Efeméride do dia: Visitas de D. Luís I a Guimarães

D. Luís I, escultura da Sociedade Martins Sarmento

2 de Julho de 1872
3ª-feira. - Vindos de Braga, visitam a fábrica de tecidos, em Caneiros, e esta cidade, El-rei D. Luís e seu irmão, o infante D. Augusto, acompanhados pelo ministro da Fazenda, Fontes Pereira de Melo, e pelo ministro das Obras Públicas, entraram às 11 horas e 9 minutos no adro da Colegiada, onde os esperou o Cabido com o pálio e entrando na igreja houve soleníssimo Te Deum oficiado pelo cónego arcipreste, a grande instrumental da capela Lucínio, findo o qual foram para o Paço até às 5 da tarde. O paço onde teve lugar a recepção e o jantar, de tarde, foi na casa de Luís Cardoso Martins da Costa Macedo (depois Conde de Margaride), onde estiveram aposentados; ao fim da tarde visitaram os 3 hospitais da Misericórdia, o quartel, o tesouro, hospital de S. Francisco e igreja e hospital de S. Domingos e igreja e asilo de Santa Estefânia, deixando 4$500 réis para cada lado, e Ordens Terceiras. Às dez horas da noite foram para o teatro. À noite houve uma brilhante iluminação, principalmente a Rua da Rainha, que era onde morava o pai do então deputado por este círculo (dr. Vasco Ferreira Leão) que a fez à sua custa, a primeira iluminação a copos de vidro nesta cidade. Os régios visitantes retiraram às duas horas da madrugada para Amarante.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 6 v.)
O rei D. Luís I visitou Guimarães três vezes. A primeira foi em Maio de 1852, quando tinha 13 anos e acompanhou a rainha sua mãe, D. Maria II. A segunda aconteceria vinte anos depois, no dia 2 de Julho de 1872. Veio na companhia do seu irmão, Augusto e de António Maria Fontes Pereira de Melo, Ministro da Fazenda, além do ministro das obras Públicas. A casa do futuro conde de Margaride, Luís Cardoso Macedo, acolheu a visita régia, tornando-se nesse dia em paço real. à noite, a cidade iluminou-se. A visita terminou às duas horas da manhã, partindo então os visitantes em direcção a Amarante.
A visita de 1872 iniciara-se em Caneiros, com uma visita à fábrica de tecidos de algodão, linho e lã de Guimarães, Filho & Sobrinho, de João Pereira da Silva Guimarães, que, um ano mais tarde seria contemplada com o direito de utilizar o título de Real Fábrica.
A última visita a Guimarães aconteceria no dia 20 de Outubro de 1887, com o objectivo de presidir à inauguração do monumento ao fundador da monarquia portuguesa. A família real vinha acompanhada pelo presidente do concelho de ministros, José Luciano de Castro, e pelo Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, filho da vimaranense D. Carlota Joaquina do Carmo Machado. A inauguração do monumento aconteceu às quatro horas da tarde. Uma hora mais tarde, o rei participou na cerimónia de lançamento da primeira pedra do edifício da Escola Industrial Francisco de Holanda. O regresso ao Bom Jesus, onde a Corte estava alojada, aconteceu às dez da noite.
O Conde de Margaride ofereceu um banquete à comitiva família real, no seu palacete do largo do Carmo. O repasto foi preparado pelo célebre Abade de Priscos e foi servido em baixela de prata, com talheres de ouro. O serviço era da Índia, da Casa de Margaride e muito antigo.
Naquele dia, a casa do Conde de Margaride esteve novamente transformada em paço real, que foi descrito na seguinte notícia:

O palacete do snr. Conde de Margaride
A mobília e as decorações do palacete do snr. conde de Margaride eram sumptuosas.
A escadaria estava coberta de arbustos e de alcatifas riquíssimas. No patamar, um grande espelho dourado com molduras dois soberbos candelabros.
A toilette de vestir e o quarto para S. M. a rainha foram dispostos no andar nobre. No quarto havia um magnífico leito de pau santo coberto por um docel e encerrado em cortinas de seda. Cobria a cama uma valiosa colcha de brocatel antigo. O soalho estava coberto com um tapete, cor de pombo. Os reposteiros eram de seda azul celeste, assim como o estofo das cadeiras que guarneciam o quarto.
No vestíbulo, um rico guarda-vestidos com três espelhos; jarro, bacia, copo de água e respectivo prato, tudo de prata lavrada.
Estas peças são de grande valor pela sua antiguidade.
O quarto de el-rei estava guarnecido de mobília de pau santo e rosa e cadeiras douradas. A colcha da cama era de cetim amarelo com ramagens.
O jarro e bacia do lavatório eram de cobre esmaltado, o jarro e bacia para os pés, de prata.
A sala de visitas tinha uma magnífica mobília de estofo carmesim, e três espelhos de cristal.
A sala da recepção estava guarnecida com cadeiras à Luís XVI, reposteiros amarelos, estilo oriental.
A ante-sala, com mobília antiga e lustre de bronze de doze focos.
Nn sala do jantar, vê-se uma copa de prata antiga, dois tabuleiros e uma salva de magnífico lavor.
No andar superior estavam colocados os quartos de SS. AA. o príncipe D. Carlos o a princesa D. Amélia, assim como os do infante D. Afonso, e da real comitiva.
No quarto de SS. AA. havia duas camas do mogno, com colchas antigas de cetim, cortinas de tule, reposteiros gris; tapete antigo azul e branco. No vestíbulo, toilette, guarda-vestidos lavatório de mogno; jarro e bacia de prata, mesa do charão marchetada de madrepérola.
No quarto do infante D. Afonso, mobília de estilo antigo, cama torneada com colcha de brocatel de ouro, docel de damasco de seda escarlate, jarro e bacia de cobre esmaltado, tapete com ramagens.
Os quartos da comitiva estavam também luxuosamente adornados.
Na sexta-feira o palacete do snr. conde de Margaride foi visitado por grande número de senhoras desta cidade e de fora, e por vários cavalheiros.

O Comércio de Guimarães, 24 de Outubro de 1887

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