Milagres da água da Fonte de S. Gualter e do sepulcro do santo (3)


S. Gualter (fotografia de Manuel Anastácio)

No ano de 1271 saíram os Religiosos do Conventinho, que fundou S. Gualter, para um Hospício que a Vila lhes deu. Não trasladaram as Relíquias deste Servo de Deus com tanta brevidade que não dessem lugar a que o Reverendo Cabido de Guimarães não quisesse apropriar-se deste tesouro, e colocá-lo na sua Colegiada. Esperaram para este piedoso furto o silêncio de uma noite e, pondo por obra a sua determinação, não teve efeito, porque não houveram forças humanas, que bastassem a levantar nem a mover a pedra do sepulcro. A dificuldade, que na empresa sentiram, avivou o empenho, sem atribuir a imobilidade da pedra mais que ao seu grande peso; valeram-se de poderosas indústrias, quais as de ferros, de trancas e de forças de bois, e, vendo serem vãs todas estas diligências, reconheceram mistério em a invencível dificuldade, e cederam admirados do seu empenho. Deram conta aos Religiosos, para que eles o levassem para o novo Convento; cresceu mais a admiração do Cabido, quando viu a facilidade e prontidão, com que levantaram a pedra, que muitos homens com força, e artifício não puderam mover.

Boaventura Maciel Aranha, Cuidados da morte e descuidos da vida, Oficina de Francisco Borges de Sousa, Lisboa, 1761, tomo I, p. 136

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