Antigo Convento das Capuchinhas de Guimarães (hoje, Oficinas de S. José) |
Na sua edição do dia 25 de Julho
de 1844, a Revista Universal Lisbonense
traz uma notícia onde se dá conta de uma exibição no teatro do Porto, cuja
receita reverteria para as freiras Capuchinhas de Guimarães, dos cantores de
ópera Sra. Olivier e Sr. Sermallei. A notícia é atravessada por
uma manifesta ironia, que se percebe, por outros textos publicados pela mesma revista,
da antipatia que os seus redactores dedicavam àqueles artistas.
HARMONIA ENTRE O MUNDO E O ERMO
Quais serão
no orbe moral os antípodas de um convento de capuchinhas se não forem os dos
virtuosos escriturados? e quais serão os antípodas de um teatro de ópera se não
for um convento de capuchinhas? Pois… coisa inaudita!... acabámos de ver
trabalhar entre estes antípodas um telégrafo eléctrico de amor.
A Sra. Olivier e o Sr. Sermallei fizeram no teatro do Porto um benefício para as velhas e
desamparadas religiosas capuchinhas de Guimarães, que lhes rendeu 240$ réis (o domine, lábia mea aperies ás sopas della
mia felicitá!).
As santas
religiosas agradeceram ao Sr. Sermallei e à sra. à Sra. Olivier numa carta
muito bem concertada, em que se falava mais de Deus do que de Donizetti, em que
rematavam prometendo-lhes a glória, não a dos folhetins, mas a eterna: e com
esta carta lhes mandaram algumas caixas de doces finos, obra de suas mãos, tão
saborosos no seu género como as caritativas árias tinham sido no seu.
Revista Universal Lisbonense, volume 4, 1844-1845, 25 de Julho de
1844, p. 11
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