Pregões a S. Nicolau (32): 1863



O pregão de 1863 voltou a ser escrito por José “Fatinho” Ferreira Mendes de Abreu. Segundo João Lopes de Faria e foi lido por Carlos de Castro Araújo Abreu, no mesmo dia, saiu um outro Bando em gosto chulo, que desafiou a gargalhada. À noite, houve cavalhadas. Segundo o mesmo João Lopes, algumas foram engraçadas.

BANDO ESCOLÁSTICO.
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1863
por Carlos de Castro Araújo Abreu.

De estudo sempre na contínua lida
O filho da ciência passa a vida.
Cruéis momentos e cuidados sérios
Ele consome a penetrar mistérios,
Que às vezes lá encontra a cada passo
Duma lição num bem pequeno traço.
Nesta lida que dias não atura,
Sem lhe sorrir a esperança de ventura?!...
Só agora, qual flor emurchecida,
Do Sol o mais intenso mui ferida,
Que, tocada do rocio doce e brando,
Toma outra vez alento, e renovando
Vai pouco a pouco seu passado brilho, –
Se manifesta da ciência o filho:
Que depois duma luta tormentosa
Momentos mais felizes hoje goza,
Saudando com transportes de alegria
De Nicolau patrono o fausto dia:
Esse dia de glória memorável
Nos teus anais, Guimarães notável.
Um dia... que o estudante sempre almeja,
Embora a posse dele inspire inveja
Ao vil escravo dum pensar estulto.
Que à ciência render não quer seu culto.
Mas... surge Guimarães! alerta! alerta!
Do letargo em que jazes, ah! desperta!
Que já se ouvem os ecos festivais
Prenúncio de folgares originais,
Que a nobre juventude estudiosa
Preparou como sempre donairosa,
Para celebrar a festa em que só brilha;
De cujo mimo mais ninguém partilha:
Excepto vós, primor da humanidade,
Em quem jamais faltou docilidade.
Sim: vós, filhas do amor, “humanas rosas”,
No amor firmes, constantes e extremosas,
Só, vós, por bem merecido galardão
Partilhais da escolástica função...
Amanhã, pois, tereis sincera prova
Desta fineza não decerto nova:
Colhendo às vossas mãos da festa a palmn,
– Rubicundas maçãs, enlevos de alma – ,
Que o estudante quer dar-vos como prenda
Destinada para vós na sua renda;
Anelando só ter em recompensa
Cordial amizade a mais intensa,
A criada de sala e a cozinheira
Motivo não terão para a chiadeira,
Pois serão nesta festa contempladas
Com nozes ou castanhas bem assadas
E haverá para a velha acoquetada
A rugosa maçã mais descorada.
Mas... alto lá… – silêncio! que me resta
Falar no que respeita a lei da festa; –
É só nela admitido quem no estudo
Se empenha em cultivar o espírito rudo;
Nenhum outro diploma tem valia,
Seja qual for a soa hierarquia;
E considere como se há-de havir
Alguém que este preceito transgredir,
Que não escapa à rigorosa pena...
Sendo a menor que a nossa lei ordena –
Um banho em água fria de mergulho
Entre apupadas e infernal barulho.
E… basta... Eia, colegas! o tambor
Ran-tan plan reproduza com vigor,
E os ecos festivais anunciando
De Nicolau o dia memorando
Excitem tão geral entusiasmo
Que tudo exclame com assombro e pasmo:
Santo maior não conta o calendário,
Nem reza doutro assim o breviário.
J. F. M. de Abreu.

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