Parque de estacionamento subterrâneo, numa cidade qualquer. |
De
vez em quando, volta a discutir-se a questão do estacionamento na cidade de
Guimarães. Que faz muita falta e é muito urgente a construção de novos parques,
dizem-nos. De preferência no Toural, asseveram-nos. E subterrâneos, pois claro, juram a pés juntos. Ouço dizer que a Câmara se prepara para
construir um desses “equipamentos”, em tamanho a puxar para o grandote, no
miolo entre as ruas Caldeiroa e de Camões, ao mesmo tempo que encomenda um
estudo para saber da viabilidade de um parque subterrâneo entre a Alameda e o
Campo da Feira (e eu pasmo com tal ideia que, a concretizar-se, implicaria que
fosse perpetrado o mais extenso arboricídio de que haveria memória nesta
cidade). Agora, ouço falar num projecto de uma candidatura à Câmara nas
próximas eleições autárquicas que recupera uma ideia que ficou pelo caminho há
poucos anos: um túnel e um parque a esventrar o Toural.
Perdoem-me,
a culpa é seguramente minha: deve estar a falhar-me algo, já que não encontro
justificação racional para tanta necessidade de aparcamento. Onde estão os
estudos de mobilidade que a demonstrem e justifiquem? Como é que tais projectos (que, a
concretizarem-se, serão mais um factor de atracção de automóveis para o centro
da cidade, o que vai a contracorrente de qualquer ideia de cidade com
preocupações de sustentabilidade ecológica) se conciliam com o desígnio da Cidade
Verde, que ainda há pouco justificou a assinatura pelos partidos com assento na
Assembleia Municipal de um compromisso com o seu quê de inusitado (olha que
lindos, todos tão unidos e de mãos dadas em prol do superior interesse da
cidade!)? Será que não há carências verdadeiramente relevantes para os
vimaranenses onde possa ser gasto, com vantagem, o dinheiro público, em vez de o
atirar fora em obra feita por cima de obra ainda há pouco acabada de fazer? Então,
se há dinheiro de sobra, porque é que não se reduzem as taxas e taxinhas que se
cobram aos munícipes ou se investe num sistema se transportes públicos
modernos, funcionais e tão ecológicos quanto possível, que possam servir a
população de todo o concelho, em vez do arremedo terceiro-mundista que hoje
temos?
Perdoem-me
os meus amigos que pensam o contrário, mas eu não estou nada convencido de que
o que faz falta a Guimarães sejam mais parques de estacionamento no centro da
cidade. A não ser que continuem a pensar que o centro da cidade se resume ao
Toural, já que, a poucos, muito poucos, minutos do Toural, a pé, conheço eu uns quantos
parques de estacionamento que nunca vi completos. Alguns deles, costumam, até,
estar às moscas. Há um que eu conheço, bem grande, por sinal, que tem dois
pisos e que apenas mantém um em funcionamento, por manifesta falta de procura.
Em
Guimarães, mais parques de estacionamento fazem tanta falta como uma viola em
enterro. A não ser que estejam a falar em estacionamento gratuito, mas não me
parece que seja o caso.
Confesso
que tenho dificuldade em perceber o racional desta mono-mania vimaranense dos parques
de estacionamento. A não ser que seja fruto de ciúme ou projecção subliminar de
um qualquer sentimento de inferioridade em relação à cidade que fica para lá da
Morreira, onde imperam os parques subterrâneos e os túneis. Bem sabemos que a inveja
é coisa feia, especialmente quando invejámos aquilo que não nos faz falta,
antes pelo contrário.
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