Da falta de estacionamento em Guimarães

Ao que se vê por aí, parece que está interiorizada a ideia de que Guimarães tem um problema de falta de estacionamento, que urge resolver. No entanto, não conheço qualquer estudo objectivo e sistemático que demonstre e quantifique tal necessidade. Na falta de estudos de natureza técnica, resta-nos acreditar no que nos dizem. Ou então, podemos tentar verificar a realidade no terreno. A experiência é simples, já que Guimarães é uma cidade maneirinha, que se percorre relativamente depressa a caminhar. Foi o que fiz hoje, dia normal de trabalho, ao princípio da tarde. Iniciei a minha digressão um pouco antes das 15 horas e, pouco depois das 16, dava-a por concluída, tendo visitado 14 parques de estacionamento, dos quais 13 são pagos. Os parques que visitei estão assinalados na fotografia aérea que acompanha este texto, obtida no Google Earth. Pelo caminho, fui deitando o olho aos estacionamentos de rua com parquímetros.

Parques de estacionamento do centro urbano de Guimarães.

A minha intenção era assinalar a verde no mapa os parques que tinham a indicação de “livre” e a vermelho os que diziam “completo” à entrada. Sobrou-me toda a “tinta” vermelha. Nenhum dos 14 parques estava completo. Dos parques desta lista os que ficam mais afastados do Toural ou do Centro Histórico, os do Centro Cultural Vila Flor e do Estádio, ficam a menos de quinhentos metros, que se percorrem, a pé, em 5 a 6 minutos, sem acelerar o passo.

Eis o que encontrei:

1. Parque do Centro Cultural Vila Flor: não faltava onde estacionar.

2. Parque da Caldeiroa (parque privado, a céu aberto): à hora a que lá passei eram mais os lugares desocupados do que os ocupados. Como de costume.

3. Recinto da Feira Semanal: é o único parque gratuito que incluí neste périplo. Está disponível para aparcamento todos os dias da semana, menos à sexta-feira. Cabem muitos carros. Estava com uma ocupação de cerca de 50% da sua capacidade.

4. Parque do Mercado Municipal: situado mesmo em frente ao recinto da feira, estava, como quase sempre (as excepções são as sextas-feiras, especialmente de manhã, e as manhãs de sábado), “às moscas” (como seria lógico, aliás: porquê pagar, se se tem do outro lado da rua uma fartura de estacionamento grátis?).

5. Parque do Centro Comercial Santo António: sendo pequeno e o mais central de todos os que constam nesta lista, estava com com pouco mais de metade dos lugares ocupados.

6. Estação Gil Vicente: aqui, o estacionamento afigura-se um tanto caótico, pelo que não consegui perceber bem se tinha muitos ou poucos lugares disponíveis.

7. Parque do Centro Comercial Palmeiras: muitos lugares disponíveis.

8. Parque Santa Luzia: ocupado a cerca de 50%.

9. Parque do Plataforma das Artes: muitos lugares disponíveis.

10. Parque do Triângulo: parque de grandes dimensões, com muitos lugares disponíveis.

11. Parque da Avenida de S. Gonçalo (junto à Casa do Proposto): parque que abriu recentemente, a céu aberto. Cheio de lugares vazios.

12. Parque do Estádio D. Afonso Henriques: bastante preenchido no piso superior (embora com lugares disponíveis para estacionamento), mas quase vazio na maior parte do piso inferior.

13. Parque da Mumadona: é, claramente, o parque com maior taxa de ocupação dos existentes no centro da cidade. No entanto, havia onde estacionar (para aí uma dúzia de lugares, quase todos no piso inferior).

14. Parque do S. Francisco Centro: parque muito central e de dimensões significativas. Com muitos lugares vagos, especialmente no piso inferior, que encontrei muito pouco preenchido.

E havia também os lugares de rua, com parquímetros. Em todas as ruas por onde passei, havia sempre algum espaço vago, com manifesto destaque para o parque da Alameda Alfredo Pimenta (junto ao parque do Triângulo): havia lugares livres suficientes para estacionar quatro vezes mais carros do que os que lá se encontravam.

Já a avenida por onde iniciei a minha peregrinação de hoje, a D. Afonso Henriques, é um caso muito interessante para a compreensão da origem da ideia feita da falta de estacionamento em Guimarães. Mais ao menos até meio, para quem a desce, troço que corresponde à zona de aparcamento gratuito, era impossível encontrar um lugar para estacionar um carro. Daí para baixo começa o estacionamento pago onde, até ao bar Danúbio, contei dez lugares livres. Havia onde estacionar, portanto. Porém, na embocadura da rua Caldeiroa, numa curva, quase em cima de uma passadeira, em local assinalado com traço de tinta amarela, recentemente avivado, havia quatro automóveis estacionados, incorrendo em várias infracções ao Código da Estrada (a que as autoridades sistematicamente fecham os olhos). Haverá alguma racionalidade nestes estacionamentos em infracção, havendo lugares disponíveis logo ali ao pé? Claro que há: os lugares que estavam livres são pagos. Já nos lugares onde é proibido estacionar, não se paga nada (nem multas, ao que se vê).

E assim se verifica que, à data de hoje, não havia qualquer problema de falta de lugares de estacionamento no seu centro urbano de Guimarães. Bem pelo contrário, como se mostrou, a oferta disponível superava largamente a procura.

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