S. Nicolau |
Em 1839
houve festa, mas dela não nos chegou mais notícia do que a composição da
comissão de festas. Nada se sabe o pregão daquele ano: se foi recitado ou não, nem, se o foi, quem o escreveu e quem o leu. Também não sabemos muito das
festas a S. Nicolau do ano de 1840, mas sobreviveu o pregão que foi lido no dia
5 de Dezembro a anunciar a festa do dia seguinte. Não há registo do seu autor
nem do pregoeiro.
O pregão de
1840 é uma variação sobre os temas do costume, sem qualquer referência
à realidade política e social daqueles dias.
Bando
escolástico – 1840
Bem-vindo
seja de Dezembro o quinto,
Dia que par
é de amanhã, só conta-se, (?)
Dia de
Nicolau tu me anuncias,
Dia de
Nicolau é mago dia.
Tão doce soa
que parece até
Que quem
Nicolau diz, nos diz amores.
Briosa
mocidade, que por dita
Tens de
augusta Minerva aberto o alcáçar,
Exulta, que
raiar a luz vai prestes,
Que a vida
traz aos definhados sócios.
Negros
cuidados, despeitosas lidas,
Despe de
alma cansada; exulta, exulta.
Foros, que a
antiguidade nos legara,
Na temporal
cadeia de elo a elo
Hão-de
intactos passar ao porvir nosso,
Hão-de intactos
prender na eternidade.
O lugar do
foral lá nos espera,
Reunir-nos
ali é quanto cumpre
Para dar ao
dia nome e glória infinda.
Mas quê?
Cautela, petimetre ousado,
Não penses
por vestir um casaquinho,
Branca luva
calçar, que esconde os calos
Da grossa mão
e por calçar coturnos,
Que o jambo
pé maldiz por malcriado,
Que hás de
também cingir altas insígnias
Aos filhos
de Minerva, a nós só dadas.
A máscara em
tal dia é um privilégio,
E quem o
arroga sem lhe ser devido
Há-de cara
pagar sua ousadia;
Banho de gelo
em chafariz espaçoso
As carnes
arrepia em fria quadra;
Pois tal é a
sorte, que o audaz espera,
Que
empreender tresloucado um tal arrojo.
Sexo amável,
também quinhão partilhas
Na grandeza
sem par deste almo dia.
E que fora
sem ti a juventude?
Se tu não foras,
que contara a história?
Um riso
aprovador, que a nossos brincos
Desse lábio
escapar, botão mimoso,
Da que a
Aurora orvalhou púrpura rosa,
Nos seios de
alma brios nos embebe,
Valor,
coragem, pelas veias coa,
Será cada um
de nós, cada um amante,
Por teus
influxos paladino valente.
Puros
brindes então de amor primícias,
Gostosos nós
faremos à porfia.
O rubro
pomo, que assemelha a face,
Que do seio
pulando o pejo cora,
Colha de
neve a mão, que torneada
Sôfregos
beijos desafia a centos.
Vede que é
cofre de segredo às vezes,
Pevide
encerra donde amor se gera.
Sexo de
graças, feiticeiro sexo,
Que num só
vaso, confundido, encerras
Néctar de
vida com letal veneno,
Farol serás,
que nos aponte o porto,
Que da lida
salvar nos há-de.
Um mimo, um
mimo teu, nos seja o prémio,
Temos
ganhado a desejada coroa.
Eia, sócios,
aos ares levantemos,
Entre
musicais sons um viva de alma:
– Viva de
Nicolau o excelso dia!
FIM
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