8 de Maio de 1863
À meia hora da tarde faleceu o conselheiro José Fortunato Ferreira de
Castro, na Rua da Fonte Nova. Nasceu em 1791, filho de José Ferreira Guimarães,
proprietário, e de D. Joaquina Teresa de Castro e Freitas. Em 1817 a 1818
estava formado em leis pela Universidade de Coimbra; em 1819 ou 1820 foi ler ao
Desembargo do Paço; em 1821 já estava despachado juiz de fora de Gouveia. Tendo
apoiado a revolução liberal de 24 de Agosto de 1820, principiou com a queda
dela o seu martírio político, porque tendo quase terminado o seu triénio de
juiz, foi demitido pelos seus ideais eminentemente liberais, ficando fora do
quadro da magistratura até 1828, ano em que, feita a revolução de 16 de Maio,
foi chamado ao Porto pela junta provisória e despachado juiz do crime desta
cidade, cargo que serviu até à queda da revolução. Culpado no Porto e em
Guimarães na devassa geral, assim como os outros liberais que tomaram parte na
revolta, teve de emigrar para Londres no vapor Belfast; passou depois a Bélgica
e ultimamente Paris, onde se demorou até que, restabelecido o governo de D.
Maia II, voltou ao reino e foi logo despachado subprefeito de Guimarães, cargo
que por pouco tempo exerceu. Foi eleito deputado às primeiras cortes do governo
da rainha e em 1838 despachado juiz da Relação de Lisboa, cargo que não
aceitou. Foi muitas vezes eleito deputado da nação por este círculo de
Guimarães, mostrando sempre a sua solicitude em promover o que fosse de
utilidade para o círculo que o elegia. Recusou o cargo de Governador Civil de
Braga, para que por vezes foi convidado, e até constou que tendo sido
solicitado para ocupar o lugar de Ministro da Justiça, não aceitou. Foi sempre
fiel ao partido progressista. - da "Religião e Pátria".
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da
Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 126 v.)
A sua memória não resistiu muito à erosão do tempo, mas José Fortunato
Ferreira de Castro foi uma das figuras mais destacadas do século XIX
vimaranense. Liberal convicto, apoiou a Revolução do 24 de Agosto de 1820. Com o
refluxo do liberalismo, seria objecto de perseguições, sendo afastado do seu
cargo de Juiz Durante a Usurpação miguelista, foi preso e acabou por partir
para o exílio. Esteve na Irlanda, na Bélgica e em França, de onde regressaria a
Portugal após a vitória de D. Pedro na Guerra Civil. Nesse mesmo ano, 1834,
seria eleito deputado por Guimarães pela primeira vez. Logo na sua primeira
intervenção na Câmara de Deputados, tratou de assuntos de interesse para Guimarães,
relacionados com o hospital, a cadeia e o cemitério. Seria eleito deputado
sucessivamente, até ao fim dos seus dias.
Pertenceu à célebre Sociedade Patriótica Vimaranense, tendo sido o
secretário da sua sessão preparatória, realizada no dia de 1835, onde foi
eleito para o cargo de vice-presidente e para integrar a comissão responsável
pela redacção dos respectivos estatutos.
Identificado com o movimento setembrista, a José Fortunato não lhe
faltaram inimigos e detractores na sua terra, onde era chamado por José de Bruxelas ou das
Campainhas. A certa altura, aquando das conturbadas eleições de 1838, foi conhecido
por “deputado contrabandista”. Por esses dias, o Periódico dos Pobres do Porto,
na sua edição de 22 de Outubro de 1838, publicava o seguinte anúncio:
"Anúncios.
Mr. Mouvemant, com loja de quinquilharias, faz saber ao respeitável público que
ele tem para vender uma máquina de destilar eleições oferecida ao Povo Soberano
pelo seu autor J. F.. Esta máquina, que trabalha a cacete e a punhal, acaba de
ser ensaiada com feliz sucesso em Guimarães na presença das Autoridades Civis e
Militares. Ela serve para eleição de Câmaras, Juízes de Paz, Juízes Ordinários
Junta do Distrito, Estados maiores, etc. Quem quiser comprá-la, para ver o
modelo que está patente no armazém eleitoral da Viela da Neta".
O autor da
máquina (J. F.) "era" José Fortunato.
Em Junho de
1853 foi-lhe concedido o título de conselheiro.
Morreu no
dia 8 de Maio de 1863. Passam hoje 150 anos.
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