Efeméride do dia: Como da "estúrdia" de surradores e curtidores nasceu a peregrinação

Peregrinação da Senhora da Penha, cerca de 1900 (fotografia de Emílio Biel)
8 de Setembro de 1887
Os artistas de curtumes vão em romagem à Penha, instituíram esta romaria anual (que em 1893 passou a ser peregrinação) e continuam a fazê-la nos anos seguintes, deixando de ir como costumavam à de Nossa Senhora do Porto de Ave. Saíram às 10 horas, levando o seu rico estandarte, com danças e caprichos costumes. Às 3 da tarde chegaram lá o “Capitão Machado”, o conselheiro Madeira Pinto e os dois viscondes do Paço de Nespereira e pouco depois o Conde de Margaride. O António José Ferreira Caldas ofereceu-lhes lauto jantar.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 238 v.)

Dizem as notícias que o santuário da Penha acolheu no dia 8 de Setembro de 2013, a 120.º peregrinação anual. A efeméride foi assinalada como um marco histórico, com bênção papal e indulgência plenária aos peregrinos concedida pelo Papa Francisco. No entanto, esta peregrinação não começou, ao contrário do que lemos em diversas partes, no ano de 1894.
Em meados do século XIX, a grande romaria do Baixo Minho da primeira metade de Setembro era a da Senhora do Porto de Ave, em Taíde, Póvoa de Lanhoso, cujo dia maior era o 8 de Setembro. Todos os anos, eram muitos os romeiros que passavam por Guimarães, em alegres caravanas. Na noite do dia 7, a do fogo, formava-se um largo arraial, que oferecia os mais joviais divertimentos. Quem não lá faltava eram os artistas e operários dos curtumes de Guimarães, que, segundo uma antiga tradição, cuja origem não conseguimos datar, ali iam sempre com alegres folias e festanças, e que, segundo o Religião e Pátria de 10 de Setembro de 1879, teria sido renovada nesse ano, apresentado-se os surradores e curtidores de Guimarães em costumes esquisitos, com danças e tocatas sui generis. Era a célebre estúrdia da rua de Couros, decorrente de uma antiga posse, que levava grande animação à romaria dos bifes e dos melões.
No início da década de 1880, os vimaranenses empenhavam-se no melhoramento da estância da Penha, que pretendiam transformar na Sintra de Guimarães. Em 1881, os artistas da rua de Couros, movidos por um sentimento patriótico, decidiram deixar de ir à romaria de Porto de Ave com a sua rusga que, sempre e por muitos anos atraiu, à romaria de Nossa Senhora do Porto de Ave muitos romeiros, passando a ir à romaria da Penha de 16 de Julho, em honra da Senhora do Carmo.
Nesse ano, a romaria anunciava-se mais atraente, onde iriam participar, segundo o Imparcial de 15 de Julho, os pândegos filhos do trabalho, que vão da rua de Couros com a sua serenata, e da mesma sorte que costumam apresentar-se na Senhora do Porto. Depois da festa, o mesmo jornal descreverá a festa como relativamente pomposa, informando que nunca se vira ali tão alegre e animado como neste ano, o arraial, pela extraordinária concorrência de talvez mil pessoas aproximadamente. E conclui:
De resto, e como aonde há muita gente não faltam cascos a despejar, e se o calor é muito, muito se bebe e mais quente e esquentado se fica, não admira que houvesse quigilas e coisas e daí algumas charrafuscas, que não desordens, posto que o sangue talvez com o vinho corresse pela testa abaixo do um ebriozito, a quem decerto algum marmeleiro apalpou deveras a cabeça
Imparcial, 22 de Julho de 1881
A participação do divertimento dos artistas da rua de Couros não terá corrido de acordo com o esperado, pelo que decidiram continuar a ir à romaria de Porto de Ave, como se percebe pelo comunicado que fizeram publicar logo a seguir:
Trata-se de organizar uma nova comissão para levar a estúrdia da rua de Couros à Senhora do Porto de Ave, visto que ela foi tão mal sucedida na Penha, como se viu. Esta nova comissão deseja mais uma vez mostrar ao respeitável público que a Senhora do Porto de Ave é a que mais direito tem a este antigo foro, chamado rusga, e demais todos sabem o bom acolhimento que aquele lugar lhe têm feito e a paz, sossego e boa ordem com que tem entrado e saído a súcia galheira na sua terra natal.
