Rua de Gil Vicente, onde funcionou o Club Comercial Vimaranense |
6 de Setembro de 1904
A direcção do Clube Comercial Vimaranense, vendo que a casa onde tinha a
sede estava alugada a outro inquilino; que o Clube estava de há bastante tempo
falto de concorrência, o que fazia ter poucos recursos; os sócios
constantemente a demitirem-se: resolveu convocar uma assembleia-geral
extraordinária para o dia 13 do corrente a fim de resolver sobre a sua
liquidação. Os membros da direcção eram: presidente, dr. Gaspar de Abreu Lima;
directores: Álvaro da Costa Guimarães, António Lopes Martins, Augusto de Sousa
Passos, Emiliano Abreu, Francisco António Alves Mendes, Guilhermino Barreira,
Manuel Bernardino Ferreira e Manuel José de Carvalho; conselho fiscal: dr.
Joaquim Lopes de Oliveira, José Fernandes da Costa e Rodrigo de Sousa Macedo. O
conselho fiscal assistiu em 23 de Março de 1904 à sessão da direcção em que
esta lhe expôs a má situação financeira em que o Clube se achava, e foi
resolvido por uns e outros convocar uma assembleia geral extraordinária para
lhe fazer a mesma exposição, a fim de a assembleia deliberar sobre a solução
que melhor conviesse. Foi a última sessão da Direcção.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
III, p. 233)
Na tarde do primeiro dia de Junho do ano luminoso de 1884, um grupo de
caixeiros de Guimarães reuniu-se e decidiu avançar com a criação de um clube,
com propósitos de beneficência, instrução
e recreio honesto. No dia 4 de Janeiro do ano seguinte, juntaram-se, numa
casa do Toural, 34 indivíduos da classe
comercial, com o propósito de instalar uma sociedade
de instrução e recreio, privativa da mesma classe, a qual, por unanimidade,
deliberam se denomine "Club Comercial Vimaranense", tendo sido nomeada uma
direcção provisória com a missão de preparar os respectivos estatutos, que
seriam aprovados a 12 de Abril, foram aprovados o estatutos e obtiveram
chancela legal no início de Julho. A sessão inaugural da associação aconteceu
no dia 4 de Outubro de 1885.
O Club
Comercial instalou-se numa casa da rua de Gil Vicente, pertencente a Manuel
António de Almeida, onde funcionava a fábrica de fundição e cutelarias a vapor.
Na reportagem da inauguração publicada no Comércio
de Guimarães encontramos uma descrição da sede da agremiação:
No átrio, que é espaçoso, singelo e elegante e que se achava com bandeiras,
plantas e plintos, dentro de uma bem cortada casaca, num aprumo irrepreensível,
único, com toda a pose de que era susceptível, estava um contínuo que delicadamente
recebia as bengalas e os chapéus.
Subida a escada que conduz ao andar nobre, entramos numa sala destinada
às sessões e bailes que não desdiz da singeleza e elegância do átrio. É uma
sala grande, convenientemente mobilada e muito própria para o fim a que é destinada.
Na cabeça da sala estava a mesa para a direcção, ao fundo, o lugar para a orquestra,
e aos lados as cadeiras para a presidência, convidados, imprensa, etc., etc.
Desta sala entramos em um gabinete contiguo, destinado a diferentes
jogos, e passamos a um corredor que dá comunicação a todas as dependências.
Visitamos ainda os gabinetes da biblioteca, da leitura, ambos contíguos
e ao lado da rua. Do lado oposto fica a sala do bilhar que é espaçosa e
convenientemente alumiada.
Depois dos
discursos da praxe, uma orquestra composta por músicos da banda do 20 de
Infantaria executou, pela primeira vez, o Hino do Club Comercial, composto pelo
regente da banda do regimento, Ramos de seu nome. Seguiu-se um baile, animado
pela mesma orquestra, que durou até às 7 da tarde.
No dia 10
de Outubro, o Religião e Pátria falava
da nova associação dos profissionais do comércio vimaranense:
O dia 4 de Outubro de 1885 tem de ficar memorável nos fastos desta
cidade por ser aquele em que foi inaugurado o clube comercial de Guimarães,
dando-se assim mais um passo no caminho da civilização e do progresso.
Foi solene a abertura desta nova agremiação, composta na sua maior
parte de indivíduos pertencentes à classe de caixeiros, que ali devem encontrar
um passatempo recreativo e instrutivo, desviando-se desta sorte de outros divertimentos
mais perigosos e menos convenientes.
Ali podem encontrar a par da mútua e franca convivência, e de honestas
recreações nos jogos lícitos, variada e sólida instrução na leitura de bons
livros reunidos na sua biblioteca, ainda na verdade em começo, mas que é de esperar
vá em progressivo aumento.
Nos tempos
que se seguiriam, a actividade do Club Comercial seria intensa, quer como
espaço de convívio e cultura, quer como local de diversão. Os seus bailes e as
suas palestras eram muito concorridos. Mas o Club Comercial também tinha voz activa em defesa dos interesses do
Concelho de Guimarães.
Menos de
dois meses depois da instalação do Club,
no dia 28 de Novembro, rebentava o
conflito brácaro-vimaranense. No dia seguinte, reunia a sua direcção em sessão extraordinária,
participando no desagravo dos três procuradores de Guimarães à junta distrital,
onde se lê:
A
Direcção do Club Comercial Vimaranense, sabendo do modo vergonhoso, vil e
indecente de como foram tratados ontem em Braga os Exmos. Senhores Conde
Margaride, José Martins de Queiroz Montenegro e Dr. Joaquim José de Meira, que
na qualidade de procuradores à Junta Geral do Distrito, não só defenderam os
interesses do concelho que mui dignamente representam, mas também o de todo o Distrito,
não consentindo que se aumentasse a despesa a fazer com a criação de duas
cadeiras para o liceu.
Uma das
linhas de intervenção do Club Comercial Vimaranense
era a da defesa dos interesses profissionais dos seus sócios, em especial
no que tocava aos horários de trabalho. No início de 1889, a direcção decidiu
pedir aos comerciantes que passassem a fechas as suas lojas aos domingos, a
partir das 2 horas da tarde, para que os caixeiros pudessem passar a ter algumas horas de passeio. No primeiro
domingo de Fevereiro, a maior parte dos comerciantes já correspondiam ao
solicitado, dando liberdade aos seus
caixeiros. E o Religião e Pátria aplaudia
essa decisão:
Andaram muito bem. A liberdade excessiva é má; no caso de que se trata
é boa, porque é limitada.
Ainda nesse
ano, o Club Comercial Vimaranense haveria de reunir em assembleia geral para
tratar do envio de uma representação à Câmara dos Deputados, solicitando que
fosse aprovada uma leis que obrigasse os chefes comerciantes a encerrarem os
seus estabelecimentos nos dias santificados.
Com o
passar dos anos, a actividade do Club foi esmorecendo. Até que, no dia 6 de
Setembro de 1904, a sua direcção reuniu pela última vez, para tratar da
liquidação da associação. Ficou a poucos dias de completar duas décadas de
existência.
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