Efeméride do dia: Comício contra a criação do concelho de Vizela

Cabeçalho do jornal Alvorada do dia 9 de Abril de 1914


8 de Abril de 1914
Grande reunião, promovida pela Associação Comercial que se constituiu na sala das suas sessões em assembleia geral conjunta com numerosos habitantes de todas as classes sociais da cidade e concelho, a fim de protestar contra o projectado desmembramento do nosso concelho, tirando-lhe bastantes freguesias para formar novo concelho em Vizela. Em virtude de o salão ser pequeno para conter enorme massa, depois de lida a acta da sessão anterior, por proposta do presidente, todos se dirigiram para o teatro de D. Afonso Henriques e aí se explanaram os trabalhos, ficando resolvido: - Que a Associação Comercial, de comum acordo com a Câmara Municipal e com todas as colectividades interessadas, empregue todos os seus esforços para obstar à desanexação de qualquer parte deste concelho e procure fraternalmente harmonizar quaisquer dissidências.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 21 v.)

As manifestações de vizelenses para a criação de um concelho separado do de Guimarães vêm do tempo da monarquia. Aquando da saída da rainha D. Maria II de Guimarães, depois da visita que lhe fez em Maio de 1852, era esperada em Vizela. A terra engalanara-se para receber a comitiva da família real, preparando-se para oferecer um banquete em honra dos monarcas e depositar nas mãos da rainha uma petição para a criação de um concelho com freguesias de Guimarães, Barrosas e Negrelos. A visita estava prometida, mas a rainha não apareceu, tendo seguido directamente para Santo Tirso. Se não foram atendidas as pretensões vizelenses, Guimarães teria o testemunho da gratidão da rainha pelo modo como foi recebida aqui: no ano seguinte, D. Maria II elevava Guimarães a cidade.
Com a instauração da República, ressurgiram as manifestações públicas dos adeptos do concelho de Vizela, que ganharam mais força na Primavera de 1914, provocando uma forte reacção dos defensores da integridade do concelho de Guimarães. No dia 8 de Abril daquele ano, convocada pela Associação Comercial, a população de Guimarães acorreu em força à sede daquela colectividade para se manifestar contra a divisão do concelho. Ali foi criada uma “comissão de defesa”, integrando a Associação Comercial, a Associação dos Proprietários e Lavradores e a Sociedade Martins Sarmento. Como o povo era tanto que não cabia na sala onde a reunião se ia realizar, a sessão foi deslocada para o Teatro D. Afonso Henriques, onde tomou a forma de um comício, em que usariam da palavra o Presidente da Câmara, Moreira Sampaio, o Presidente da Associação Comercial, Eduardo Manuel de Almeida e o redactor do jornal Alvorada, A. L. de Carvalho. Foi aprovada uma moção e, à noite, numa manifestação pública de regozijo, houve marcha aux flambeaux a percorrer as ruas da cidade, com um cortejo onde seguiam os estandartes das corporações vimaranenses.
Não seria a Primeira República a criar o concelho de Vizela.

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