3 de Julho de 1838
Foi o primeiro dia em
que não esteve tanto frio (à excepção de uns poucos de dias no princípio do mês
passado) pois desde o princípio do Inverno até esta parte, fez sempre frio, ou
chuva, sendo esta em uma abundância tal e tão continuada, tanto no Inverno como
na Primavera, que com as cheias que fez, causou bastantes estragos. Ainda neste
dia havia muito vinho por limpar, do pouco que escapou ao frio e às névoas. PL
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
III, p. 10)
Não há muitos tempo,
líamos notícias como esta, retirada do ionline.pt:
Segundo as previsões do
canal francês “Meteo”, há 70% de probabilidade de haver uma ausência total de
Verão na Europa Ocidental. Mais, este Verão pode mesmo vir a ser o mais frio e
húmido desde 1816.
Ora, são previsões como
esta que o tempo de se encarrega de desmentir sem dó nem piedade, como neste
momento sentimos na pele. Já todos percebemos que este vai ser um ano com
Verão, porque já está a ser. Aliás, o único ano sem Verão de que há memória foi
o de 1816 a que se refere a notícia, mas a alteração climática desse ano teve
uma causa bem identificada: uma actividade vulcânica fora do comum, que teve o
seu ponto mais alto nas erupções do Monte Tambora, na actual Indonésia, no ano
de 1815, que tiveram efeitos no hemisfério norte, provocando um “Inverno
vulcânico”, perda de colheitas e fome.
No entanto, muitas vezes
o Verão chegava fora de tempo. Assim aconteceu no ano de 1838, em que o Inverno
parece ter acabado no dia 3 de Julho. No ano seguinte ainda foi pior: o
primeiro dia do Verão desse ano aconteceu no dia 1 de Agosto. Até aí, tinha
havido muitas chuvas e algum frio. Mas no ano de 1828, o calor do Verão chegou
ainda mais tarde a terras de Guimarães, no dia 15 de Agosto.
No passado, era muito
frequente a ocorrência de episódios meteorológicos que se desviavam claramente
do padrão. Chuvas violentas em plena Verão, por vezes acompanhadas por de
trovoadas ou tempestades de granizo, sempre foram mais comuns do que pode ser
suposto.
No dia 31 de Julho e nos
dois primeiros dias de Julho de 1836, desabaram sobre Guimarães trovoadas
violentíssimas. Na tarde do dia dois, a temperatura chegou aos 82 graus
(indicação do cónego Pereira Lopes, sem indicação da escala utilizada;
admitindo que possa ser a de Delisle, a temperatura terá rondado os 35 graus
centígrados). No dia 6 de Julho de 1875, ocorreu uma tempestade de granizo, que
causou as vítimas do costume: os frutos, nomeadamente os das vinhas.
No entanto, o fenómeno
meteorológico mais extraordinário que encontrámos nos registos de João Lopes de
Faria leva-nos até ao estio de 1850. No dia 24 de Agosto daquele ano, terá
caído neve (provavelmente, granizo) em Guimarães, fazendo calor nos dias seguintes…
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