As Poesias de António Lobo de Carvalho (49)

Ao memorando João Dias Talaia, querendo dar à estampa em seu nome uns poucos de versos, que nunca fez, nem tem esperanças de fazer.


  
Feito um pote de letras de conserva
Com o teu broquel por cima bem tapado,
Brilhas hoje, Talaia decantado,
Filho de Marte, enteado de Minerva:

No regaço das Musas a caterva
Dos zoilos te vê já dormir cansado;
Qual, por não poder mais, fica deitado
Burro na lama com seis molhos de erva.

Cedo verão que para herói se ensaia
Sobre os fólios das tuas poesias
O tolo, que de as ler na asneira caia:

Mas como isto inda pára em profecias,
Diga lá quem quiser — “Vide Talaia” —
Que eu sempre hei-de dizer: —Sesso, Jan-Dias.


Sobre este João Dias (Jan-Dias) Talaia, também ele poeta, a quem o Lobo dedicou uma larga série de sonetos, escreve Inocêncio no seu Dicionário Bibliográfico:

JOÃO DIAS TALAIA. SOUTO-MAIOR, Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra, Capitão das Ordenanças etc. Tinha-se por mui destro na arte de tourear: mas se havemos de crer o que da sua perícia nos diz o célebre Lobo de Guimarães, nos sonetos satíricos com que de vez em quando o mimoseava, era o mais desastrado cavaleiro do seu tempo.

Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, Tomo III, Imprensa Nacional, pp. 362-363

Comentar

0 Comentários