José Rentes de Carvalho (fotografia de Rui Duarte Silva/Expresso) |
Na Revista do Expresso de hoje
pode-se (deve-se) ler uma entrevista deleitosa de um espírito livre que num livro
explicou aos holandeses sem papas na língua o que eles eram, como só um
português emigrante na Holanda podia explicar, e noutro explicou aos mesmos holandeses
o que são os portugueses, como só um português podia explicar, e que, quando os
portugueses o leram, muito se espantaram com o que estavam a descobrir sobre si
mesmos. Na entrevista, o rebelde José Rentes de Carvalho, um dos mais admiráveis
escritores portugueses que Portugal tanto tardou a descobrir, fala da
influência do jornalista e escritor vimaranense Joaquim Novais Teixeira no percurso da sua vida.
Aqui fica o excerto da entrevista
em que se refere a Novais Teixeira:
Ao chegar a Paris, o que foi fazer?
O jornalista [Joaquim] Novais
Teixeira arranjou-me uns biscates para o “Estado de São Paulo”. Há uma história
engraçada com ele. Eu tinha escrito uns contos para um jornal de Moncorvo e
levei aquilo comigo, cheio de orgulho. Lá em Paris, fui ter com ele. Recebeu-me
com muita gentileza, em sua casa, dei-lhe os meus contos e ele levou-os para a
casa de banho. Quando saiu, não disse se tinha gostado, não disse coisa
nenhuma, só me perguntou se eu tinha alguma coisa para fazer no resto do dia.
Eu disse que não. Então levou-me a um jantar com amigos, para me introduzir na
vida parisiense. Fomos a um apartamento chiquíssimo, cheio de gente
chiquíssima, com diplomatas brasileiros. E apresentou-me a duas ou três
pessoas: “Este é o José Rentes de Carvalho, escritor.”
Foi a primeira vez que lhe chamaram escritor.
Foi. Embora ainda não fosse
escritor, longe disso. Novais Teixeira tomou-o como protegido? Sim. E mais do
que isso. Tornou-se o meu mentor.
O que aprendeu com ele?
Primeiro, aprendi que a beleza da
língua é essencial. Depois, aprendi que um jornalista olha, regista, não
exagera, procura ser tão exato quanto for possível. Não trai as suas fontes,
respeita toda a gente e cumpre os horários. Mas sobretudo abriu-me portas. No
Brasil e em França. Ele costumava ser presidente do júri de imprensa dos
festivais de cinema. Conhecia toda a gente.
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