Ruas antigas, nomes novos

As Hortas (imagem do Google Maps)

Campo s.m., Lugar, terreiro ou praça, sem casas ou edifícios dentro ou junto de uma povoação.
Largo s.m, Espaço desimpedido numa povoação, mais amplo que nas ruas que nele desembocam, e menor, geralmente, que uma praça.
Parque, s.m., Terreno de certa extensão, murado ou vedado e onde se passeia ou caça.
Praça s. f. (do gr. plateia, pelo latim platea), Lugar público, grande largo, geralmente rodeado de edifícios, para embelezamento de uma cidade, vila, etc., e como meio higiénico para melhor circulação do ar e plantação de árvores.
Praceta s.f., Praça pequena; pequeno largo.
Rossio s.m., Lugar espaçoso; terreiro; praça larga.
Terreiro s.m., Praça ou largo dentro de uma povoação.
(Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado)

Neste 25 de Abril, o lugar que tem sido conhecido por Parque das Hortas será rebaptizado. Passará a ser o Largo da República Portuguesa. Esta alteração toponímica merece-me algumas reflexões.

Na monografia Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, que o padre Torcato Peixoto de Azevedo escreveu, em finais do século XVII, a presença da palavra 'largo' na toponímia vimaranense apenas se evidencia uma vez, no topónimo Monte Largo. Em Guimarães, para além de ruas e travessas, havia espaços que eram designados como praças (como a Praça Maior, a Praça do Peixe ou o Toural), terreiros (o da Misericórdia, por exemplo), campos (Campo da Feira) ou rossios (rossios da Tulha, da Alfândega, de S. Lázaro, etc). Nos tempos que correm, está instalada a pobreza terminológica. Tudo são largos: largo da Oliveira, largo do Toural. Até ao Campo da Feira, que é um campo, puseram o nome de largo da República do Brasil. Agora chegou a vez das Hortas, que ficam naquele lugar onde já foram as Hortas do Prior, depois, simplesmente, Hortas, e que recentemente passou a responder pelo nome de Parque das Hortas, sem se perceber bem se por ser sítio de passeio ou parque de estacionamento. A partir de agora, ali haverá largo. Mais um.

Uma outra reflexão vem a propósito do uso recorrente de mudar os nomes históricos das ruas e praças de Guimarães, substituindo-os por outros que vão ao sabor de modas mais ou menos repentinas e efémeras, inegavelmente respeitáveis, mas dificilmente compreensíveis em ruas e sítios que sempre tiveram nomes próprios. É assim que Guimarães tem um largo Condessa do Juncal. Podemos discutir se é um largo ou uma praça. Mas ninguém lhe discute o título. Quem seja a Condessa do Juncal, quase ninguém saberá. Mas não há ninguém que não conheça aquele sítio pelo nome: é a Feira do Pão. Ali ao pé, há um arruamento que tem o nome de um vimaranense ilustríssimo: Dr. Avelino Germano. Se alguém perguntar onde fica, é provável que não tenha resposta. Mas, se perguntar pela Tulha… O mesmo irá, certamente, acontecer com o novíssimo largo da República Portuguesa, que continuará a ser o lugar das Hortas, assim como o largo da República do Brasil, mais de um século após o seu rebaptismo, continua a ser o Campo da Feira. Já era tempo de começarmos a ponderar se fará sentido mudar os nomes históricos aos sítios, sabendo-se que os novos topónimos dificilmente entrarão em uso corrente.

Uma última cogitação. Li algures que a justificação para o novo nome das Hortas decorria de não haver na cidade Guimarães nenhuma rua, praça ou avenida que assinalasse o nome da República. Já houve uma rua da República, assim baptizada logo a seguir à queda da monarquia. Era a rua que até aí celebrava a rainha que elevou Guimarães a cidade. Em 1943, voltou a ser, oficialmente, rua da Rainha D. Maria II. Terá, então, ficado um vazio toponímico, que hoje se procura preencher. No entanto, não me parece que tal vazio existisse. Guimarães tem, há muito, uma Avenida da República. Fica nas Taipas. Alguém dirá que as Taipas não ficam na cidade de Guimarães. Pode ser verdade, mas isso depende do que se tem em mente quando se fala em 'cidade de Guimarães'. Cidade ou concelho? Faz falta que se faça doutrina sobre o assunto.

A Avenida da República, por ser uma artéria das Taipas, não cabe na cidade de Guimarães, mas parece que o património das Taipas cabe no roteiro Guimarães Cidade de Património, que ainda não vi, mas que anuncia incluir “51 pontos de interesse no concelho de Guimarães”. Em que ficámos?

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