Já os gregos usavam destas artes, há quase dois mil e quinhentos anos. Os romanos aprimoraram-nas. O barroco deu-lhes um novo fulgor. São as artes dos fingidos, imitações pintadas de materiais nobres (mármores, madeiras, lacas, etc.) aplicadas sobre rebocos, estuques, madeira. Em Guimarães, os fingidos foram extensamente utilizados no restauro da Colegiada da Oliveira da década de 1830, quando o rude granito do interior da igreja foi recoberto com madeiras e estuques decorados com marmoreados fingidos e douraduras. O restauro o início da década de 1970 removeu-os.
No Toural, há um edifício
onde podemos observar os primores destas artes do engano, que nos fazem ver o
que não existe. É o edifício que faz esquina com a Rua de D. João I, onde antes
funcionou o Banco Nacional Ultramarino e, lá mais para trás, a conceituada Confeitaria
Parisiense, de Domingos Vinagreiro & Filhos. Hoje é um hotel. Quem o
encara, vê uma fachada de pedra lavrada, que lhe dá uma certa nobreza. Granito fino.
Afinal, vendo mais de perto, percebe-se que, no revestimento da fachada, o granito
genuíno apenas chegou para o rés-do-chão (e nem todo). Daí para cima, não é
granito: dá-se ares. É uma obra, de boa feitura, da antiquíssima arte dos
fingidos. Custa a crer que seja mentira.
As obras de arte dos fingidos são como as profissões de
fé ecológica dos nossos responsáveis políticos. Fazem juras de amor eterno ao
verde, ao mesmo tempo que permitem a destruição de importantes mancha verdes, como em Pencelo,
para instalar uma fábrica que nenhum benefício traria à terra, ou no quarteirão
da Caldeiroa-Camões, para encher de betão e acomodar automóveis. Custa a crer
que seja verdade.
A Confeitaria Parisiense, de Domingos Vinagreiro & Filhos, no início do séc. XX. Note-se a fachada revestida a azulejos. |
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