O texto que se segue resulta de
mais um desafio de Miguel Salazar, que chegou em forma de pergunta: “Consegue
encontrar alguma perspectiva da fundação do Vitória que lhe pareça
interessante?” O desafio era o de escrever um artigo que, ilustrado com um dos
seus magníficos cartoons, marcasse o aniversário do Vitória, que se celebra a
22 de Setembro. Respondi que talvez, que sim, que ia ver, mas confesso que não
estava muito virado para aí, já que o futebol nunca foi a minha praia. Fui ver
e, quando lhe respondi, disse-lhe que tinha material não para um, mas para dois
artigos. O primeiro, que agora reproduzo aqui, foi publicado na revista “Mais Guimarães” de Setembro e cobre o período 1922-1927. O segundo, referente aos anos de 1927 a 1932, está a acabar de ser escrito e será publicado em Outubro
na mesma revista.
O Vitória,
no tempo do foot-ball
(1922-1927)
Se fosse
possível imaginar a relevância que o futebol viria ter na sociedade
contemporânea, quando em Guimarães se começaram a dar os primeiros pontapés na
bola, os pioneiros teriam tratado de preservar as memórias desses dias. Mas não
houve tal premonição, de onde resulta que os primórdios do futebol numa terra
como Guimarães permanecessem na obscuridade. Hélder Rocha, primeiro, e Santos
Simões, depois, escreveram que a introdução do futebol em Guimarães teria sido
obra dos técnicos ingleses que se instalaram em Guimarães aquando do arranque
industrial do final do século XIX. Faz todo o sentido. Porém, não conseguimos
encontrar documentos que nos conduzam até esses tempos iniciais. As mais
antigas referências documentadas ao futebol em Guimarães que se conhecem são já
da segunda década do século XX.
Por aqueles
tempos, o futebol andava longe de ser um desporto popular entre os vimaranenses.
Essa condição estava então reservada para modalidades como o tiro aos pombos,
as corridas de cavalos, o pedestrianismo (marchas atléticas) e, em primeiro
lugar o ciclismo. O foot-ball association,
pela sua dimensão colectiva, era considerado demasiado complexo (no primeiro
número da revista Os Sports Ilustrados,
de Junho de 1910, avisava-se que o foot-ball
era jogo dificílimo). A década de
1910 constituirá um período de aprendizagem em que as regras do pontapé na bola
vão sendo descodificadas e o futebol se vai afirmando como uma modalidade desportiva
que mobiliza estratégia, técnica, arte e manha. Este processo de aprendizagem e
maturação estendeu-se até ao início da década de 1920, tempo em que os clubes
de futebol começaram a brotar por todo o lado, como cogumelos. Assim foi também
em Guimarães.
Naqueles
dias, o futebol estava ainda em fase de enraizamento em Portugal. À luz das
mentalidade conservadora da época, era coisa de rapazes. Não muito recomendável
a gente séria, portanto. Nos jornais, ocupava, quando ocupava, escassas linhas.
A terminologia específica do jogo ainda não encontrara tradução em português: team, corner, penalty, shoot (de onde se aportuguesou o verbo shootar) eram expressões correntes. O
objectivo era marcar goals, o
resultado era o score. O jogo
chamava-se foot-ball (a palavra
portuguesa, futebol, seria consagrada na década de 1930). As equipas organizavam-se
num sistema rígido: um keeper, dois backs, três halfs e cinco forwards. Jogavam
em 2-3-5, diríamos hoje. Não tinham entraineur:
as funções de treinador eram desempenhadas dentro do campo pelo captain, por vezes com uma exuberância
para lá do recomendável. Os jogos eram arbitrados por referees que, regra geral, eram afectos a uma das equipas em
confronto. Não havia bandeirinhas, mas havia liners e não faltavam acusações de parcialidade dos juízes. Não havia
lugar a substituições durante jogo, que tinha muito de confronto físico. Por regra,
eram tidas por mais eficazes as equipas constituídas por jogadores fortes. Muitas vezes, os jogos não terminavam
sem desacatos. Outras, nem sequer terminavam. E, aí, o público não regateava o
seu contributo.
