18 de Maio de 1746
O cónego Boaventura Martins
Couto, morador na Rua de S. Francisco, estando doente, declara na nota de
Alexandre Vaz que “houvera de Teresa Maria da Cruz, sendo solteira, duas
filhas, D. Maria Rosa de Lima e D. Joana Maria de Meireles, as quais tinha
perfilhado e legitimado pelo rei e pelo papa para lhe sucederem com o
herdeiras, e como lhe havia feito duas doações de seus bens com várias cláusulas
e condições, revogava-as por serem pesadas, e possuía em S. Torcato os prazos
do Ovelheiro e da Lombela e umas casas com campo na Corredoura e nesta vila o
direito e acção de umas casas de pedra sobradadas defronte do Arco de S.
Francisco, duas na Rua de S. Francisco e duas casas no Serralho da Cadeia (estas
seu património, tudo isto e mais bens que tivesse dava às ditas suas duas
filhas para professarem onde quisessem, com condição que seria sempre a gosto
de sua mãe e irmão padre Miguel Mendes Faião assistente nos estados do Brasil,
para o que poderiam vender os ditos bens, e se eles não chegassem ou não quisessem
ser religiosas, sempre lhe dava os ditos bens para disporem como quisessem
sempre à eleição da mãe a quem fazia tutora e administradora sem se lhe tomar
conta ao que obrar nesta parte e nela a seu padrasto e marido da dita mãe
delas, João Barbosa Novais, que fazia as vezes dela e ainda que por qualquer
via de direito, algum parente do doador quisesse ser tutor não podia ser senão
os que nomeasse, e assim havia por excluídas as filhas de Hipólito de Meireles
e as de Maria Duarte e sua geração, e reservava o usufruto de 200$000 réis para
testar à hora da sua morte e dariam à sua mãe 30$000 réis anuais, etc.”
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 156 v.)
O Minho foi, no passado, um território com uma proporção de nascimentos
fora do casamento inesperadamente alta, das mais elevadas que se conhecem em
toda a Europa para o séculos XVII e XVIII. Dentre esses, eram bastante comuns
aqueles que tinham clérigos como progenitores, daí que não seja de estranhar encontrarem-se,
com alguma frequência, religiosos que, sentindo a proximidade da morte, cuidam
de agasalhar os seus rebentos, tornando-os seus herdeiros. Assim fez o reverendo
cónego Boaventura Martins Couto, quando, estando enfermo, fez uma declaração
perante notário em que assumia a paternidade de duas raparigas, que já havia
legitimado perante o rei e perante o papa, fruto de uma relação com uma tal Maria
Teresa da Cruz, quando esta ainda era solteira.
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