Imagem virtual do Toural, que acompanha a recente proposta de construção de um parque de estacionamento subterrâneo e de um túnel . |
Conta-se que o filósofo grego Anaxágoras
de Clazómenas, mestre de Péricles, quando esteve preso, no início do segundo
quartel do século V a. C., terá dedicado o tempo que passou na prisão a tentar
resolver o problema da quadratura do círculo. Não consta que tenha encontrado a
solução, até porque, quase no final do século XIX, Ferdinand Lindemann demonstrou
a impossibilidade de solucionar este problema. Hoje, a expressão ‘quadratura do círculo’ é utilizada para designar algo que é impossível de fazer ou de construir.
Durante a discussão que se abriu
em 2007 a propósito do anterior projecto de esventramento do Toural para a construção de
um túnel e de um parque de estacionamento subterrâneo, um dos temas mais escalpelizados
foi o das feridas que essas construções abririam à superfície da praça: as
bocas do túnel e rampas de acesso ao parque para automóveis, os sistemas de ventilação,
natural e mecânica, os acessos de peões, por escada e por ascensor. Na altura,
houve uma discussão acessória, que andou bastante animada, acerca da
impossibilidade de compatibilizar o parque subterrâneo projectado com árvores
no Toural.
Para o problema da boca do túnel
e das entradas e saídas de automóveis no parque, chegou a ser avançada neste blogue uma
proposta de solução, que sabemos ter estado em cima da mesa dos decisores, que
ia no sentido de se deslocarem esses acessos para bem antes
da rua Paio Galvão. Para o mais, não havia solução que não fosse considerada excessivamente intrusiva, ficando claro que a
instalação de túneis e parques subterrâneos sem implicar alterações relevantes
à superfície era, como a solução da quadratura do círculo, uma impossibilidade. E o tal projecto morreu, de morte natural.
Era uma impossibilidade, escrevi. Parece que já não é.
A recente proposta da coligação
Juntos por Guimarães para a construção de um túnel e de parques de estacionamento
no Toural e no Campo da Feira projecta escavar túnel e parque subterrâneo “sem
qualquer intervenção de natureza estética”, retirando o trânsito da praça, sem “mexer
naquele que é o Toural que as pessoas hoje conhecem”.
Olha-se para a imagem com a
representação virtual do que se projecta fazer e o que vemos corresponde ao que
foi dito. A praça fica como está, apenas, com uma alteração no empedrado das vias
de circulação de automóveis, que desaparecem, cumprindo-se a intenção de
pedonalização radical. Lá estão as árvores, todas elas. E nada se acrescenta: nem
escadas de entrada e saída de peões no parque, nem caixas de elevadores, nem
vestígios de sistemas de ventilação, nem sequer umas simples grelhas de
arejamento natural.
Está resolvido o problema da
quadratura do círculo.
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