São Lourenço de Cima do Selho, a
freguesia de São Mamede de Aldão, a freguesia de São Romão de
Mesão Frio e a freguesia de Santa Marinha da Costa, e todas
circunvizinhas com pouca distância a esta freguesia.
A igreja
paroquial desta freguesia está situada no meio dela, e só dois
lugares que tem junto a ela, como também o da residência e os
lugares desta freguesia, que por outro nome se chamam eidos, são
quarenta, como são o lugar do Capitão, o lugar de Rio, o lugar da
Ponta da Pipa, o lugar do Verdelho, o lugar da Porteladinha, o lugar
da Eira, o lugar de Arcela, o lugar da Boa Vista, o lugar da Fonte da
Dourada, o lugar de Entre as Vinhas, o lugar do Outeirinho, o lugar
da Madre de Deus, o lugar da Calçada, o lugar de Sezil, o lugar de
Barregão, o lugar do Pedroso, o lugar da Veiga de Cima, o lugar da
Veiga de Baixo, o lugar de Azurém de Cima, o lugar de Azurém de
Baixo, o lugar do Assento, o lugar da Barreira, o lugar da Aceição,
o lugar de Pousada, o lugar da Cruz, o lugar do Rato, o lugar da
Pegada, o lugar da Casa Nova, o lugar do Bom Retiro, o lugar das
Bornarias, o lugar do Pombal, o lugar da Espinhosa, o lugar de
Sesulfe, o lugar da Amorosa, o lugar da Conceição, o lugar da Ponte
Nova, o lugar da Agra, o lugar de Bargas, o lugar da Feijoeira e o
lugar de Benlhevai. Tem mais a Rua do Cano de Cima e a Rua do Cano de
Baixo, a Rua de Santa Luzia da parte de cima e a Rua da parte de
baixo, esta é alternativa, um ano desta freguesia e o outro ano da
freguesia de São Paio da dita vila de Guimarães. Tem mais o lugar
da residência, que este está junto à dita igreja paroquial.
O orago
desta freguesia é o Príncipe dos Apóstolos, o Senhor São Pedro.
Tem cinco altares a dita igreja paroquial, o altar-mor é do dito
Apóstolo São Pedro, os outros quatro se acham situados no corpo da
dita igreja, que são o de São Roque, o de Nossa Senhora das
Candeias e o de Nossa Senhora do Rosário com sua dita irmandade do
mesmo Rosário, onde está o Sacrário com o Senhor Sacramentado, e o
outro das Almas, com sua irmandade da invocação das mesmas Almas. O
pároco desta freguesia é cura anual por apresentação do Reverendo
Cabido da Real Colegiada da dita vila de Guimarães. E tem de côngrua
oito mil reais em dinheiro, dois alqueires de trigo, dois almudes de
vinho e duas libras de cera branca, com todo o pé de altar, o que
tudo poderá render, um ano por outro, para o dito pároco cura,
cinquenta mil reais.
Os frutos
dos limites desta freguesia da dizimária pertencem à Mesa Capitular
do dito Reverendo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e rendem, um
ano por outro, quatrocentos mil reais.
Está
situado nos limites desta freguesia um convento de Santo António dos
Capuchos Reformados.
Não tem
padroeiro particular.
Tem esta
freguesia duas ermidas, uma da invocação de Nossa Senhora da Madre
de Deus, que se festeja aos oito de Setembro e nesse mesmo dia
costuma muita gente, por devoção, concorrer à dita ermida e é
padroeiro dela Caetano Baltasar de Sousa de Carvalho, da dita vila de
Guimarães, como também tem a obrigação de a fabricar de tudo o
necessário. A outra ermida é da invocação de Nossa Senhora da
Conceição, que tem sua irmandade da mesma invocação, assim de
eclesiásticos como de seculares, que se festeja aos oito de Dezembro
e nesse mesmo dia costuma muito povo, por devoção, concorrer à
dita capela ou ermida. É senhor e padroeiro da dita capela ou ermida
o dito Reverendo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e nela se
acha ermitão, por apresentação do dito Reverendo Cabido, e ambas
as ditas duas ermidas estão pegadas a lugares desta freguesia.
Os frutos
que os moradores desta freguesia recolhem em maior abundância são
milhão grosso, milho alvo, trigo, centeio, vinho de uveiras verde,
feijão, landres, castanha, pouca, e também painço, e também se
colhe nesta freguesia toda a casta de hortaliça e também melões e
melancias e toda a casta de fruta.
Está
esta freguesia sujeita às justiças da dita vila de Guimarães, de
cujo correio se serve, por esta freguesia ficar extramuros da dita
vila.
Dista
esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, três
léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas.
Pela
misericordiosa de Deus, não padeceu esta freguesia ruína alguma no
terramoto do ano de mil setecentos cinquenta e cinco.
Tem esta
freguesia oito privilégios das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da
Oliveira, da dita vila de Guimarães.
Tem esta
freguesia uma ponte chamada a ponte Nova de Santa Luzia, feita de
pedra de cantaria e de um arco só. Por ela se dá entrada para a
dita vila de Guimarães a todo o povo, carros e bestialidades que vêm
da cidade de Braga e mais partes para a dita vila de Guimarães. Não
tem rio esta ponte, só sim as águas que no tempo do Inverno expelem
os campos desta freguesia passam por baixo do arco dela, por ficar no
mais baixo desta freguesia e aí acudirem as águas dela, porém é
em pouca quantidade e no tempo do Inverno, que no de Verão quase
sempre secam estas águas. Tem esta freguesia um único moinho, que
está na baixa de um campo, que só mói no tempo de grande Inverno,
com as águas que regam o dito campo, que no tempo do Verão não tem
com que moer, por não haver águas.
E declaro
que os limites da dita ponte Nova de Santa Luzia, acima já
mencionada, são alternativos um ano desta freguesia e outro ano da
freguesia de São Paio, da dita vila de Guimarães.
E não
sei, nem me consta, que nesta freguesia haja alguma coisa mais digna
de memória conforme me obrigam os ditos interrogatórios, o que tudo
passa na verdade, e em fé dela me assino, juntamente com o reverendo
Francisco Xavier, pároco de Santa Eulália de Fermentões, e com o
reverendo António Mendes Teixeira, pároco de São Lourenço de Cima
do Selho, ambos párocos mais vizinhos desta freguesia.
São
Pedro de Azurém, vinte e nove de Abril de mil setecentos e cinquenta
e oito anos.
O pároco
Francisco Dias de Miranda.
Francisco
Xavier, pároco de Santa Eulália de Fermentões.
António
Mendes Teixeira, pároco da freguesia de S. Lourenço de Cima de
Selho.
“Azurém”,
Dicionário
Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol.
5, n.º 86, p. 1083 a 1088.
[A seguir: Fermentões]
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