Efeméride do dia: Capitulação de D. Miguel

D. Miguel

30 de Maio de 1834
Chega a notícia oficial de ter o sr. D. Miguel aceitado, em Évora Monte onde estava no dia 27 deste mês, as propostas que seu irmão o sr. D. Pedro regente, em nome da rainha, lhe havia feito de embarcar em Sines ou em algum outro porto do Algarve, ficando o seu exército à descrição, houve repiques e luminárias, andando grupos de gente a cantar hinos constitucionais e a fingir que choravam. PL.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 192 v.)

A notícia da assinatura da Convenção de Évora Monte, a 26 de Maio de 1834, chegou a Guimarães quatro dias depois e foi recebida com alegria e choro fingido. Estava posto um ponto final definitivo no tempo da usurpação absolutista e na guerra civil que havia dilacerado o país nos anos anteriores. O desfecho da guerra deixou muitas feridas por sarar. Aqueles foram tempos de festejos contínuos, mas também de ajuste de contas.
Em 1828 tinha havido uma caça às bruxas. Os constitucionais eram apontados a dedo e seguiam em levas de presos para um destino que poderia ser o degredo para as partes mais longínquas e inóspitas do império português ou a morte. Nos dias da vitória dos liberais, os que denunciaram os liberais ou testemunharam contra eles, não tiveram sossego.
Como escreveu o cónego Pereira Lopes no seu diário, entre Maio e Junho daquele ano, “poucos foram os dias em que não houvessem desordens, cacetadas, facadas e tiros nos realistas”.
Já em meados de Abril, um mercador de Atrás do Tanque chamado Mendes viu a sua casa invadida, tendo sido agredido por indivíduos armados de espadas e facas, tendo ficado sem o nariz. Fora testemunha na devassa de 1828.
Na noite de 17 de Junho, um caiador que fora voluntário no exército miguelista foi atingido com onze facadas, de que não sobreviveu,Mais sorte teve um outro indivíduo, também antigo voluntário realista, que também foi atacado na mesma noite, tendo saído muito maltratado, mas vivo.
Três dias depois, o padre José Dionísio e um sargento de caçadores 12, conhecido por Coelho Bombeiro, foram à rua de Donães, a casa de um tal José Pasteleiro. O padre, foi tirar satisfações, por aquele indivíduo o ter acusado, sob juramento, de ser constitucional, ferindo-o a golpe de espada. O José Pasteleiro sacou de uma clavina, desfechando um tiro que atingiu o Coelho Bombeiro, pondo-se em fuga, apesar de seriamente ferido. Entretanto, o povo juntou-se, saqueou a casa do Pasteleiro, lançando-lhe fogo em seguida. A perseguição ao homicida não deu qualquer resultado. No dia seguinte, dia de feira, os voluntários do batalhão móvel de Guimarães, andaram pelas ruas “a dar porradas em todos aqueles que eram realistas e encontravam na feira”. Alguns terão ficado muito mal tratados.
No primeiro dia de Junho, foi recebida a notícia de que o regente D. Pedro decretara uma amnistia, e concedera o seu perdão a todos os realistas, sem excepção, mandando soltar os que estavam presos e levantar os sequestros do seu bens. Esta medida provocou grande decepção entre os constitucionais.

Mas aqueles dias foram, acima de tudo, dias de festa, com os sinos das igrejas a repicarem sempre que chegavam novas da vitória dos liberais. Quase todos os dias havia luminárias (casas iluminadas), foguetes e música na rua. O hino de D. Pedro ecoava, repetidamente, pelas ruas da vila.

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