Basilisco |
O Basilisco é uma figura
lendária, em cujo corpo se misturam a serpente, o lagarto e o galo. É um ser do
mal, capaz de matar apenas com o olhar, não havendo outro meio de o matar se
não o próprio olhar. Para tanto, será necessário coloca-lo perante um espelho.
No século XVIII, com os avanços dos conhecimentos do mundo animal e dos
processos de funcionamento do olhar, a ciência afirma que o Basilisco não
existe. O Padre Jeronymo Feijóo, no seu Teatro Crítico Universal, nega a
existência daquele ser híbrido e maléfico. Bernardino se Santa Rosa
responde-lhe, afirmando a realidade do bicho:
Nega o sapientíssimo Feyjó
esta venenosa eficácia aos olhos de basilisco na sua Historia natural. O seu
fundamento é este: Supõem, que a potência visiva carece de actividade fora do órgão, em que se
exercita; e nesta suposição, nega que possa a vista do Basilisco chegar a ofender
os sujeitos distantes. Porém, dado que a potência visiva careça da dita eficácia,
não pode negar o mestre Feijó, que os olhos do Basilisco possam ser meio, por
onde se exalem eflúvios, ou hálitos venenosos, que impelidos de alguma virtude oculta
do mesmo Basilisco possam em determinada distância ofender os viventes, em
cujos corpos se entranham. Vários são os caminhos da natureza: e como nos
consta do facto em tantas memórias fidedignas, este me parece o modo mais fácil,
e expedito para declarar como esta Serpente por meio da sua venenosa vista pode
causar tantas ruinas. Isto é, concedendo a suposição de Feyjó, que na verdade admito,
porque estou naquela sentença, que afirma que a visão de qualquer objecto se faz pela recepção das espécies
dentro da petência visiva. Porém se é verdadeira a opinião dos Platónicos,
seguida de muitos Perspectivos, a qual diz que a visão se faz pela extramissão
dos raios visórios, então facilmente se pode dizer, que os raios vibrados pelos
olhos de basilisco abrasam aos viventes distantes com venenosas actividades. Enfim,
qualquer pedra que mova o celebrado Crítico há-de tropeçar. Claramente tropeça
quando diz que é fábula o que refere Gaspar dos Reis de um Basilisco, que escondido
na muralha de certa cidade de Ásia, matou com a vista muita gente do formidável
exército de Alexandre Magno, que a sitiava; pois nega este fatal acidente
unicamente porque o não referem os três famosos Historiadores dos belicosos
progressos daquele Príncipe, como são Plutarco, Arriano e Quinto Cúrcio.
Bernardino de Santa Rosa (O.P.), Theatro do mundo visivel, filosofico,
mathematico, geografico, polemico, historico, politico è critico ou Colloquios
varios em todo genero de materias: em os quaes se representa á formosura do
Universo é se impugnaõ muytos discursos do sapientissimo Fr. Bento Jeronymo
Feijó ..., Na officina de Luis Seco Ferreyra, 1743
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