Aos anos de Anselmo José da Cruz Sobral, a
quem o autor era muito obrigado.
Quando alguém me encontrar posto
na rua
De meias brancas, de vestido
novo,
Com gesto honrado, qual Juiz do
Povo,
Que à esquerda leva a própria
mulher sua:
Quando virem que à laia de
charrua
Que vem de Holanda cheia como um
ovo,
De proa joga o vulto deste Lobo,
Que rompa, ou rasgue, atrás não
arrecua:
Quando um zoilo com outro assim
porfia,
Se esta minha bazófia ocultos
canos
Terá na santa casa ou obra pia:
Vão à folhinha ver esses
pastranos
Que hoje mesmo é que faz (oh que alegria!)
Meu grande Anselmo os seus felizes anos.
Anselmo José da Cruz Sobral era um burguês lisboeta,
que na indústria e no comércio seguiu os passos do seu pai, um antigo
marceneiro. Andou por Génova, onde se adestrou nas artes dos negócios e se
casou. De regresso a Lisboa, aí se instalou em definitivo, como um próspero homem
de negócios. Em 1770, seria feito fidalgo por D. Maria I. Como se percebe por
este soneto, o “grande Anselmo” seria um dos mecenas da vida boémia do Lobo.
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