Igreja de S. Miguel do Castelo num postal do início do século XX. |
30 de Abril de
1236
O Arcebispo D. Silvestre
sagrou a igreja de S. Miguel do Castelo.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade
Martins Sarmento, vol. II, p. 78)
A igreja de S. Miguel do Castelo
ocupa um lugar especial no imaginário da fundação da nacionalidade. Está profundamente
enraizada a convicção de que foi aí que foi baptizado o filho dos condes
Henrique e Teresa, Afonso Henriques, que se faria primeiro rei de Portugal.
Em finais do século XVII,
escrevia o padre Torcato Peixoto de Azevedo:
Nasceu el-rei D. Afonso Henriques
na vila velha de Araduca em 1094, e na paróquia de S. Miguel foi baptizado pelo
arcebispo de Braga S. Geraldo, na pia que depois se trasladou para a real
colegiada, aonde se venera.
Dois séculos depois, escreveria
o Padre António Caldas:
No século XII, gozando da
preeminência de capela real do conde D. Henrique e de sua mulher D. Teresa, que
viviam no vizinho castelo, forneceu esta igreja as águas do baptismo ao
infante, que os portugueses mais tarde levantaram por seu primeiro rei.
Para a consolidação de uma tradição, tanto servem os contributos das lendas como os dos factos históricos. É assim com a tradição que diz ter sido Afonso Henriques baptizado na igreja de S. Miguel do Castelo: não
há qualquer base, a não ser essa mesma tradição, que permita afirmar que Afonso
Henriques, nascido no princípio do século XII, tenha ali recebido a água do baptismo. Existe, aliás uma impossibilidade cronológica: a pequena
igreja de S. Miguel do Castelo só seria construída meio século depois da morte de Afonso Henriques, tendo sido sagrada pelo arcebispo de Braga no ano de 1236
(conforme constava numa inscrição exposta na sacristia, transcrita pelo
padre Caldas).
Apesar de ter sido sagrada pelo arcebispo, a igreja de S. Miguel do Castelo poderá ser um dos primeiros sinais de rebeldia dos religiosos da Colegiada de Guimarães, que a mandaram erguer, contra a autoridade do arcebispo de Braga. No seu estudo sobre esta igreja, Manuel Monteiro, especialista em arte
românica, concluiu que, pela sua simplicidade arquitectónica, teria sido construída
em manifesta desobediência às orientações normalizadoras ditadas pela sé bracarense.
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