Em
1873, segundo, os jornais, as festas dos estudantes a S. Nicolau “não passaram
desapercebidas”. No dia 5, saiu um bando, mas não conhecemos o seu texto, nem
quem o leu ou recitou. Os festejos terão sido, segundo o jornal Religião e Pátria,”
um pouco mais animados” do que nos anos anteriores. Porém, eram manifestos os
sinais de esmorecimento, que o mesmo jornal explica com o facto de ter deixado
de haver aula de latim em Guimarães, desde a aposentação do professor Venâncio,
que se deu em 1869. O certo é que as festas dos estudantes de Guimarães entrou
numa agonia que se entenderia por mais de duas décadas, apesar de algumas
tentativas para as fazer ressurgir. Assim aconteceu em 1881, altura em que já
funcionava o Colégio das Hortas. Alguns dos seus estudantes, auxiliados por
outros que ainda tinham direito de participar nas festas, fizeram-nas ressurgir.
No dia 5, houve a leitura do bando anunciador da festa do dia de S. Nicolau. Foi
lido por João António Afonso Barbosa e vem assinado com as iniciais J.
E. M. S. (João Evangelista de Morais Sarmento). É uma versão, encurtada e adaptada, do pregão das festas de de 1822.
BANDO
ESCOLÁSTICO
RECITADO NO
DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1881
POR
João António
Afonso Barbosa
Tudo em
torno de nós hoje é ventura.
Surgimos da
mais torpe sepultura,
Que
encerrava a mocidade estudiosa
Nas sombras
duma noite tenebrosa!
Mas inda bem
que Guimarães desperta
À voz do
estudante, gritando = alerta!
Todos a
Nicolau devem dar graças
Porque ele
aniquilou fatais desgraças!
Mas tu, oh
bela, ilustre Juventude,
Que a
ciência cultivas e a virtude,
Tu que já da
mais alta antiguidade
Usas
especial festividade,
Para honrar
Nicolau, qual neste dia
Não se deve
ostentar tua alegria?
Onde acharás
magnífico festejo
Igual ao teu
vivíssimo desejo?
Aqui, ali
exalçarás vistosos
De emblemas
cheios, carros majestosos!
Carroças de
triunfo adamascadas
De instrumentos
diversos carregadas,
Pelas ruas
com pompa irão rolando,
Os olhos, os
ouvidos encantando!
Ah! tudo é
pouco: a gratidão no peito,
Regozijo
demanda mais perfeito.
Uma ideia só
há que satisfaça
Só ela fecha
em si grandeza e graça.
Sois vós, oh
sexo amável, vós, oh belas,
Do mundo
social ricas estrelas;
Sois vós,
que de mãos dadas com o estudante,
A função
mais completa, mais brilhante,
Qual nunca
se tem visto fazeis hoje.
Vinde
ligeiras porque o tempo foge:
Deixai os
vossos fastidiosos lares
Vinde livres
folgar em livres ares.
Agora sim!
Mil vivas reboando,
Com pleno
gozo, os pólos vão tocando
Nosso desejo
agora é satisfeito:
Isto sim! é
prazer! prazer perfeito,
É função sem
igual! função de arromba,
Aqui reviras
tu, Inveja, a tromba.
Se não turbe
este gosto audaz pedante.
Que se o
faz, feito em pó é num instante,
Temos lei:
ignorância não se alegue:
Para que
esta notícia a todos chegue
É que à voz
do tambor que vai troando
Vou eu ao ar
este pregão lançando.
J. E. M. S.
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