Pede-se pois à rapaziada que conserve os seus instrumentos cabaçudos e as suas casacas de aba de peneira para mais uma vez irem colher as palmas que os nossos antigos plantaram nas margens do Porto de Ave, que a Virgem do mesmo título continuará a ser a sua protectora.
Formigueiro, 24 de Julho de 1881
Nesse ano, a romaria da Senhora do Porto de 8 de Setembro foi molhada. Porém, como escreveria o Religião e Pátria:
Apesar da chuva que caiu, foi bastante gente desta cidade à romaria da Senhora do Porto, atraída talvez pelos artistas de rua de Couros, que também ali foram, como nos anos anteriores, com a sua música de calondros, vestidos com trajes carnavalescos e precedida duma dança de aldeia com a competente tocata.
Religião e Pátria, 10 de Setembro de 1881
Nos anos que se seguiram, a Estúrdia da rua de Couros, com a sua desafinada filarmónica e a sua bem organizada dança aldeã, continuou a ser uma das atracções da romaria da Senhora de Porto de Ave.
Em 1885, por exemplo:
Não faltaram lá também os nossos artistas dos curtumes, como de costume, com os seus descantes e folgares um pouco carnavalescos, e regressaram ontem de tarde. Quando vinham aos Capuchos deu-se ali uma pequena desordem, sem importância por terem, dizem, atirado repuxadas de água quente sobre eles, e lançado fogo a uma palhoça com que um dos foliões se cobria. No fim de contas, tudo aquilo era folia, e ainda a pequena desordem o foi também.
Religião e Pátria, 9 de Setembro de 1885
Em 1886, foi criada Comissão de Melhoramentos da Penha. Trabalhava-se com entusiasmo para a transformação da montanha se Santa Catarina na Sintra de cá ― título de uma notícia do periódico vimaranense A Época, onde se lia:
Uma montanha belíssima em que uma vegetação admirável se expande livremente; um local esplêndido  elevado, dominando largos horizontes e tendo a seus pés como uma odalisca indolentemente reclinada a Araduca de outrora, a moderna Manchester portuguesa; e ainda para brilhante cúpula de tantas belezas a engrinaldá-la, tradição religiosa que o tempo não destrói faz com que à Penha, à nossa Sintra esteja reservado um magnificado futuro. Se o povo de Guimarães se compenetrar que para a realização deste último termo só é necessário um bocadinho de boa vontade e um pouco de energia.
A Época, 7 de Setembro de 1886
No ano seguinte, os curtidores e surradores da rua de Couros retomam a ideia de 1881. Provavelmente porque o primeiro ensaio não foi bem sucedido, em vez de se integrarem na romaria de 16 de Julho, decidiram subir a Penha no mesmo dia da romaria de Porto de Ave, 8 de Setembro, criando uma segunda romaria na Penha, como se percebe de uma nota inserida, em meados de Agosto de 1887, no Comércio de Guimarães e no Religião e Pátria
Consta que os artistas da rua de Couros tencionam ir à Penha no dia da romaria da Senhora do Porto, com o costumado divertimento e trajes curiosos.
Bom é que todos se interessem pelo engrandecimento deste local, e oxalá que estes filhos do trabalho levem a efeito tão feliz lembrança.
Será uma segunda romaria.
No dia 25 de Agosto, O Comércio de Guimarães retomava o assunto, informando que os industriais de curtumes fizeram questão de se associar à iniciativa dos seus trabalhadores, oferecendo à Virgem da Penha um sino que pertencera à basílica de S. Pedro do Toural e que tencionavam comprar ao seu proprietário de então, que o tinha em duas traves no meio de um Campo em Roriz. Abriram uma subscrição e mandaram uma comissão a Roriz para tentar a transacção. Não foi possível, porque o proprietário exigiu 600$000 réis, o que foi considerado excessivo, pelo que decidiram oferecer um outro sino, mesmo que tivesse de ser feito de novo.
Pena foi que o actual possuidor do sino de S. Pedro não acedesse às instâncias da comissão, porque os operários haviam de ouvi-lo quando estivessem nos seus trabalhos.
Brevemente teremos, pois, uma peregrinação à Penha, iniciada pela classe mais importante desta cidade.
