Na Revista Universal Lisbonense já se praticava o jornalismo de faca e
alguidar, ainda hoje muito em moda, dando
forte contributo à venda de folhas papel com tinta que se publicam entre nós.
Quanto mais escabroso fosse o acontecimento, mais apetecível era para o
público. Um exemplo deste género jornalístico é a notícia de um crime sangrento
ocorrido em Tabuadelo no dia 2 de Abril de 1845, que a seguir se transcreve.
CONJUGICÍDIO E PARRICÍDIO
No lugar da Divisa, freguesia de
S. Cipriano de Tabuadelo, distrito de Guimarães, dormia ainda na sua cama na
manhã de 2 do corrente António José Pimenta, descansando dos trabalhos da
véspera para os do dia, porque era com o suor do seu rosto que sustentava sua
mulher e sua filha de idade de 12 anos, - quando, pelo aposento, entrou sem
arruído aquela mesma, que talvez pouco havia lhe tinha saído de entre os braços;
vem acompanhada do fruto dos seus mútuos amores e traz nas mãos apertada uma
grossa chuça de ferro: - porquê? - e para quê?!... À primeira destas perguntas
não se sabe, nem seria fácil responder: à segunda responde o espectáculo que,
poucos minutos após, estava presente a todos os olhos da povoação.
O ferro homicida entrara pela boca,
rompera a língua e o esófago do dormente; rasgara-Ihe a sobrancelha e a orelha
do lado direito, deixando na passagem roto crânio: outras feridas se viam no
rosto e no ombro esquerdo
Ao cabo de cinco dias de martírio
estava a ensanguentada vítima requerendo vingança do tribunal divino.
Revista Universal Lisbonense, volume 4, 24 de Abril de 1845, p. 485
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