S. Gualter (fotografia de Manuel Anastácio) |
No ano de 1271 saíram os Religiosos do
Conventinho, que fundou S. Gualter, para um Hospício que a Vila lhes deu. Não
trasladaram as Relíquias deste Servo de Deus com tanta brevidade que não dessem
lugar a que o Reverendo Cabido de Guimarães não quisesse apropriar-se deste tesouro,
e colocá-lo na sua Colegiada. Esperaram para este piedoso furto o silêncio de uma
noite e, pondo por obra a sua determinação, não teve efeito, porque não houveram
forças humanas, que bastassem a levantar nem a mover a pedra do sepulcro. A
dificuldade, que na empresa sentiram, avivou o empenho, sem atribuir a imobilidade
da pedra mais que ao seu grande peso; valeram-se de poderosas indústrias, quais
as de ferros, de trancas e de forças de bois, e, vendo serem vãs todas estas
diligências, reconheceram mistério em a invencível dificuldade, e cederam admirados
do seu empenho. Deram conta aos Religiosos, para que eles o levassem para o
novo Convento; cresceu mais a admiração do Cabido, quando viu a facilidade e
prontidão, com que levantaram a pedra, que muitos homens com força, e artifício
não puderam mover.
Boaventura Maciel Aranha, Cuidados da morte e descuidos da vida,
Oficina de Francisco Borges de Sousa, Lisboa, 1761, tomo I, p. 136
0 Comentários