O futebol em Guimarães
A primeira
referência documentada ao futebol em Guimarães aparece num anúncio datado de 12
de Março de 1913, mandado publicar nos jornais da terra pelo capitão do 2.º team do Foot-ball Grupo Vimaranense, a convocar os jogadores para um jogo com
o 1.º team, que aconteceria no dia 16
daquele mês. Mas é seguro afirmar-se que em 1912 existiam já dois teams de foot-ball, compostos de alguns dos rapazes
mais estimados desta terra, como testemunhará em 1926 o jornalista e
dirigente desportivo Bernardino Faria Martins, na crónica desportiva no jornal Ecos de Guimarães, que assinava com o pseudónimo
de Sérgio Vidal. Ao longo da década encontrámos referências esparsas a jogos de
futebol no “Campo” da Atouguia, nomeadamente entre equipas de estudantes do
Colégio Académico (que funcionava na Casa dos Coutos, à Misericórdia) e do
Internato Municipal (que partilhava o convento de Santa Clara com o Liceu e a
Escola Industrial). Estas escolas tinham várias equipas de futebol (no final de
Março de 1914 o 3.º team do Internato
Municipal levou de vencida o 2.º da Escola Académica). No final da década,
existia em Guimarães o Sporting (ou Sport) Club Académico que, apesar da
escassez de informação disponível, se presume formado por alunos do Liceu.
Certo é que o futebol tinha muitos praticantes entre os estudantes liceais,
tendo alguns deles dado contributos fundamentais para a afirmação do futebol em
Guimarães.
Quando, na
época de 1921-1922, arrancou o primeiro campeonato nacional, envolvendo apenas
equipas das associações de futebol de Lisboa e do Porto, na imprensa
vimaranense olhava-se em volta e percebia-se o atraso de Guimarães em matéria
desportiva. Não havia um clube a que se pudesse dar esse nome, não existia um
campo de jogos com um mínimo de condições para a prática de futebol de
competição. O desporto continuava a ser olhado com desdém. Rapaziadas, rabujava-se. Todavia, por aqueles dias, já o futebol tinha
conquistado as ruas e as praças da cidade e, pelos terrenos fronteiros ao
cemitério da Atouguia, espalhavam-se vários campos de futebol com jogos
simultâneos, como se percebe pelas queixas recorrentes nas páginas dos jornais
da terra contra o garotio que jogava
a bola nos terreiros e calçadas da cidade e contra o atentado à dignidade dos
mortos e dos vivos resultante dos jogos nas imediações do cemitério. No
entanto, num tempo em que em Portugal o futebol se ia transformando num
espectáculo de massas, à imagem do que sucedia na Europa e na América daqueles
dias, saltava aos olhos o atraso em que nessa matéria Guimarães se encontrava.
Atraso que sobressaía ainda mais quando se percebiam os progressos que aconteciam
em terras vizinhas, especialmente em Braga, onde em 1921 tinha sido fundado um
clube, com o nome de Sporting e que equipava à Benfica, que se ia tornando
hegemónico no distrito. Era preciso fazer alguma coisa.
Por esses
dias, um grupo de rapazes disposto a
retirar Guimarães da pressão de um
indiferentismo imperdoável dos que alguma coisa podendo ser de útil, nada têm
feito, lança um jornal com um programa de progresso e melhoramentos para a cidade. Era o Pro Vimarane que, logo no seu primeiro número, publicado na
primeira quinzena de Junho de 1922, dizia ao que vinha, apresentando um
conjunto de ideias para a modernização da cidade. Em matéria de desporto, partia
duma constatação (não há, por esse país
fora, cidade nem vila que não tenha o seu grupo desportivo) para uma
pergunta: porque o não temos nós?
No seu terceiro
número, o Pro Vimarane inovava na
história da imprensa periódica vimaranense, ao criar uma secção desportiva, Sport, assinada por Sérgio Vidal. E logo
ali se anunciava que um pequeno
grupo de vontades da nossa terra, trabalha afincadamente na organização de um
Club Desportivo, que abranja todos os possíveis ramos de Sport, para o que
procura já um campo apropriado. O desafio lançado no primeiro número não ficara sem
resposta.
