Efeméride do dia: O desembarque dos "bravos do Mindelo" visto de Guimarães

Suplemento do jornal Imparcial, de 6 de de Julho de 1875, comemorativo do desembarque de Pampelido

8 de Julho de 1832
Chega a notícia da aproximação de D. Pedro com a sua gente à Beira Mar, tendo-se ouvido algum fogo de artilharia. Em vista desta notícia expediram-se ordens aos juízes das freguesias, não consentissem que fosse perturbado o sossego público. As mesmas ordens se passaram às ordenanças para que rondassem de dia e de noite. À noite reuniu nesta vila muita gente das ordenanças e rondou toda a noite. PL
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 21)

A notícia do desembarque do Mindelo (que, na realidade aconteceu na Praia dos Ladrões, em Pampelido) do exército liberal de D. Pedro, chegou a Guimarães no dia em que aconteceu, 8 de Julho de 1832. A vila era então controlada pelos miguelistas e pelo medo. No dia seguinte, ficava-se a saber que as tropas do pai de D. Maria II e presidente da regência, na sua qualidade de Duque de Bragança, entrara no Porto sem grandes dificuldades, com as tropas e as autoridades realistas a retirarem para Lamego e o povo do Porto a aclamar D. Maria II, D. Pedro e a Carta Constitucional. Esta notícia pôs em alvoroço os seguidores de D. Miguel em Guimarães, que entraram em debandada, com um cortejo de “carros carregados de baús e caixões e muita gente com trouxas à cabeça”, como testemunhou o cónego Pereira Lopes.
No dia 10, passado o primeiro sobressalto, a resistência dos miguelistas começou a organizar-se em Guimarães, reunindo-se as ordenanças do seu distrito. Ao cair da tarde, circulou o rumor de que os constitucionais de Fafe estavam a entrar em Guimarães. Não faltou gente que se precipitasse a fugir, enquanto que a maioria se fechava dentro de portas. Ao final da madrugada do dia 14, as autoridades de Guimarães voltaram a abandonar a vila, à notícia de que as tropas liberais teriam chegado a Famalicão. Almoçaram em casa do abade de Mesão Frio e regressaram a Guimarães durante a tarde, ao saberem que as tropas de D. Pedro não haviam tomado a direcção de Guimarães, mas sim a de Braga. Mas não ficaram: atravessaram a vila, lançando vivas ao rei usurpador, e tomaram a direcção de Pombeiro.
Nos dias seguintes os miguelistas de Guimarães andaram em desassossego, porque se sucediam os rumores de que as tropas liberais se dirigiam de Braga para Guimarães. Também não faltavam as desordens, como as provocadas por frei Bernardo Marinheiro, que, sem hábito e com espingarda, andava a espancar quem se recusava em pegar em armas a favor de D. Miguel.
As autoridades fiéis a D. Miguel regressaram à vila no dia 19, retomando as rédeas da governação e da organização do apoio ao exército absolutista. Durante quase dois anos, as gentes de Guimarães serão sobrecarregadas com violentas imposições que tinham como destino o aprovisionamento das tropas miguelistas e o financiamento do esforço de guerra.
O cónego Pereira Lopes descreveria nos seus apontamentos, transcritos por João Lopes de Faria, a situação que se vivia em Guimarães no final do mês de Julho de 1832:

No fim deste mês ainda esta vila se conservava com quase todas as portas fechadas e bastantes famílias retiradas para a aldeia, estando ainda as ordenanças em armas para mandar gente de observação para as pontes das partes do Porto, para não passar gente suspeita, espiolhando a que passava para que não trouxesse papéis incendiários e para escoltarem os víveres que iam para o exército do sr. D. Miguel que estava em Amarante e Penafiel. Também a falta de bacalhau e arroz se ia fazendo sensível, custando já cada arrátel daquele 80 réis e deste 60 réis; o rapé, cigarros e sabão também se acabou, porém passados alguns dias veio algum de Lisboa pela estrada de Viseu.


Terminada a Guerra Civil, o dia do desembarque de D. Pedro no Pampelido passaria a ser assinalado  como o dia em que a liberdade começou a vencer o absolutismo, a escravidão e a tirania. Em finais do século XIX, o 8 de Julho ainda era celebrado com repiques dos sinos das torres de Guimarães, de manhã, ao meio-dia e à noite e com luminárias na Casa da Câmara e nas repartições públicas.

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