Aplaudimos o pio e patriótico pensamento como tudo que concorra para engrandecimento da Penha sem que a asa negra do jesuitismo por lá roce, ou um beatério ignaro intende fazer das suas a pretexto da devoção.
O Comércio de Guimarães, 25 de Agosto de 1887
Mas a Virgem não ficaria sem oferta nesse ano. Não tendo sido possível obter o sino a tempo, foi feito um valioso donativo à Senhora.
No dia 3 de Setembro, o Religião e Pátria incitava os artistas dos curtumes:
Avante, rapazes! Não recueis na vossa louvável lembrança, Com o vosso valioso apoio e de todos ou vimaranenses, a já de si pitoresca Penha tornar-se-á um dos mais aprazíveis locais de Portugal.
Não recuaram. A segunda romaria à Penha daquele ano seria um sucesso. No dia 8 de Setembro de 1887,
Os artistas, levando arvorado o seu rico estandarte, saíram às 10 horas da cidade, com danças e caprichosos costumes. Treparam a pitoresca montanha, como quem bebia um copo de água. No largo do Escrivão eram esperados pela comissão, que, ao avistá-los, levantou entusiásticos vivas aos artistas da rua de Couros.
O Comércio de Guimarães, 12 de Setembro de 1887
Religião e Pátria classificaria como extraordinária a afluência de gente, arrastada pela iniciativa dos homens dos curtumes:
Foi extraordinária, na quinta-feira, a concorrência à nossa deliciosa Penha. Calcula-se que seria igual, se não ainda maior, do que no dia da romaria.
Foram lá, como noticiáramos, artistas de curtumes, em alegre festança, levando arvorado na frente o seu rico estandarte, e foi isto o que ali chamou aquela extraordinária concorrência.
Religião e Pátria, 10 de Setembro de 1887
Estava inaugurada uma nova tradição, que se repetiria nos anos seguintes.
Em 1888 cumpriu-se a intenção de oferecer o sino à Senhora da Penha. Em vez de um, foram quatro sinos bem afinados, mandados comprar no Porto. O , que pesava duzentos quilos; o mi, com o peso de quinze quilos e meio; o fá, com quase cento e cinco quilos e o , com o peso de 85 quilos. Chegaram à estação do caminho-de-ferro no primeiro dia de Setembro, tendo sido recebidos pela respectiva comissão promotora (Bento Nobre, Manuel Luís Carreira Guimarães e José de Oliveira Guimarães) e por uma banda de música. No sábado seguinte, dia 8, foram conduzidos para a Penha, na romaria iniciada pelos homens dos curtumes no ano anterior.
A romaria foi imponente, como se percebe pela reportagem de O Comércio de Guimarães:
Os artistas e industriais de curtumes realizaram no sábado a sua peregrinação à Penha, ofertando à Virgem 4 magníficos sinos que compraram no Porto pela quantia 422$000 réis.
Os sinos estavam colocados em dois carros enfeitados com bandeiras, flores e murta. Ao primeiro carro estavam apostadas 7 juntas de bois com as hastes cobertas de rosas e outras flores, ao segundo 5 juntas.
às 9 horas da manhã, por entre milhares de pessoas, começou a desfilar a peregrinação, na ordem seguinte:
Uma banda de música; três índivíduos a cavalo, com vestuários pitorescos, levando o do centro a rica bandeira que possuem bordada a ouro; os sinos nos dois carros; a charanga composta na sua maior parte de cabaços com guarnições de metal; três indivíduos a cavalo, com trajes esquisitórios levando o do centro a antiga bandeira da classe; uma dança aldeã, composta de duas damas com as barbas muito bem escanhoadas, e de dois mocetões que fariam tremer um ministério, que não estivesse com argamassa; e finalmente uma tocata, composta do instrumentos de cordas, ferrinhos e cantadores. Uma beleza, no seu género.
A peregrinação atravessou as principais ruas da cidade por entre uma enorme multidão, seguindo depois para a Penha, acompanhada de muitíssimo povo, havendo durante o trânsito grande folia e reinação, como se costuma dizer na linguagem dos briosos filhos do trabalho.
Comércio de Guimarães, 10 de Setembro de 1888
Os sinos, que se destinavam à torre-campanário que estava em construção, foram colocados numa estrutura de madeira, sendo logo testados, com a execução de várias peças de música. Os entendidos aprovaram a sua afinação. Apesar de colocados em condições pouco propícias à melhor repercussão do som das suas badaladas, escutavam-se distintamente no Campo da Feira e nos pontos mais elevados da cidade.