Nasce o Vitória
Sport Clube
Num tempo em
que não havia rádio nem televisão e em que as notícias chegavam pelos jornais,
as novidades sabiam-se e discutiam-se nas tertúlias informais que funcionavam nos
cafés, nas lojas e até nas farmácias. No Toural, o lugar onde quase tudo se
decidia em Guimarães, coexistiam várias dessas tertúlias, em geral vocacionadas
para a discussões políticas. Uma delas era versada em futebol. Acontecia na
Chapelaria Macedo, então de portas abertas no mesmo edifício onde hoje está o
Café Milenário. O seu proprietário, António Macedo Guimarães, entusiasta e
profundo conhecedor das artes do pontapé na bola, tinha-se tornado no mentor
dos jovens que se interessavam por aquele desporto dificílimo. Conta-se que, em dias de loja fechada, domingos e
feriados, muitas vezes à volta de petiscos, ali se reunia um grupo que
conversava sobre futebol e escutava os ensinamentos do senhor Macedo. Diz quem
tem memória para o dizer, que o berço do Victoria
Sport Club foi a Chapelaria Macedo. O chapeleiro seria o seu primeiro
presidente.
Não sabemos
como foi constituída a primeira direcção ou comissão instaladora do Vitória,
mas é sabido que cooperaram com António Macedo Guimarães no lançamento do clube
o então alferes José Vieira Campos de Carvalho, Luís Filipe Gonçalves Coelho,
António Emílio Pereira de Macedo, Luís Gonzaga Leite e Avelino Augusto de
Araújo Dantas. A primeira notícia da existência do Vitória Sport Clube apareceu
no jornal Ecos de Guimarães do dia 17
de Dezembro de 1922, que anunciava:
Realiza-se hoje, pelas 14 horas, no Campo da Atouguia, um “match” entre o “Vitória Sport Club de Guimarães” e o “Maçarico Sport Club” da Póvoa de Varzim que segundo se diz promete ser interessante. |
Naquele domingo,
a expectativa era grande. O público acorreu em grande número à Atouguia. Porém,
em vez do anunciado Maçarico poveiro, apareceu uma selecção de jogadores de
todos os clubes da Póvoa de Varzim, que o Ecos
de Guimarães descreveria como muito
estropiada. Poderia ser, mas venceu o jogo por 4-1.
Até ao mês
de Abril de 1923, o Vitória disputaria quatro jogos, com o Académico Foot-Ball
Club, de Guimarães, com a equipa do Regimento de Infantaria 20, com o Sporting
Club de Braga, com uma Selecção Vimaranense. O saldo seria pouco animador: três
derrotas, um empate.
A primeira
vitória aconteceria no dia 27 de Maio de 1923. Para esse dia estava previsto um
jogo com o Grupo Excursionista do Boavista Foot-ball Club, do Porto, que não compareceu.
Em seu lugar, o Vitória recebeu o “Onze Vermelho” do Sporting de Braga e o
resultado seria uma copioso 7-1. O clube de Guimarães apresentou-se com uma
equipa formada por Mário; Pimentel e Pontes; António, Evaristo e Pereira;
Costa, Belmiro, Artur, Adriano e Mendes Martins. Artur, que marcou cinco golos,
foi considerado o melhor jogador em campo. Os restantes golos do Vitória saíram
dos pés de Adriano. O árbitro foi o fundador do clube vimaranense, António
Macedo Guimarães.
Ponte sem rio, sé sem bispo, Vitória sem
campo…
Guimarães já
tinha o clube que lhe faltava. Mas o Vitória não seria o único. Por aqueles
dias, quase não havia mês em que não aparecesse um novo grupo desportivo: o
grupo do RI 20, o Académico, a Escola Académica, o Colégio Académico, o União,
o Alegria, o Atlético, o Vasco da Gama, os Caçadores das Taipas e, em Vizela, o
Portuguesito, o Estrela, o Sport. Como dizem as nossas gentes, não há fome que não traga fartura.
Em Guimarães
havia entusiasmo à volta do futebol, havia clubes, havia equipas, havia público
entusiasta. Mas persistia uma dificuldade paralisante: faltava um recinto
adequado à sua prática. O vasto terreiro fronteiro ao cemitério municipal, usado
como campo de futebol há mais de uma década, não era seguramente o sítio mais
propício para encontros ruidosos, festivos e, tantas vezes, turbulentos, como
costumavam ser os desafios de futebol. Na imprensa, as queixas repetiam-se. Que
deixassem dormir os mortos. O Campo do Salvador (hoje de S. Mamede), no Cano,
chegou a ser aventado como alternativa, mas nunca passou de hipótese.
