Francisco de Holanda, página de De Aetatibus Mundi Imagines |
Acabo de percorrer a Portaria n.º
156-A/2013, de 19 de Abril, dos Ministérios das Finanças e da Educação e
Ciência, referente ao concurso de professores deste ano, para confirmar o que
ouvia dizer mas que tinha dificuldade em acreditar: que a Escola Francisco de
Holanda desaparecera do mapa. Uma busca rápida confirmou o que me diziam: sem
anúncio prévio, desapareceu a designação da Escola Secundária Francisco de
Holanda, de Guimarães, aparentemente engolida pelo Agrupamento de Escolas Egas Moniz. Como se
não bastasse a imposição, contra tudo e contra todos, do casamento forçado entre
a Francisco de Holanda e as escolas que estão agrupadas com a Egas Moniz, era
preciso ir mais longe e tratar do baptismo do fruto indesejado deste matrimónio,
passando com uma rasoira por cima de uma história e de uma identidade com quase cento
e trinta anos.
A Francisco de Holanda é a escola onde homens como António da Silva Cardoso, Joaquim
José de Meira, Abel Cardoso, António de Azevedo, José Craveiro, Hélio Osvaldo Alves,
Santos Simões, António Freitas, entre muitos outros, formaram sucessivas
gerações de vimaranenses. Criada, por exigência das gentes de Guimarães, num
ano que ficou gravado letras de ouro nos seus anais, é uma referência identitária
na cidade. Tem uma memória que honra e de que se orgulha. Merece respeito.
A propósito
do movimento que levou à criação da Escola Francisco de Holanda, recordo passagens
do que escrevi aquando da celebração dos 125 anos de 1884, o ano que mudou Guimarães:
Este
movimento fora lançado dois anos antes, com a criação da Sociedade Martins
Sarmento, que nasceu como homenagem a um cidadão de Guimarães que tinha
alcançado notoriedade e prestígio científico em Portugal e no estrangeiro, em
resultado das suas descobertas arqueológicas. Desde cedo a Sociedade Martins
Sarmento começou a desenvolver a sua actividade de “promotora da instrução
popular no concelho de Guimarães”, com conferências e cursos de desenho e de
francês essencialmente dirigidos a operários e a industriais, no pressuposto de
que, com a melhoria das respectivas competências profissionais, ficariam em
condições de concorrerem num mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Consciente de que aquilo que, por si só, a Sociedade Martins Sarmento era capaz
de oferecer não seria suficiente para cumprir o programa ambicioso que
desenhou, a sua Direcção resolveu recuperar um decreto que já levava duas
décadas sem que se procurasse aplicá-lo, dando corpo ao movimento no sentido de
reivindicar a sua concretização. Porque era de uma Escola Industrial que
Guimarães necessitava. A história do ano de 1884 em Guimarães foi, em larga
medida, a história do processo de reivindicação e de conquista de uma Escola
Industrial, então percebida como um poderoso motor de desenvolvimento concelhio.
Em 1884, Guimarães
conquistou a sua Escola Industrial. No dia 3 de Dezembro daquele ano, foi
aprovado o decreto que instituiu oficialmente o ensino técnico em Guimarães. Dois
dias depois, por portaria, foi-lhe atribuída a denominação de Escola Industrial
“Francisco de Holanda”. Esta escola, com os pergaminhos de uma história mais do
que centenária, há muito que é um elemento de destaque na paisagem cultural e social
de Guimarães. Será possível usar de ligeireza e insensibilidade na tomada de decisões
susceptíveis de desrespeitarem a identidade duma instituição com a sua dimensão e o seu peso? Pelos
vistos, nestes tempos estranhos que vão correndo, é.
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(Por outro lado, erro por erro, vem-me à memória outro: um dia, José Sócrates, então primeiro-ministro de Portugal, chamou Universidade de Braga à Universidade do Minho. Como resultado desse lapsus linguae, o Instituto Ibérico de Nanotecnologia acabou por ir para Gualtar, não sendo esse o lugar para onde estava destinado.)