Cartaz holandês alusivo a S. Nicolau |
Em 1851, repetiram-se o autor e o recitador
dos dois anos anteriores. Este é o quinto bando escrito por João Machado
Pinheiro (Pindela), e não seria o
último, e o terceiro declamado por Sebastião
da Costa Leite.
Pregão Escolástico
Recitado por Sebastião da Costa Leite
NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1851.
Ah! surge,
Guimarães! de novo à vida
Vove, volve
outra vez, Pátria querida;
Vem nos
gozos dum dia esquecer tantos
De dores, de
sofrer, do amargos prantos.
Ah! surge,
Guimarães, que está chegado
Dia de
Nicolau tão desejado,
Que amanhã
raiará risonho e ledo,
Votado ao
prazer, dado ao folguedo.
Ah! não só,
Guimarães, te brinda a terra,
Também
quanto de bum o Empíreo encerra:
Calíope, não
vês vir a seus filhos
Estro novo
ditar e novos brilhos,
– Essa da
poesia astro luzente
Que prende
os corações tão brandamente?
Tudo em
volta de nós vos pressagia,
Que amanhã
reinará fausta alegria:
Vereis
danças louçãs e exibições...
Que chistes
ouvireis de mil ratões?...
Mas não
penses (oh! não) que o nosso dia
É pera todos
geral na grão folia.
Valete
namorante, ou chinfrim oco,
Que leva a
cada canto o amante soco,
– Patrulha
noite e dia sempre certa,
Que faz
andar o pai de olhinho alerta –
Não meta cá
nariz (bem alto o digo)
Que o tanque
do Toural tem para castigo.
E vós,
mimoso dom mandado à terra
Como para
quebrar fúrias da guerra,
Vós, em
frente de quem (oh! força rara!)
O Marte mais
feroz trepida e pára,
Formosas,
amanhã vereis prostrados
– Ante vós,
ante amor embriagados -
Os filhos de
Minerva (que ò estudante
Vassalagem
só presta à sua amante);
E por entra
mil falas extremosas,
Mil
requebros de amor, vereis, formosas,
Ofertar-vos
o pomo lindo e liso,
Qual o que
Eva tentou no Paraíso.
Formosas,
amanhã vinde portanto
De mil votos
de amor gozar o encanto.
Vinde ouvir
um = sou teu = d’alma nascido
Com que
força e afã é repetido.
E tu, ò
governante austera e dura,
Antídoto
cruel contra a ternura,
Não julgues
que amanhã possas ainda
A rouca
proibir – esbelta e linda –
Da janela
aparecer – toda puxada –
A maçã
receber mais descorada.
Repara que,
se fores indulgente,
De castanhas
terás também presente;
E se tirana,
então bernarda temos,
E protocolos
cá não os sofremos;
Que o dia de
amanhã tem por divisa
Liberdade, e
a paz por só baliza.
E vós, ò
sócios meus, única esperança
Da Pátria a
quem a dor definha e cansa,
Avante!
anunciai nesses tambores
O dia de amanhã,
dia de amores;
E a fama,
com cem bocas pregoeira,
Diga ao mar,
ao espaço, à terra inteira
Em voz
altissonante e o mais festiva:
= Oh! viva
Nicolau! Guimarães viva! =
J. M.
Pinheiro.
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