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S. Nicolau, Amesterdão |
O Bando
Escolástico de 1858 foi novamente escrito por José Ferreira Mendes de Abreu (Fatinho) e recitado por João Pinto de
Queirós, tendo sido e impresso na Tipografia do A Tesoura de Guimarães, jornal
que noticiava o modo como o número pregão foi executado naquele ano:
No domingo saiu o bando a horas
competentes, com todo o asseio e boa ordem, fazendo o clarim calar os tambores
quando o pregoeiro recitava o bando escolástico, que deixámos transcrito. O
pregoeiro ia rica e elegantemente vestido e, o carrinho que o conduzia,
vistosamente ornado, podendo dizer-se bem de todos os máscaras, tanto de pé,
como a cavalo.
A Tesoura de Guimarães, n.º 226, Guimarães, 7 de Dezembro de 1858
RECITADO NO DIA 5
DE DEZEMBRO DE 1858.
POR
João Pinto de
Queirós,
Já sonorosos pelos
ares voam
Os ecos festivais,
que ovantes soam.
Ah! surge, Guimarães,
que vai de novo
Assomai
deslumbrante para o teu povo
Lindo sol, que espargindo
seus fulgores
Fará reverdecer já
murchas flores;
Trazendo por
contraste em mimos tantos
A meiga natureza
seus encantos;
E tudo pois envolto
num delírio
Já parece olvidar
cruel martírio.
É, sim, de Nicolau
festivo dia,
Que amanhã volve
cheio de alegria.
Ah! vós, formosas,
vós que num sorrir
Fazeis veras
delícias de um porvir,
Vós, ante quem se
abatem corações.
E cedem
ferocíssimos leões!
Vinde amanhã colher
viçosa palma,
E Condigno prémio
da firmeza de alma
Simbolizado na maçã
mimosa:
Qual outra oferenda
haver mais grandiosa,
Mais sublime, e tão
cheia de primor,
Que mais dê provas
de sincero amor?
Ah! que recordações
e mui fatais
Nos apresenta a
história em seus anais!
De fortes muros
Tróia guarnecida
Foi até aos
alicerces destruída!
Um pomo, uma mulher
causou tal guerra
Que em muito sangue
fez nadar a terra!!
Mas qual de vós se
mostrará ciosa,
Impondo gestos
carrancudos e irosa!? =
Que ginja da
ciência aos campeões
Queira usurpar os
foros e isenções!?
Atrevendo-se mesmo
sem vergonha
Com máscara cobrir
a carantonha!
Jamais de Nicolau
na festa ingente
Foi dado figurar
estranha gente:
Mal do que praticar
um tal delito-, =
Ai dele!!... em vão
exclamará contrito.
Ninguém o livrará
de ser molhado
No tanque do
Toural, e apregoado,
Qual levando
canastras, de sardinha
= Exclama = a
regateira: “eh! la fresquinha!”
Nem vós, mimo da
terra, lindas rosas,
Tristes soltando
preces lacrimosas,
Do castigo
isentá-lo podereis...
Ilesa respeitai as
nossas leis.
E para dardes
provas manifestas
De que sois
liberais, e até modestas:
Amanhã generosas sede,
sede,
É da ciência o
filho que isto pede.
À dama, que é só
dama, o estudante
Prefere a criadinha
mui galante
Quer na sala, e
entre vós, cosa assentada,
Quer more, na
cozinia enfarruscada.
Deixai, que, nas
janelas, as primeiras
Figurem, entre vós;
de companheiras;
Que as segundas de
rosto lavadinho
Espreitem por
detrás, lá num cantinho.
Mas, ah!...
formosas, lembra-me o balão’!...
É mania francesa de
nação -
Esta lembrança
inspira tal horror,
Que impressões mais
não posso ter de amor! =
Avante, ò sócios
meus, fazei patente
Do grande Nicolau o
dia ingente:
Ao tambor, ah!
lançai esforço tanto,
Que o estrondo seja
tal, que faça espanto =
Que trema a terra, o céu, e o mar profundo,
E os ecos vão topar
no fim do mando.
J. F. M. d’Abreu.
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