Entrega do vinho pelos caseiros da casa da Espinhosa, no ano de 1927. Fotografia de Belmiro Pimenta de Oliveira. |
27 de Maio de 1879
Pelas 5 horas da tarde um carro que seguia para Vizela,
tirado por três éguas, voltou-se na Rua da Alegria, logo abaixo da Viela dos
Ramalhetes. As éguas fugiram pela ponte da Madroa com o jugo dianteiro e os
dois passageiros ficaram mal tratados, quebrando um os dentes e outro, que era
o cocheiro, gravemente ferido numa perna. Na semana antecedente houve ali outro
desastre. Isto devido à morosidade com que a Câmara deixava ir o conserto da
rua, não dando por um dos lados livre trânsito.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 181.)
As dificuldades de trânsito e os acidentes de viação (choques,
despistes, atropelamentos) não surgiram com o automóvel. Antes dos primeiros
automóveis circularem pelas ruas, estradas e caminhos de Guimarães, havia carros
e carroças de tracção animal, que, por vezes, se viam envolvidos em desastres aparatosos,
alguns deles mortais.
Os mais comuns eram os acidentes que resultavam do
pânico de bois espantados. Eis alguns exemplos:
Numa coluna composta por cerca de três dezenas de carros
de bois que, no dia 25 de Abril de 1864, iam carregar lenha, os bois que
puxavam o último carro entraram em pânico e desataram numa correria furiosa,
precipitando todos os que vinham adiante. O acidente deu-se perto do lugar da
Vaca Negra (Urgezes) e alguns dos bois só pararam, e a custo, no Toural.
Resultado: um rapaz de 14 anos ficou com o crânio desfeito, tendo morte imediata,
três homens ficaram feridos com gravidade (um viria a falecer no Hospital,
alguns dias depois), oito apresentavam ferimentos ligeiros e um boi magoou-se
numa perna.
Em meados de Março de 1872, à passagem da diligência que
fazia a carreira de Vizela, os bois que puxavam um carro carregado de lenha
assustaram-se, atiraram ao chão o carreiro e passaram-lhe por cima com o rodado
do carro. Não resistiu mais do que uma hora.
Na manhã do primeiro dia de Agosto de 1901, no lado de
baixo do jardim do Toural, o vento levantou do chão um papel. Na altura,
passava por ali um carro com sacas de sal puxado por bois, que se assustaram com
o papel esvoaçante, desatando a correr e atirando ao chão a moça os conduzia. O
carro passou-lhe por cima, tendo sido conduzida ao hospital em muito mau
estado.
Mas não havia só bois assustadiços. Acidentes deste
género também aconteciam com cavalos como aconteceu ao início da tarde do dia 4
de Dezembro de 1910. Uma família de Guimarães ia de carruagem para Vizela quando,
seguindo junto à linha do caminho-de-ferro, passou por ela um comboio. OS
cavalos, assustados, entraram numa correria desabrida, sem que o cocheiro os
conseguisse segurar. Só pararam de encontro a um muro. As senhoras que seguiam
dentro foram cuspidas para o exterior, ficando todas elas com ferimentos, com maior ou menor
gravidade.
Mas nem sempre eram os bichos que se assustavam e provocavam
desastres. No verão de 1885, grassava uma epidemia de cólera. Para a aplacar,
no dia 10 de Agosto, saiu uma procissão de penitência da igreja de S. Pedro de
Azurém, ao chegar à Rua de S. Torcato, alguns dos penitentes assustaram-se com os
bois que puxavam um carro. Gerou-se um alvoroço descontrolado que teve como
consequência pernas e braços fracturados e contusões graves. Disse que viu que
os bois ficaram impávidos e serenos, sem sequer se moveram do sítio.
Mesmo em carros de tracção animal, também havia
acidentes provocados por avarias mecânicas. Um dia, à saída de Guimarães, partiu-se
o eixo do carro que fazia a carreira para a Póvoa de Lanhoso. O carro tombou,
causando ferimentos sérios aos passageiros, em especial ao Capelão de Santa Clara
e a uma doceira que ia de vender doces na romaria. Este acidente foi registado
no dia 3 de Julho de 1881.
Os atropelamentos, por vezes fatais, também faziam parte
do quotidiano dos tempos em que ainda não havia automóveis. A meio da tarde do
último dia de Outubro de 1883, uma criança de 4 anos, filha do negociante António
Carvalho de Abreu, foi atropelado por um carro pertencente à fábrica de moagens
de Almeida & Freitas, tendo falecido passados quatro dias.
Também há registo de casos de atropelamento e fuga, como o ocorrido no dia 29 de Outubro de 1891. Quando caía a noite, uma carroça que se
dirigia para a Póvoa de Varzim, onde ia buscar peixe para abastecimento da
cidade, atropelou um criado do visconde de Sendelo, nas imediações dos Pombais.
O desafortunado teve morte imediata. O condutor da carroça fugiu a grande
velocidade. Seria preso em Famalicão, a pedido da autoridade administrativa de
Guimarães.
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