Ao memorando João Dias Talaia, querendo dar à estampa em seu nome
uns poucos de versos, que nunca fez, nem tem esperanças de fazer.
Feito um pote de letras de
conserva
Com o teu broquel por cima bem
tapado,
Brilhas hoje, Talaia decantado,
Filho de Marte, enteado de
Minerva:
No regaço das Musas a caterva
Dos zoilos te vê já dormir
cansado;
Qual, por não poder mais, fica
deitado
Burro na lama com seis molhos de erva.
Cedo verão que para herói se
ensaia
Sobre os fólios das tuas poesias
O tolo, que de as ler na asneira
caia:
Mas como isto inda pára em profecias,
Diga lá quem quiser — “Vide
Talaia” —
Que eu sempre hei-de dizer:
—Sesso, Jan-Dias.
Sobre este João Dias (Jan-Dias) Talaia, também ele poeta, a
quem o Lobo dedicou uma larga série de sonetos, escreve Inocêncio no seu Dicionário Bibliográfico:
JOÃO DIAS TALAIA. SOUTO-MAIOR, Bacharel em Cânones pela Universidade
de Coimbra, Capitão das Ordenanças etc. Tinha-se por mui destro na arte de
tourear: mas se havemos de crer o que da sua perícia nos diz o célebre
Lobo de Guimarães, nos sonetos satíricos com que de vez em quando o mimoseava,
era o mais desastrado cavaleiro do seu tempo.
Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva,
Tomo III, Imprensa Nacional, pp. 362-363
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