A romaria continuou no dia seguinte, domingo, com uma afluência semelhante à do dia 8. O seu sucesso seria estampado nos jornais dos dias seguintes:
Não há memória do se haver reunido tanta gente na Penha, como no sábado passado, por motivo da valiosa oferta dos sinos feita pela briosa classe dos curtidores e pelo aparato com que foram para ali por ela conduzidos e acompanhados.
Religião e Pátria, 12 de Setembro de 1888
No entanto, percebe-se que a iniciativa dos curtidores e surradores de Guimarães não teria caído nas boas graças da Irmandade da Penha, tendo causado grande estranheza o não ter aberto os passos à veneração dos fiéis, no dia 8, consagrado à Natividade da Virgem.
Em 1889, voltou a realizar-se a segunda romaria da Penha, criada pela briosa classe de curtidores há dois anos. Segundo o Comércio de Guimarães, o arranque deu-se às 10 horas da manhã. A abrir o cortejo, ia a charanga de cabaços e a célebre dança aldeã dos artistas dos curtumes. A concorrência de romeiros foi extraordinária, havendo no local 5 pipas do vinho, doces e fruta, que tudo foi lambido. A romaria correu na melhor ordem, registando-se apenas uma zaragata no regresso dos romeiros à cidade, junto do Convento das Capuchinhas, onde o sobreiro e o lodo abriram algumas cabeças e amolgaram algumas costelas.
Em 1890, a segunda romaria da Penha voltou a ser animada pela estúrdia dos curtidores e surradores, com a sua engraçada música e vestidos com os seus galhofeiros trajes, não faltando a clássica dança aldeã com a respectiva tocata. A festa foi participada por uma enorme multidão, não se assinalando perturbações de monta.
No verão de 1891, grassavam na região epidemias de influenza (gripe) e de varíola. No hospital da Misericórdia não havia mãos a medir. Nesse ano, as romarias tiveram uma participação diminuta. A dos homens dos curtumes à Penha não escapou à regra.
Em 1892, a segunda romaria de Nossa Senhora da Penha, feita pelos artistas de curtumes, regressou com todo o seu esplendor. Na noite da véspera, a charanga dos artistas percorreu as ruas da cidade, anunciando a peregrinação do dia seguinte, com a sua música desafinada. Ao romper da aurora, uma salva de morteiros acordou a cidade. Pelas 9 horas, organizou-se o cortejo, aberto pela filarmónica de cabaços, composta pelos artistas que envergavam trajes carnavalescos e encabeçada pelo tambor-mor. Entre outras composições, arremedavam o hino dedicado à classe dos trabalhadores dos curtumes. Seguia-se a bandeira dos curtidores e surradores, de seda branca bordada a ouro, com duas figuras a cavalo a fazerem-lhe guarda de honra. A fechar, uma linda tocata, composta por instrumentos de corda, ferrinhos e cantadores, e a dança aldeã, executada por duas moçoilas com as barbas muito bem escanhoadas, e dois mocetões que fariam tremer um ministério, que era o enlevo do povo.
Segundo O Comércio de Guimarães do dia 12 de Setembro,
A “estúrdia” foi acompanhada de muito povo até à Penha, regressando ao anoitecer, sem o mais leve incidente, o que é para louvar. Os briosos artistas de curtumes divertiram-se, sem ofender a moral pública, vem o bom senso de quem o tem. Criaram uma nova romaria no concelho, que de ano para ano vae aumentando de concorrência, despertando destarte o espírito público para uma das mais belas estâncias do país.
No entanto, havia quem discordasse desta opinião. O jornal Vimaranense do dia 9 noticiava um incidente que terá envolvido um grupo de romeiros e o padre António Monteiro, juiz da Irmandade da Penha, que teria sido agredido por um indivíduo não identificado, e noticiava o arraial da Penha em termos pouco amáveis:
Ontem houve concorrido arraial na serra da Penha. Desta cidade afluíram ali muitas pessoas.
Os artistas de curtumes, dominados ainda da ridícula mania, também foram à Penha trajando uns vestuários de várias cores e feitios — uma perfeita chinfrinada — levando à sua frente alguns indivíduos tocando em desafinados instrumentos, o que tudo formava um conjunto impróprio duma terra civilizada. Uma palhaçada completa.
