Edifício da Sociedade Martins Sarmento, ainda em construção (fotografia anterior a 1908)
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25 de Maio 1901
De tarde é assente a primeira pedra dos alicerces para a projectada obra
do edifício da Sociedade Martins Sarmento.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 176 v.)
1899 é o ano da morte de Francisco Martins Sarmento. É Também o ano em que
foi pedido ao arquitecto Marques da Silva que apresentasse um projecto para a sede
da Sociedade Martins Sarmento. O convite foi dirigido pelo vice-secretário da
direcção, João Gualdino Pereira, amigo de Marques da Silva, que iniciara em
Guimarães, na igreja de S. Torcato, a sua carreira profissional, após o
regresso de Paris, onde se havia formado.
No dia 11 de Fevereiro de 1900, Gualdino Pereira apresentou o projecto em
reunião da Direcção, informando que o Marques da Silva oferecia o seu trabalho
à Sociedade, “pela muita admiração e simpatia que lhe tem despertado a benemérita
colectividade que usa o nome do grande arqueólogo vimaranense, que ele, embora
não conhecesse pessoalmente, venerava pelas suas altas qualidades de saber e
elevado carácter e ainda pelo muito interesse e boa vontade que tem em cooperar
para o progresso e engrandecimento desta cidade, onde principiou a exercer a
sua profissão concluído o seu curso em Paris”.
Os directores da SMS apreciaram o projecto e a respectiva memória descritiva,
que rezava assim:
Haverá ao rés-do-chão, com entrada pela porta principal, um vestíbulo
de introdução, que conduzirá à escada colocada no eixo da fachada principal do
salão. Ao lado do vestíbulo e com entrada por ele, duas salas para aulas ou
museus.
No primeiro andar ao mesmo nível do
actual será o grande salão, que reinará em toda a largura da fachada.
Na frontaria do edifício lê-se claramente o que há no
interior - entrada, duas salas lateralmente, à parte inferior; na superior, o
salão, num grande motivo uniforme. E o grande salão projectado a parte dominante
da frontaria e nela acentuado, por três vastas arcadas formando grandes nichos;
cada qual a seu turno é dividido por três arcadas menores que i1uminam o interior.
Entre as colunas que suportam estas arcadas e a varanda exterior, um largo
patamar servirá de refúgio, nos dias de grandes solenidades e aglomeração.
Caracterizando-se
tanto quanto possível os fins da Sociedade, que é arrancar ao passado,
ensinamento para o futuro, impunha-se naturalmente dar ao edifício um estilo arquitectónico,
que, sintetizando os elementos arqueológicos que a Sociedade possui, os
trabalhos de Martins Sarmento e tantos vestígios dispersos na Arquitectura Portuguesa,
fosse obra de realização moderna.
Foi, pois, à Arte Românico-bizantina, que se buscou o
elemento primordial de composição e ornamentação. É uma arte tão bela no seu sentimento
artístico, tão pura de linhas, tão impregnada de distinção, que através de tantos séculos o actual lhe faz verdadeira
apoteose.
Quer em pintura à parte superior dos nichos, quer em escultura
nos medalhões da fachada, serão representadas as Ciências, as Letras,
as Artes e as Indústrias, isto é, as diversas manifestações
do génio humano.
A Direcção, satisfeita com o trabalho do arquitecto portuense,
que considerou notável, e com a generosidade do seu autor, decidiu propor a
atribuição a Marques da Silva da condição de sócio honorário, o que se concretizaria
em reunião da Assembleia Geral da Sociedade que teve lugar no dia 1 de Março daquele
ano e que foi expressamente convocada para o efeito.
Seguiram-se os trabalhos de recolha de fundos para a
concretização da obra, através de subscrição pública.
Aberto
concurso para a adjudicação da empreitada inicial, a mesma seria entregue José Teixeira
da Costa, que procederia à “abertura de caboucos e enchimento de alicerces,
para a fachada e muros transversais”. A obra iniciou-se no dia 25 de Maio de
1901.
A fachada ficaria pronta no dia 15 de Fevereiro de 1905. Nesse
dia, o edifício da Sociedade Martins Sarmento foi embandeirado, havendo
foguetes e música nas ruas. Os operários que participaram nas obras tiveram
direito a beberete.
Depois de várias paragens, o corpo do edifício, que
correspondia à área do Salão Nobre, foi inaugurado, ainda incompleto, no 9 de
Março de 1907. As obras seriam concluídas no ano de 1908.
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