Troço da rua de Couros. |
A rua de Couros tem início junto
ao antigo terreiro de S. Francisco, que também se chamou praça de D. Afonso Henriques, por ter sido o primeiro lugar de implantação do monumento ao rei fundador, e que hoje conhecemos, simplesmente, como a Alameda. Termina quando chega à margem do rio que tem o mesmo nome. Percorrida de sul para norte, desdobra-se,
a certo passo, na estreita rua do Guardal, a poente, em cujo cotovelo se
recolhe a Ilha do Sabão, e no íngreme largo da rua de Couros, que se expande do lado do nascente.
Troço da rua do Guardal. |
A origem do nome da rua de Couros
não suscita quaisquer dúvidas: remete para a actividade artesanal e industrial em
que se especializou, a curtimenta de peles e de couros. Aparece em documentos que
datam, pelo menos, desde meados do século XIII, onde é referenciada como a rua que vai para o rio de Couros. Desde
a idade Média que está mencionada a existência de pelames (palavra que tanto
designa as oficinas dos curtidores, como os tanques em que se pelam as peles) na rua de Couros e em todo o espaço que margina
o rio que, neste tracto do seu curso, tem o mesmo nome. Por ali não faltavam
nem os tanques de paredes de granito, que se enchiam com água do rio de Couros,
utilizados para curtir as peles, nem as atafonas, pequenos moinhos movidos pela
correnteza da mesma água, usados para moer as cascas de carvalho ou de sobreiro,
fontes de tanino, essencial para a curtimenta das peles.
E havia também os secadouros,
onde as peles, depois de passarem por um processo de tratamento que implicava diversas
imersões, eram postas a secar. Geralmente situavam-se em recintos fechados ou
em construções de madeira que, de algum modo, faziam lembrar os espigueiros,
embora de maiores dimensões. Mas também não faltavam peles a secar ao ar livre,
penduradas em tendais, nomeadamente no largo da rua de Couros, que também se
chamou do Pelourinho e que hoje responde pelo nome de largo do Trovador.
|
O pelourinho era um dos símbolos
do poder municipal tendo, geralmente, a forma de uma coluna de pedra onde eram
executadas as penas desonrosas e exemplares, impostas a condenados que nele
eram amarrados e sujeitos a açoites ou à vergonha pública. Regra geral, era
implantado na mesma praça pública onde se situava a casa da Câmara. Assim
sucedia em Guimarães, onde o pelourinho se erguia na Praça Maior, a Oliveira,
tal como aparece representado na planta do século XVI. Em data incerta, foi
transferido para o largo da rua de Couros, que lhe tomou o nome, mantendo-o até
ao dia 10 de Junho de 1880, data em que se assinalou, com grandes festas
públicas, o terceiro centenário da morte de Luís de Camões. Nesse dia, foi proposto
dar o nome do autor dos Lusíadas à
rua Nova das Oliveiras. Na sessão solene da Câmara em que aquela proposta foi
apresentada, o vereador António Joaquim de Melo propôs, por sugestão do padre
António Caldas, seu cunhado, que o largo do Pelourinho se passasse a designar
por largo do Trovador, em memória de Manuel Gonçalves, o primeiro português que
terá composto trovas, ainda no tempo da fundação, mas de quem não se conhece qualquer
verso, que, segundo a tradição, teria nascido ali mesmo, na rua de Couros.
Quanto à origem do nome da rua do
Guardal, nada sabemos. Possivelmente, em tempos que já caíram no esquecimento, existiria
por ali um horto, que é o que significa a palavra guardal.
À rua de Couros e aos espaços
adjacentes, historicamente ligados à indústria da curtimenta das peles, já
houve quem chamasse ilha, bairro, arrabalde ou burgo. É hoje moda chamar-lhe “zona”
de Couros. Sobre designação tão inapropriada e infeliz, já aqui
falámos.
0 Comentários