O jornal
republicano A Razão, um dos que mais
alto se ergueram em defesa da causa
do desporto em Guimarães, avançou, num dos seus primeiros números, de 13 de
Fevereiro de 1923, com uma ideia engenhosa:
Estão para breve as festas da cidade. Porque
não serão elas abrilhantadas, como em quase toda a parte, com um concurso
hípico? Não seria um divertimento interessantíssimo e que chamaria à nossa terra,
muitos e muitos forasteiros? E o recinto onde se desse este concurso hípico,
não se poderia facilmente transformar num belo campo de jogos?
A sugestão,
que fazia todo o sentido, por se inspirar na tradição das antigas feiras de S.
Gualter, especializadas em gado cavalar, seria assumida pela organização das
Gualterianas desse ano. Para a sua concretização foi preparado um espaço
adequado, situado ao cimo dos Palheiros, que homenagearia um distinto sportman vimaranense, o cavaleiro José
Martins de Queirós Montenegro (Minotes),
falecido em 1906. Do Hipódromo José
Minotes, das Gualterinas de 1923, com as necessárias adaptações, nasceria o
Campo de futebol do Vitória, empreendimento assumido pelo Capitão Fraga, por João
Rodrigues Loureiro e por Alberto Teixeira Carneiro, o proprietário do terreno.
A inauguração do Campo José Minotes, abrilhantada pela banda do RI 20,
aconteceu no dia 27 de Janeiro de 1924, com um jogo entre o Vitória e o
Sporting de Braga, com o pontapé de saída simbólico a ser dado por Júlia Jordão,
que terminaria com uma vitória dos bracarenses por quatro bolas sem resposta.
Mas o Campo
José Minotes teria vida curta. Na sua edição de 5 de Outubro de 1924, o Ecos de Guimarães anunciava:
Guimarães está outra vez sem campo de jogos.
As razões por que o seu proprietário se viu
forçado a demolir as bancadas e vedação, são algo complicadas e portanto não
queremos entrar em detalhes.
Novamente
sem campo de jogos, a direcção do clube não baixaria os braços na procura duma solução.
Designou-se um grupo de trabalho, procuraram-se apoios, encontraram-se
financiadores, criaram-se as infra-estruturas. No dia 7 de Junho de 1925, a
banda do RI 20 abrilhantaria novamente a inauguração de um campo de futebol, o
Campo da Perdiz, belamente situado num
dos pontos mais bonitos da cidade. O programa contou com dois jogos de
futebol, um entre as segundas categorias do Vitória e do Famalicense, que
terminou empatado (3-3), e outro entre as primeiras categorias dos mesmos
clubes, de que saiu vencedor o Vitória (2-1). Estava resolvido o problema do
recinto desportivo, mas outro iria surgir: a utilização do Campo da Perdiz cedo
se revelou demasiado onerosa para os frágeis cofres do clube.
Da cisão à reunificação
Entretanto,
no final de Junho de 1924, anunciara-se a criação de um novo clube, que projectava
constituir-se como um grupo onde todos os
ramos do sport tenham a sua prática. Nascia o Atlético Sport Clube, em
resultado de uma cisão no Vitória Sport Clube, onde se tinham formado duas
correntes com visões distintas quanto à vocação da agremiação: uma que apostava
quase exclusivamente no desenvolvimento do futebol, outra mais ecléctica, que
defendia que o clube deveria alargar a sua actividade a outras modalidades. O
Atlético é obra desta última corrente. Durante a sua existência, que seria breve,
privilegiaria outros desportos, como o ciclismo e o atletismo, a par do futebol.
