1 de Julho de 1836
Das 3 para as 4 horas da manhã, sentiu-se, nesta vila, um rápido, mas
violento terramoto. Não causou estrago algum nesta vila nem nas suas imediações,
e das 7 para as 8 da tarde formaram-se três grandes trovoadas sobres esta vila
que apresentaram um aspecto medonho, não visto já há muitos tempos, assustando
sobre maneira os habitantes da mesma, caindo nos arrabaldes da vila bastantes
raios e faíscas, que não causaram algum dano mais do que a algumas árvores. O
calor nestes dias tinha subido a um grande grau. P(ereira) L(opes)
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
III, p. 4)
É de todos os tempos: quando a terra treme, os homens vergam-se de medo e impotência. Do terramoto que
no dia 1 de Novembro de 1755 destruiu Lisboa, a Guimarães apenas chegaram os
ecos e o medo. Por aqueles dias, escrevia um frade da Costa:
Memorável será para todos os séculos o dia de todos os Santos do ano de 1755 pelo terramoto com que o céu atemorizou a todo Portugal, e grande perda de vidas, e fazenda, que houve em Lisboa, e suas vizinhanças. Por todo o ano adiante continuaram, ainda que não com a violência e estrago do primeiro. Em todo o Reino se fizeram procissões de penitência. Em Guimarães saiu o Cabido descalço. Os estudantes saíram também com a imagem de N. Pe. (S. Jerónimo penitente) que nos vieram pedir para isso, que alguns Monges acompanharam e pregaram, em S. Dâmaso, donde saiu a procissão, à porta da Colegiada, no terreiro de Sta. Clara, no do Carmo, no da Misericórdia, no Toural, no das Dominicas, e outra vez no Toural, para a parte de S. Dâmaso, aonde se recolheu a procissão.
Quando, no dia 31 de Março de 1761, novo sismo se fez sentir, a memória
de 1755 ainda estava demasiado presente. No dia seguinte, a imagem do Senhor dos
Passos saiu às ruas de Guimarães, numa procissão de penitência organizada pela
respectiva irmandade para que movidos os corações dos pecadores e emenda
de suas culpas, fazendo penitência delas, aplaquem a ira de Deus, que por causa
delas nos ameaça com estes tão tenebrosos avisos, em acção de graças por não
permitir que do dito terremoto resultasse dano considerável a criatura alguma
desta vila e suas vizinhanças.
Segundo o cónego Pereira Lopes, em Guimarães voltou a sentir-se um novo
sismo “algum tanto violento, porém de pouca duração”, quando já passava das 10
da noite do dia 20 de 1837. Segundo a
mesma testemunha, dez anos mais tarde, no último dia de Dezembro de 1847,
voltaram a realizar-se preces em Guimarães por ordem do Governo, motivada pela
frequência dos sismos que então se sentiam em Lisboa e do medo da repetição de
uma tragédia com as dimensões de 1755.
1858 foi ano de sismos em Guimarães. O jornal A Tesoura de Guimarães do dia 6 de Julho daquele ano, relatava:
Às 6 e meia horas da tarde do dia 2 tremeu aterra duas vezes, com pequena
interrupção. Os dois primeiros balanços, seguidos, duraram dois segundos,
havendo uma pausa de dois a três segundos e logo quatro balanços, também
seguidos, que duraram quatro segundos. Se, assim como foi duradouro, fosse
violento, os estragos seriam grandes. Felizmente não passou de susto. Na igreja
da Misericórdia caiu algum estuque sobre os eleitores da mesa, que já iam
fugindo, e de resto só sofreram alguns móveis de casa, que estavam em posição
arriscada. É o terceiro tremor no espaço de três meses!
Segundo João Lopes de Faria conta, ao nascer do dia 21 de Outubro de
1880, “sentiu-se nesta cidade um tremor de terra, que se repetiu com notável
violência daí a poucos segundos. Não causou perigos; mas foi dos maiores que
desde há muito se tinham experimentado aqui”. A terra terá voltado a tremer em
Guimarães na noite de 6 de Junho de 1897, mas apenas encontrámos uma referência
numa nota de Lopes de Faria.
No dia 23 de Abril de 1909, um sismo destruiu completamente a vila de
Benavente, provocando quase meia centena de mortos. Foi sentido em Guimarães,
como contava no dia seguinte, o jornal Independente:
Ontem, pouco depois das 5 horas da tarde, houve um violento abalo de
terra, que se sentiu em toda a cidade, causando grande pavor em toda a
população.
Durou 10 segundos, e foi acompanhado dum ruído subterrâneo muito
semelhante a uma trovoada a grande distância.
O fenómeno sísmico produziu-se na direcção nascente a poente.
Felizmente, à parte o susto natural que o tremor de terra causou, em Guimarães
nenhum facto lamentável ocorreu, ao contrário do que aconteceu em Lisboa,
Porto, Santarém e noutras terras do país.
Ainda segundo João Lopes de Faria, no dia 5 de Maio de 1914 houve um tremor
de terra, que se sentiu em Guimarães durante cinco segundos e no dia 20 de Maio
de 1931 a terra voltou a tremer, por duas vezes. Em ambos os casos, não houve
desastres, tal como sucederia no último grande abalo de que há memória por
estes lados, sentido no dia 28 de Fevereiro de 1969.
No dia 1 de Julho de 1836, a terra tremeu em Guimarães, num abalo rápido
e violento. Não causou estragos. Aliás, em Guimarães, para além duns móveis
deslocados do sítio e de estuques caídos de tectos, ou de ligeiras fendas em
edifícios, nunca os sismos provocaram estragos dignos de monta. Em Guimarães, os
terramotos jamais mataram alguém.
Guimarães já tremeu algumas vezes, mas nunca caiu.
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