Censuramos isto, porque nos custa deveras que alguns membros da nobre classe artística façam tão triste figura.
De tudo, o que geralmente agradou foi a dança e a tocata aldeã.
Em resposta, os artistas visados publicariam um comunicado no Comércio de Guimarães do dia 12, em que protestavam por se sentirem altamente desconsiderados, bem como toda a sua classe e muito principalmente os que tomaram parte no inofensivo divertimento, e recordavam:
A origem desta romaria, toda a gente o sabe, deve-se à “estúrdia” que “o Vimaranense” diz ser imprópria duma terra civilizada, e a sua vantagem em concorrer àquela estância está provada na afluência de romeiros que tal divertimento, sempre e por muitos anos atraiu à romaria de Nossa Senhora do Porto de Ave.
As resistências à peregrinação dos curtidores e surradores à Penha no dia 8 de Setembro, tanto por parte do jornal Vimaranense, como por parte da irmandade da Penha ajudam a compreender as razões que terão levado à marcação de uma peregrinação para o mesmo dia do ano de 1893, a propósito da inauguração do monumento a Pio IX, cujo programa foi anunciado no Vimaranense do dia 5 de Setembro:

No dia 8 ao romper da alva uma banda de música, percorrendo as ruas e praças de Guimarães, dirá no meio de suas harmonias a todos os bondosos habitantes desta cidade católica— Inauguração do Monumento a Pio I.
Pelas 4 e meia horas da manhã se celebrará uma missa rezada, comunhão geral na Basílica de S. Pedro, de onde sairá em direcção à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que fica próximo do monumento de Pio IX uma devota peregrinação, na qual tomarão parte os zeladores e associados do Apostolado da Oração e Liga do Sagrado Coração de Jesus, a piedosa Associação das Filhas de Maria, os congregados de Maria Imaculada e os de S. Luís Gonzaga.

Chegada que seja à Gruta, depois de algum descanso, subirá ali mesmo a um púlpito para esse efeito preparado o exmo. e revmo. sr. Padre Bento José Rodrigues, que fará um sermão adequado à peregrinação, findo o qual se cantará a Ladainha.
A peregrinação saindo da Basílica de S. Pedro seguirá pela Praça do Toural (lado norte) rua da Rainha, Oliveira, Senhora da Guia, Campo da Feira e Capuchas, seguida de uma banda de música.
Nesse ano, a estúrdia da rua de Couros apenas sairia no dia 10. A notícia deu-a O Comércio de Guimarães:
Os industriais de curtumes, segundo o voto tradicional e costume, também ali foram no passado domingo com a sua música e uma bem organizada estúrdia.
Já aqui manifestamos a nossa opinião a tal respeito, e de novo e emitimos: - é inofensivo, e o que não ofende deve ser tolerado. Há na estúrdia extravagâncias? Há, talvez  mas em Lisboa, na capital, com o célebre círios, pretinhos de S. Jorge, os afamados pregões do popular José Augusto, etc., há-as muito maiores.
Tanto nesta festa como no domingo não houveram desordens que seja preciso registar.
Honra a todos – passagem a quem trabalha pelo engrandecimento desta terra.
O Comércio de Guimarães, 14 de Setembro de 1893
No pedestal da estátua de Pio IX na Penha, está inscrita a seguinte legenda:
A Pio IX O Grande Pontífice da Imaculada erigiram este monumento a cidade de Guimarães e Católicos portugueses
8-IX-1893
A partir de 1893, a grande peregrinação à Penha passou a ser no dia 8 de Setembro. Este ano aconteceu pela 121.ª vez. No entanto, se fixarmos a sua origem na iniciativa dos curtidores e surradores da rua de Couros de Guimarães, quando decidiram, em 1887, iniciar uma romaria à Senhora da Penha, então a edição de 2013 terá sido a 127.ª.

PS: De qualquer modo, nenhuma destas contas estará certa, uma vez que, ao longo de todo o tempo da sua existência, a peregrinação não se realizou todos os anos. Não tenho essa contabilidade feita, mas sei que, por exemplo, não se realizou em 1918. No dia 8, foi adiada, por causa da chuva, tendo sida marcada para o dia 29, mas também não se realizaria, por causa da epidemia de gripe pneumónica (a maldita espanhola).

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