José Luciano de Castro |
31 de Março de 1886
União ao
Porto - A comissão de vigilância de Guimarães, a respeito da questão
brácaro-vimaranense, resolve: 1º A comissão de vigilância toma na devida
consideração as declarações solenemente feitas pelo Governo nas duas casas do
parlamento acerca do modo como pretende resolver o conflito de Guimarães; 2 º A
autonomia municipal, como foi proposta pelo presidente do conselho, José
Luciano de Castro,"não mais procuradores à junta geral, não mais um ceitil
para o distrito", com quanto que não seja aquilo que primariamente
pedimos, é honrosa à cidade e concelho de Guimarães; 3 º Se depois de
promulgada a nova reforma administrativa, a cidade e concelho de Guimarães não
julgarem satisfeitos a sua dignidade e os seus interesses, continuaremos
pugnando pela solução que satisfaça aquela dignidade e interesse; 4 º A
comissão reunir-se-á ordinariamente, com até hoje, às quintas-feiras e
extraordinariamente todas as vezes que for necessário, para tratar de todos os
assuntos relativos à questão.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses,
manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. I, p. 318 v.)
José Luciano
de Castro havia assumido a presidência do Governo de Portugal na sequência da queda
do último Governo de Fontes Pereira de Melo, que o conflito que se ateara a
partir do dia 28 de Novembro de 1885 ajudara a abater, pelo que se percebe que
a procura de uma solução para aquele litígio fosse uma das primeiras preocupações
do novo chefe do Governo. Não tardou muito a apresentar uma solução, que
visava apaziguar os vimaranenses que defendiam a saída do concelho do distrito
de Braga e a sua integração no distrito do Porto. Propunha-se conceder a
Guimarães o mesmo regime de autonomia de que gozava o concelho de Lisboa. A
proposta foi recebida em Guimarães com sentimentos díspares, como se pode ver
pelo seguinte texto, então publicado no jornal O Entusiasta, que nasceu para defender a causa da União ao Porto:
Autonomia
A palavrinha
tão eufónica, tão musical, dizem que na sua análise etimologia, se desdobra em
duas gregas autos, próprio, e nomos, lei.
Quando o
governo nos prometeu a autonomia, em vez da desanexação, logo entendemos que nos
falava em grego; de tal modo o fez que
parece que a palavra se tornou a ainda mais grega, visto que a autonomia do município
de Lisboa virá para nós com modificação
sobre modificação.
Se pois o
governo, na sua ciência de perverter o sentido genuíno das palavras julga que
autonomia se escreve errado, e a converte automonia,
com origem em auto e monos? Prega-nos o mono! Então é que nos
confunde, nos intriga, nas atrapalha.
E se, por
causa das modificações, nos dá uma autonomia modificada, atenuada, de meia ração?
Prega-nos o
mono!
E se, como
no projecto de 1880, a palavra não corresponde ao facto nem sequer por um
ditado?
Prega-nos
maior mono!
E se nem o
título nos concede?
Prega-nos o
maior dos monos!
Pois visto
isso, nada de demoras.
Venha isso,
seja o que for, quanto antes, queremos desenganar-nos.
O
Entusiasta, n. º 4, Guimarães, 4 e Abril de 1886
Para saber mais: O conflito brácaro-vimaranense nas Memórias de Araduca
0 Comentários