S. Nicolau. Notem-se as maçãs na mão esquerda |
O
pregão de 1850 foi o quarto que o futuro Visconde de Pindela compôs. O pregoeiro
foi o mesmo do ano anterior, Sebastião da Costa Leite.
Bando Escolástico
Recitado por Sebastião da Costa Leite no dia 5 de
Dezembro de 1850
Um
ano entre o sofrer, entre a agonia,
Acaso,
ò Guimarães, poder teria
Para esqueceres o dia idolatrado
Que
é para ti – só para ti – dos Céus mandado?
Dia
de Nicolau, votado ao gozo,
De
mil lucubrações prémio ditoso?
Ah!
não. Inda conservas na memória
Um
dia para ti de tanta glória.
Exulta,
ó Guimarães pois amanhã
De
novo volve a ti festa louçã,
Que
os filhos de Minerva hão-de à porfia
Torná-la
cada vez de mor valia,
Hão-de
em tudo mostrar tal gosto, e graça
Que
dum ano o penar esquecer nos faça.
E
vós, mimo do Céu, da terra ornato,
De alados Querubins modelo exacto,
Que
nas trevas da vida sois aurora
Que
luz toda ventura a quem adora,…
Vinde,
vinde amanhã tornar, formosas,
O
nosso Guimarães jardim de rosas;
Vinde,
vinde e vereis como o Estudante
Se
mostra cada vez mais fido amante;
E
na linda maçã que ofertará
Que
mil fatias de
amor vos não dirá!
Pois
se o lábio são diz o que a alma sente,
O
diz um mudo olhar num só repente.
E
vós de quem amor batendo a asa
Fugiu
para não voltar-vos mais a casa,
Não
julgueis que por estar já no descarte
Na
festa de amanhã não tereis parte;
Trazemos
um dever sempre à memória
Que
é: Padrões respeitar da nossa história.
De
castanhas tereis repleta enchente
Mas
cuidado em que o fole não rebente...
E
tu, ò meu janota espartilhado,
Julgas
que por trazer chapéu ao lado,
Colarinhos
sem fim, vara na mão,
Mantinha
à Joinville
alto tacão,
Podias
amanhã, todo flamante
Entrar
nestes folguedos de
Estudante?
Ah!
nem penses em tal que num segundo
Ao
tanque do Toural vais ver o fundo.
Não
te vale o ser mesmo um figurino
Para que deixes de ter um tal destino;
Que
o estudo cultivar de
altas ciências
Não
é um toucador, não são essências.
Agora,
sócios meus, eia! aos tambores!
Que
atroem Guimarães, seus arredores!
Avante!
que ninguém duvidar possa
O
que vale amanhã a função nossa!
Que
o mundo brade em voz alta e clara
Guimarães,
Guimarães quem te imitara.
J. M. Pinheiro.
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