As relações
entre o Vitória e o Atlético seriam marcadas por uma rivalidade acirrada, onde
não faltavam argumentos de carácter político: a certa altura, percebe-se que o
Vitória era identificado com os republicanos, enquanto o Atlético era conotado
com os monárquicos. Curiosamente, quando estas supostas simpatias partidárias afloraram
nos jornais, o Atlético era presidido por um republicano, Heitor da Silva Campos,
enquanto que o Vitória tinha à sua frente um defensor da causa monárquica, Afonso
da Costa Guimarães…
Para alguns,
a rivalidade entre os dois clubes teria sido virtuosa: ao estimular a emulação
e a competição entre ambos, teria dado um contributo significativo ao progresso
do desporto em Guimarães. Mas o tempo fez com que se impusesse a ideia de que a
competição não deveria ser travada dentro de portas, mas dirigir-se contra os
adversários externos, começando a falar-se na fusão entre os dois clubes, que
acontecerá no início de 1926. As assembleias gerais do Vitória, em 8 de
Janeiro, e do Atlético, cinco dias depois, aprovaram a fusão dos dois clubes,
agregando as mais-valias de cada um. O Vitória tinha campo de jogos, mas não
tinha sede; o Atlético tinha sede, mas não campo de jogos. O novo clube teria
sede e campo de jogos. Por breves momentos, chamou-se Foot-Ball Club de
Guimarães, para depois assumir a designação de Sport Club de Guimarães, que
manteria por escassos meses. O ano não terminaria sem que regressasse definitivamente
à designação original: Vitória Sport Clube.
Dentro das quatro linhas
Do ponto de
vista desportivo, os primeiros anos do Vitória Sport Clube estiveram longe de
ser heróicos. É certo que, no cômputo geral, averbou menos derrotas do que
vitórias, mas estas aconteciam, por regra, com equipas pouco competitivas. O
saldo dos seus confrontos com clubes como o Braga ou o Famalicense era
francamente negativo.
Em Outubro
de 1923, anunciara-se que o Vitória tinha pedido a sua adesão à Associação de
Futebol de Braga, fundada em 1922, com o propósito de participar no campeonato
distrital. A primeira participação aconteceria na época de 1923-1924, edição em
que todos os jogos decorreram em Braga, durante o mês de Novembro de 1923. A
participação do representante de Guimarães seria atribulada. No primeiro
desafio, contra o Sport Club de Braga, realizado no dia 4, o Vitória jogou com um
elemento a menos porque, por equívoco, a equipa apenas tinha levado consigo dez
equipamentos e o árbitro não permitiu que um jogador entrasse em campo sem
estar uniformizado regulamentarmente. Venceram os de Braga, por 2-1. Uma semana
depois, no segundo jogo, contra o Sporting de Braga, o Vitória seria derrotado
por falta de comparência. O camião que transportava a equipa avariou a meio do
caminho, ao chegar às Taipas. Ainda chegaria a Braga, mas a derrota já estava decretada
pelo árbitro. A pedido do público, naquela tarde ainda se disputaria um jogo de
exibição entre os dois clubes. Na terceira jornada, o Vitória jogou desfalcado
contra o Triunfo de Barcelos, averbando terceira derrota, por 2-1. No ano
seguinte, as coisas correriam mais de feição aos alvinegros de Guimarães, que
alcançariam o 2.º lugar no campeonato distrital. Mas aqueles eram, e
continuariam a ser, tempos de hegemonia do Sporting de Braga.
Bem melhor
seria a prestação da equipa de infantis do Vitória, que se sagrou campeão
distrital na sua segunda participação na competição, na época de 1926-1927. A
finalíssima aconteceu a 23 de Janeiro de 1927, no Campo da Perdiz. Nesse jogo o
Vitória alinhou com Teles; Claro e Firmino (cap.); Almeida, A. Freitas, Sousa;
Branco, Virgílio, Ribeiro, Adelino e Ferreira. Segundo o cronista do Ecos de
Guimarães, o jogo desenvolvido com
energia e entusiasmo, prendeu a assistência, que seguia atenta as jogadas
desenvolvidas. Triunfou o que devia triunfar: o Vitória, que dominou o
adversário de princípio a fim, duma maneira nítida, que não deixou lugar a
dúvidas. Um golo solitário marcado pelo half
centro, A. Freitas, assegurou ao Vitória a sua primeira conquista.
Por aqueles
dias, parecia que os ventos corriam de feição para que o Vitória passasse a
lutar em pé de igualdade com o seu principal rival, o Sporting de Braga,
disputando-lhe a supremacia distrital, até aí incontestada. A fusão com o
Atlético conferia-lhe mais robustez, o campeonato conquistado pelos infantis acrescentava-lhe
um suplemento de ânimo, de ambição e de confiança no futuro.
Porém, a
história dos anos que se seguiram seria bem diferente. Entre 1927 e 1932, o
Vitória Sport Clube atravessou o deserto.
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