S. Nicolau |
O pregão de 1930 foi escrito por Américo Durão e
lido por Adelino Sampaio e Castro. O pregoeiro, à imagem do que acontecia desde
que foi retirada ao Liceu Martins Sarmento o estatuto de Liceu Central,
deixando de poder oferecer os dois últimos anos dos cursos liceais, voltou a
ser um “finalista” do 5.º ano.
Bando Escolástico
Recitado em 5-12-930
PELO QUINTANISTA
Adelino
Pinto Sampaio e Castro
Cesse
em Coimbra e em Lisboa este ano
Todo o
esplendor das festas que fizeram!
Cale-se
Braga e o seu desejo insano
De
exceder Guimarães, — que o não mereceram!
Eu
canto o berço ilustre lusitano,
A quem
Minerva e Marte obedeceram!
Cesse
tudo o que a antiga musa canta,
— S.
Nicolau mais alto se alevanta!!
Tu,
Vereação, amparo e segurança.
Do
progresso e reformas desta idade!
E não
menos tristíssima esperança,
De uma
vaga de impostos na cidade!
Edis,
terror da Indústria e da Finança,
Maravilha
fatal da Cristandade,
Para
que a nossa festa seja grande,
Deixai
que só a Academia mande!
Tu,
Imprensa local, tuba sonora!
— “Comércio”,
“Vimarane”, “Velha Guarda”,
Que a
tua voz faça nascer a aurora
De
bondade e amor que aos homens tarda!
A
noite cai rendida, a noite chora,
Sobre
a tonalidade feia e parda
Destes
casebres álgidos, mesquinhos,
Onde a
miséria e a fome têm seus ninhos!
— Estátuas
a mestre Gil Vicente,
A
Franco, aos Mortos de África e da França!
Ó
cidade mui sábia e mais prudente.
Tendes
razão! O povo, assim não cansa
De as
admirar, num pedestal ausente,
Feitas
de ar, de palavras, de esperança
— Teatro,
lactário, maternidade.
Sois
também sem rival cá na cidade!
— Toural,
ó sexta-feira de paixão!
Depois
que certa noite escura e densa,
Caiu sobre
a cidade... Desde então,
A
sombra é mais profunda e mais intensa
Do que
a treva, nas margens do Jordão...
Porque
lá, quando a noite é grande, imensa,
Anda a
sombra divina de Jesus,
Sobre
as águas, num hálito de luz!
— E esse
famoso ramo florescente
Da ciência
arqueológica chamada,
Que
baixou até nós ultimamente.
Num
congresso de pândega rasgada,
E que
volvendo distraidamente,
Os
seus olhos, sobre a Citânia amada,
— Que
o milagre de alguém ressuscitou! —
Comeu,
bebeu, sorriu,... e abalou!...
— Ó
sopeirinha, ó camponesa airosa.
Para
cantar-te a minha frauta é ruda!
— Tu,
por exemplo, eras bem mais formosa,
Se não
falasses, se nascesses muda...
— Costureirinha,
alvo botão de rosa,
Algum
de nós por teu amor não estuda:
Diz
que o teu corpo é um peregrino verso,
E os
teus olhos a luz deste Universo!
— E vós,
senhoras minhas, pois criado
Tendes
em mim um novo engenho ardente!
Se eu
tenho em verso humilde celebrado
Vossa
graça e beleza alegremente,
Dai-me
um som brando, forte, e delicado,
Para
dizer o que minha alma sente!
E que
o vosso juízo não condene.
O que
o amor ao coração me ordene:
“Houve
outrora um concurso de beleza,
“Sendo
a maçã o prémio da mais bela,
“Que,
entre constelações de áurea riqueza,
“Foi,
nas estrelas, a mais linda estrela!
— Mulher!
Por tua graça, e singeleza.
Minha
maçã eu quero dar a aquela,
Que
tiver numa torre de ilusão,
Um
sonho, e no seu peito um coração!
Ser
novo é ser leal, alegre e audaz,
Somos
a fé, a esperança, a mocidade!
E
olhai! Olhai! Minha alma de rapaz,
Trago-a,
cheia de sonho e claridade!
E ser
eu ou ser outro, isso que faz,
Se todos
nós temos a mesma idade!?
Exaltemos
o amor e a alegria...
Rufa o
tambor! Já vai nascer o dia!..
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