[À atenção do Miguel Bastos]
O
culto a S. Nicolau está profundamente enraizado na tradição europeia. Ele é o padroeiro
da Rússia, da Noruega e da Grécia e o protector dos marinheiros, das prostitutas e das crianças (e, por extensão, dos meninos do coro e dos estudantes). A
origem das manifestações de devoção ao Bispo de Mira, que terá falecido no dia
6 de Dezembro do ano de 342, perde-se nos confins da idade Média, espalhou-se
pelo mundo e deu forma a uma enorme diversidade de manifestações. S.
Nicolau é uma entidade do Bem. No entanto, tem uma sombra maléfica: Krampus.
Krampus é um mafarrico em figura: normalmente é representado com pele, pés e cornos de bode, com uma língua muito comprida.
Krampus
(nome que deriva do alemão antigo Krampen,
com o significado de garra) é um ser fantástico que está presente na tradições
do Natal e do período que o antecede nos Alpes e em países como a Áustria, a
Alemanha, a Alsácia, a Suíça ou a Eslovénia. Sai à rua pela primeira vez no dia
5 de Dezembro, tal como S. Nicolau. Ambos representam papéis diferentes. Se Nicolau distribui presentes pelas crianças
bem comportadas, Krampus invade as casas onde moram as crianças que se portaram mal, foram desobedientes ou mentirosas. Pode levar um saco,
como S. Nicolau, mas nele não carrega presentes: servirá para meter nele e levar
consigo as crianças ruins. É, no fundo, uma versão mais aprimorada do nosso homem do saco.
Krampus é a versão cristianizada de um demónio perverso que trilha os
mesmos caminhos do bondoso S. Nicolau, que tem a função de lembrar às crianças
que só serão recompensadas se praticarem o bem. Caso contrário, serão
castigadas por um demónio aterrador.
Krampus representa o instável equilíbrio entre forças contrárias, representações da eterna dualidade maniqueísta que ao bem opõe o mal. Entre
nós, ninguém o conhece, mas ainda hoje, em muitas terras dos Alpes os jovens,
mascarados de Krampus, andam à volta de S. Nicolau durante as duas primeiras
semanas de Dezembro, numa procissão com contornos carnavalescos, com muitas
tropelias e grande algazarra. Estas tradições, aparentemente tão diferentes das
nossas Nicolinas, têm vários pontos de contacto com as festas dos estudantes
vimaranenses: são folias de rapazes e de mascarados, cujos momentos mais importantes
acontecem a 5 e 6 de Dezembro.
As Danças de S. Nicolau têm o Afonso de língua farpada, a D. Muma com as suas proeminentes prateleiras, o camareiro abichanado, o truão atoleimado. Têm, até, o santo bispo mais as suas intermináveis benzeduras. Para completar o quadro vicentino, talvez lhes falte uma emanação das trevas para fazer ressaltar ainda mais o fulgor de tanta santidade. Se calhar, não faria ali má figura uma sombra para S. Nicolau.
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