Da beleza das mulheres de Guimarães

Retrato de minhota (cliché de Francisco Martins Sarmento)



Ah!, o senhor vai para o Minho?
– Vou; venha também, verá que céu, que natureza...
– E a água?
– Água excelente, água de rocha viva... E do Porto, as de Viana, as de Guimarães!
– Com que então diz-me o Sr. Almeida que há no Minho boa água, bom ar...
– E as mulheres mais bonitas de Portugal. Se o senhor visse as camponesas da Maia, as padeiras de Valongo e Avintes, as lavradeiras de S. Cosme e Fânzeres, as varinas de Espinho e Ovar! Não leu em Virey que as mulheres mais lindas que ele vira nas suas viagens foram as de Guimarães?

O trecho que acaba de ler saiu da pena de Camilo Castelo Branco e vem no último conto da colectânea “Doze Casamentos Felizes”, publicada em 1861. A graciosidade das mulheres de Guimarães tem sido cantada, ao longo dos séculos, pelos poetas, como Manuel de Faria e Sousa, que escreveu:

Na aldeia de Araduca celebrada
Pela rara beleza das pastoras

Pode-se pensar que a exaltação da beleza das mulheres de Guimarães é fruto dos devaneios dos poetas. Nada mais errado. A verdade é que essa é uma característica natural destas minhotas, que, há muito, é atestada por estudos científicos, de natureza médica ou antropológica. Veja-se o que escreveu o autor que Camilo Castelo Branco cita, o francês Julien-Joseph Virey, médico que se dedicou aos estudos antropológicos e que terá estado em Guimarães,  escreveu, na sua obra Histoire Naturelle du Genre Humain:

 “(…) les plus agréables Portugaises sortent de la ville de Guimanaens” (as mais bonitas portuguesas vêm da cidade de Guimarães).
Histoire Naturelle du Genre Humain, tomo I, La Haye, 1834, pág. 155

A observação deste erudito confirmada o que já constava numa outra obra de referência dos estudos científicos do século XIX, neste caso do ramo da medicina, o Dictionaire des Sciences Medicales, onde se lê:

"La ville de Guimanarez et ses environs sont peuplés des plus charmantes Portugaises, qui ont en général beaucoup de gorge, tandis que les Castillannes n'en ont presque pas."
Dictionaire des Sciences Medicales, Tomo XIV, Paris, 1815, 501

O que, passado a português, pode ser lido assim:

"A vila de Guimarães e os seus arredores são habitados pelas mais encantadoras portuguesas, que têm, em geral, muito peito, enquanto que as castelhanas não têm quase nenhum."

Quem não o sabia, que fique a saber.

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3 Comentários

Continuo a gostar, sobremaneira, da descrição de Oliveira Martins sobre as minhotas!
E eu confesso que não vou muito à bola com explicações rácicas para descrever seja o que for. Não sei bem o que seja isso da "estirpe céltica" a que supostamente pertenceriam as mulheres do Minho. Tirando isso, a descrição das minhotas de Oliveira Martins parece-me bastante adequada. No entanto, essa explicação não colide com o que vai acima, que não se refere às minhotas, mas sim às vimaranenses, que, não deixando de ser do Minho, antes de mais são de Guimarães...
Até o «meio-copião» do Miguel Esteves Cardoso gabou as mulheres do «Norte» (seja isso onde for!)