Efeméride do dia: Chamava-se Manuel Dias da Silva, de Guimarães, e Coimbra até decidiu dar o seu nome à rua da Sofia



5 de Setembro de 1910
Faleceu em Coimbra o nosso ilustre conterrâneo dr. Manuel Dias da Silva, distinto lente catedrático da Faculdade de Direito. Nasceu na Casa das Pedras, em Santa Cristina de Longos, do concelho de Guimarães, a 1 de Agosto de 1856, recebeu o grau de doutor em direito a 19 de Junho de 1887. Foi sepultado no cemitério da dita freguesia de Longos.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 230 v.)

O primeiro jornal a dar a notícia em Guimarães foi o Restauração, no dia 10 de Setembro de 1910: após dolorosos e prolongados sofrimentos, faleceu em Coimbra o snr. Dr. Manuel Dias da Silva, ilustre catedrático da Faculdade de Direito. A nota necrológica não indica a data do falecimento. O Comércio de Guimarães publicará, no dia 16, uma curta nota, em que informa ter falecido há dias, o snr. dr. Manuel Dias da Silva, lente da faculdade de Direito na Universidade e natural da freguesia de Santa Cristina de Longos. O Independente dará na sua edição do dia 17, acrescentando que o óbito havia ocorrido na segunda-feira da passada semana. Manuel Dia da Silva faleceu no dia 5 de Setembro de 1910. O atraso com que a notícia chegou ao conhecimento dos leitores dos periódicos vimaranenses revela que era uma figura quase esquecida na sua terra natal. E esse esquecimento manteve-se ao longo das décadas, como se pode constatar no Catálogo da Exposição Bibliográfica de Autores Vimaranenses, elaborado em 1953 por Alberto Vieira Braga e Mário Cardozo, onde há uma entrada com três obras de Manuel Dias da Silva, mas os seus autores não tinham a certeza de que o escritor fosse de Guimarães, indicando que é dado como vimaranense pelo Abade de Tagilde.
Praticamente ignorado na terra onde nasceu, Manuel Dias da Silva era bem conhecido na terra que o viu morrer. Lê-se na nota cronológica do jornal Restauração:
A cidade de Coimbra deve-lhe grandes serviços. Os pobres perderam nele um desvelado protector e amigo. Por isso a sua morte foi muito sentida. Vários estabelecimentos cerraram meias portas e a câmara municipal hasteou a sua bandeira em sinal de luto.
Manuel Dias da Silva era um prestigiado professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde regia a 16.ª cadeira da sua Faculdade (processos especiais, civis e comerciais, processo criminal e prática judicial, disciplinas do 5.º ano). Entre os seus alunos, tinha fama de austero mas justo. Foi redactor efetivo da Revista de Legislação e Jurisprudência e presidente da Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra.
A par das actividades docentes e científicas, Manuel Dias da Silva foi provedor da Misericórdia de Coimbra nos anos de 1891 e 1892. Na viragem do século, era ele o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, cargo que exerceu em dois mandatos, entre 1899 e 1904. Durante os seus exercícios, procedeu-se a importantes melhoramentos na cidade e à municipalização de diversos serviços públicos. A cidade reconheceu a relevância da sua obra. Quando abandonou funções, em 1904, foi homenageado, sendo condecorado pelo governador civil com a Grã-Cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. A Câmara seguinte, decidiria, logo em 1905, dar o seu nome à artéria mais emblemática de Coimbra, a rua da Sofia.
Manuel Dias da Silva, era natural de Santa Cristina de Longos, onde nasceu no primeiro dia 1 de Agosto de 1856. Os seus pais João Dias da Silva e Antónia Joaquina da Cunha, eram lavradores proprietários. Fez os estudos preparatórios no Liceu de Braga, ingressando em seguida no seminário daquela cidade, onde seria ordenado no ano de 1979, ao mesmo tempo que leccionava no Colégio Académico. No mesmo ano, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se com distinção em 1885. Dois anos depois, no dia 19 de Junho de 1887, recebeu o grau de doutor pela Universidade de Coimbra.
Um dos seus alunos, o vimaranense Alfredo Pimenta, então jovem advogado instalado em Matosinhos, traçaria o perfil do mestre, áspero mas justo, e do homem bondoso e modesto, numa carta de condolências que dirigiu ao reitor da Universidade de Coimbra o dia 7 de Setembro de 1910:
Sobre o seu feitio rude, sob aquela máscara de traços grosseiros e fortes, sob aquela voz monótona e falha de atractivos, abrigava se um coração humano, impressionável, sensibilizável até ao extremo que desejariam e precisariam de possuir muitos dos que têm falas doces e amaneiradas e são tidos o havidos por afectivos.
Como professor, nunca me fez favores, que nem eu seria capaz de lhos pedir, mas tive em Dias da Silva um amigo, como raríssimas vezes poderemos encontrar (como certamente, jamais encontrarei) tão natural e evidente o sou desinteresse, tão clara a sua lealdade.
Conservo religiosamente uns pares de cartas suas.
E os seus conselhos, os juízos que formula, as suas palavras de incitamento e mesmo as leves e bondosas com que julgou digno de corrigir-se o meu feitio — tudo isso eu leio agora com saudade e com amor.
Manuel Dias da Silva faleceu quando acabara de completar 54 anos de idade. As suas exéquias fúnebres realizaram-se na igreja da Sé Velha de Coimbra, em que a cidade se despediu do seu prestantíssimo cidadão. Os seus restos mortais seriam conduzidos para a sua terra natal, sendo dado à terra no cemitério paroquial de Santa Cristina de Longos. Junto à sepultura, usaram da palavra Junto da sepultura discursaram Guilherme Alves Moreira, em nome da Faculdade de Direito, Sílvio Pelico, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Francisco José de Sousa Gomes, em nome da Universidade e da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, Álvaro Vilela, em nome da Redacção da Revista de Legislação e Jurisprudência e José Maria Braga da Cruz, estudante de Direito (que, nas legislativas de 1921, seria um dos dois deputados eleitos pelo Centro Católico, em representação de Braga, sendo o outro António de Oliveira Salazar, pelo círculo de Guimarães).

A Câmara Municipal de Coimbra que, no dia 1 de Janeiro daquele ano, decidira revogar a decisão de renomear a rua da Sofia com o nome do seu antigo presidente, deliberou, na primeira reunião que realizou após a sua morte, que a artéria que se estava a rasgar entre o Convento de Santa Teresa e Santo António dos Olivais, abrangendo toda a antiga rua da Cumeada, se designasse Avenida Dias da Silva e colocar nos Paços do Concelho um busto do extinto.

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