Subsídios para a compreensão do conflito entre Braga e Guimarães (8)

O Formigueiro, jornal vimaranense (1879-1882)
Como já se disse no texto anterior, as queixas de Guimarães quanto à administração distrital e às vantagens que dela tirava a cabeça de distrito, Braga, eram antigas quando no dia 28 de Novembro de 1885 explodiu no Minho um barril de pólvora que derrubaria um governo. Os argumentos dos vimaranenses prendiam-se com o muito que tinham que contribuir para o orçamento distrital e o pouco, ou nada, que recebiam em troca. A tutela de Braga era encarada como um estorvo ao progresso de Guimarães. O essencial do argumentário das gentes de Guimarães aparece num texto publicado no dia 19 de Dezembro de 1880, no jornal O Formigueiro, que aqui se reproduz:

A nossa emancipação da tutela de Braga
É um dever sagrado do cidadão procurar por todos os meios ao sou alcance o bem-estar da terra que lhe foi berço, e se todas elas precisam do braço e da energia desses heróis duma causa santa — Guimarães é a que precisa mais deles.
A causa é conhecida e torna-se prolixo apontá-la de novo. Uma política cheia de compromissos e facciosismo, a que deu lugar a péssima gerência dos assuntos inerentes à cidade, a malquerença, e, quase se pode dizer, a guerra aberta que existe entre Braga e Guimarães, e finalmente um culpável desleixo que tem havido por dom de natureza ou por despeito da parte dos habitantes desta última, eis o motivo porque actualmente esta cidade está num atraso incompatível com os foros de que goza e a posição que tem — e porque Braga semelha para com ela a lapa agarrada ao penedo — um verdadeiro cancro que nos vai minando e sugando entretanto encontrar que.
Quando há tempo se reuniram alguns cavalheiros na casa da câmara a convite da mesma, para se combinar a maneira de conseguir uma receita de alguns contos de réis, um respeitável cavalheiro — o sr. conde de Margaride — discursando sobre os embaraços que nos causam as repetidas reclamações de dinheiro para a capital do distrito, lembrou a conveniência de se trabalhar na nossa emancipação da custosa tutela do distrito de Braga, fazendo as considerações que achou mais judiciosas e mais adequadas.
São destes os heróis que mais precisamos. Quem abandone a cadeira de braços em que esteja convenientemente repoltreado, os gozos da vida, para se entregar do corpo e alma ao estudo dos melhoramentos da sua terra, é o que nas circunstâncias actuais tem jus ao apreço público e ao nome de beneméritos.
Não ignoramos as dificuldades com que s. exa. tem a lutar, se meter ombros à empresa, como é de esperar, porque para o conseguir é preciso influir nas altas regiões do Estado, pois que se tem de modificar a lei competente: mas também não ignoramos que isso é possível, e que é a primeira coisa que tem a fazer-se quando se pretenda abrir caminho na estrada dos melhoramentos locais.
O concelho de Guimarães não pode aumentar-se, repetimo-lo, e Braga é o primeiro e principal estorvo que ele encontra, por serem enormes as somas com que temos de ir ajudar-lhe a sua prosperidade.
Guimarães dá a Braga o que não daria ao Porto se se conseguisse a mudança da tutela. Ser-lhe-ia de maior conveniência e poderia então aumentar-se, se o concelho fosse anexo ao distrito do Porto, em tudo e por tudo, apesar de alguns indivíduos o não julgarem assim.
Tente s. exa. a empresa, e mais tarde, depois de realizada e quando já os actuais timoratos estiverem convencidos do seu erro, s. exa. ouvirá bendizer o seu nome, por nos livrar duma tutela que nos come quantos cinco réis temos.

O Formigueiro, 19 de Dezembro de 1880

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