Mostra da Fábrica de Tecidos a Vapor do Castanheiro na Exposição Industrial das Festas da Cidade de 1908. |
Contrariando o cepticismo de alguns, na festa da Sociedade Martins
Sarmento realizada no dia 9 de Março de 1900, foi inaugurado o Museu Industrial,
que ficou instalado na galeria superior do Museu Arqueológico. Ali se podiam admirar
os diferentes produtos das indústrias e das artes vimaranenses, configurando a
exposição, segundo se lê na Revista de Guimarães daquele ano, “um admirável
adiantamento à exposição”. Pelos relatos que se publicaram nos dias que se
seguiram à inauguração do museu, percebe-se que tinha a ambição de ser, e já o
era, uma exposição industrial permanente das indústrias de Guimarães. Vale a
pena ler, por exemplo, a reportagem que O
Comércio de Guimarães publicou na sua edição de 20 de Março. Aqui fica.
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Exposição industrial
Foi uma ideia abençoada da Sociedade Marlins Sarmento! Venham cá
os de fora, esses que têm nos lábios um sorriso de desdém pelas coisas do
Guimarães e admirem o bem tecido dos nossos linhos, o bom acabado das nossas
camisolas, o lustre da nossa cutelaria, o bom gosto da nossa marcenaria; venham
cá os descrentes da nossa riqueza industrial, entrem na Exposição permanente
que sairão crentes, sairão satisfeitos.
E entremos nós também a examinar as galerias. Comecemos pela
esquerda, mas lestos que o tempo urge e o espaço é pouco. Exposição de António
da Costa Guimarães, Filho & C.ª. Esta casa fundada em 1854 expõe os seus
artefactos — tecidos de linho e algodão destacando-se as colchas que formam o
fundo e os toalhetes em fantasia, que são obra prima. Fábrica a vapor de tecidos de linho de Guimarães apresenta os seus
tecidos de linho e algodão sobressaindo os toalhetes adamascados e turcos de
grande variedade e colorido e o fino tecido de linha. J. T. de Abreu & C.ª
lá tem os seus tecidos de linho e algodão. Fábrica
de tecelagem manual de José de Freitas Costa Soares, apresenta tecidos de
linho e algodão, destacando-se uma colecção formosíssima do riscados dispostos
com arte e bom gosto. Fábrica de tecidos
mecânicos e manuais de Francisco Inácio da Cunha Guimarães expõe tecidos de
linho e algodão e outra distinta colecção de riscados, toalhas, colchas, etc.. Tinturaria e Estamparia a Vapor de
Alexandre José Rodrigues, Pevidém, um grupo completo de meadas de algodão tinto
era variadas cores e alguns riscados. Fábrica
de tecidos de S. João Baptista de Gondar de Joaquim da Costa Vaz Vieira,
expõe um grupo variado de cotins e riscados, onde notamos imitações perfeitas.
Chapelaria
Progresso de Francisco Agostinho Cardoso de
Lemos, Campo do Toural, apresenta uma boa colecção de chapéus, merecendo
especialização os modelos Martins
Sarmento, Tomás Ribeiro, João Franco, Bóer, etc.. Fábrica de tecidos de malha de Guimarães de Gouveia & Lima,
expõe uma completa e perfeita colecção de camisolas, ceroulas, meias e malhas
em lã e algodão, tudo em sortido variado e selecto, destacando-se umas camisolas
de ciclista onde melhor se pode analisar o bom acabamento e o bom gosto.
Fábrica
de curtumes e depósito de courama em cabelo
de Almeida & irmão — variedade em vitelas pretas de flor e branca de
carnaz, atanados ele. João José Gomes expõe loros para seleiro. Fabrica de Curtumes de Manuel Luís
Carreira — bezerro seco de Montevideu, vitela verde com pós o sem pós. Fábrica de curtumes de António Joaquim
Gomes, Corredoura, expõe atanados e vitelas brancas.
Oficina
de Marceneiro de João do
Sousa Neves apresenta um móvel destinado a guardar ferros cirúrgicos, de cedro
nacional a imitar mogno, e uma formosa cama à francesa, estilo moderno.
Ao lado direito o pelo centro da galeria encontra-se:
Oficina
de calçado de Francisco de Oliveira, rua de
Santo António, apresenta uma curiosa colecção de calçado fino e grosso bom
acabado e variedade; expositor Custódio José do Sousa Moreira, fabricante José
Maria Pereira Cabral — calçado aperfeiçoado o de fino gosto.
Irmãs hospitaleiras do Asilo de Mendicidade de N. S. da Consolação
e Santos Passos — um ramilhete formosíssimo, tentando pela variedade e
prendendo pelo colorido. Das Irmãs hospitaleiras da Santa Casa — vasos do
cravos, perfeitos, boa folhagem e um vaso com um pé de camélias — Alba-plena —
que é um primor de imitação.
Mobiliário de Freitas & Irmão, rua de Santo António, — uma mesa de sala
de jantar, elástica, de nogueira preta nacional, com talha, que honra a indústria
vimaranense.
Portugal, fábrica a vapor, Madroa — uma colecção, num à toa bem lançado, de pentes de chifre, unha e celulóide, de bela
fantasia. Esta fabrica é já hoje uma glória da terra e do país. Oferece 30 p.
c. do que se vender na exposição para a fachada do edifício da Sociedade.
Eduardo
da Silva Guimarães — o que há
de melhor em padaria — trigo, mistura e milho. Padaria de José da Costa
Carneiro — trigo, doces e pão francês.
Fabrica
de Pão-de-ló de Ribeiro
Varandas — exposição de pão de ló em roscas, doces cobertos e por cobrir.
Ferragens — Cunha & Companhia, Gervásio António Pinto, Manuel
Lopes de Araújo Guimarães e Sucessor e José António Ferreira da Cunha expõem:
tesouras de muitas qualidades e algumas do muito valor artístico e intrínseco,
talheres de primeira, segunda e terceira ordem, navalhas, foices, esporas,
martelos, facas de cozinha etc.
Companhia
de Fiação e Tecidos de Guimarães
expõe o fio nas diversas fases.
À saída, no escadório vê-se a exposição de Tanoaria de Eduardo da Silva Guimarães, e a de Marques & Irmão.
Dois arados mecânicos da Fundição de
Guimarães de José Mondes de Castro.
O Comércio de Guimarães, 20 de Março de 1900
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