Despedindo-se o Lobo do Conde da Calheta para
ir viajar pela província de Entre-Douro-e-Minho.
Vou tentar grande Conde o duro Minho,
Que o Tejo para mim todo é barrento,
E como enfermo, que busca outro aposento,
Dá indícios de que à morte está vizinho:
Vou ter com a terra que produz o linho,
Que as Holandas afronta, e levo intento
De ver se é tão famoso no alimento
Em Melgaço o Presunto, em Ponte o vinho.
As muralhas da pátria, as contrafeitas
Ameixas de conserva açucaradas,
Tesouras, facas tortas e direitas.
Tudo verei, que o ver não custa nada,
Guapas contas Senhor estão bem feitas,
Mas não há um vintém para a jornada.
Neste soneto, também dirigido ao Conde da Calheta, António Lobo de Carvalho anuncia que vai partir para
o Minho, a tentar a sua sorte. Não obstante as referências ao presunto de
Melgaço e ao vinho de Ponte de Lima, que já à época eram celebrados, é Guimarães
que está no pensamento do Lobo: “a terra que produz o linho”, onde estão “as muralhas
da pátria”, onde se confeccionam “as contrafeitas ameixas de conserva
açucaradas”, que se chamavam “de Guimarães” e eram especialmente apreciadas na
Inglaterra, e se produzem tesouras e facas, “tortas e direitas”.
No fecho do soneto, percebe-se que o seu motivo era o do costume…
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