Cristino, ou o castigo da soltura



Cristino era um famigerado malfeitor que actuava, em meados do século XIX, em terras de Guimarães, na região das Caldas de Vizela. Tido por ladrão e assassino dos mais terríveis e afamados, um dia apanhou um tiro que o levou ao hospital de Guimarães, de onde acabaria por fugir, temendo ser preso. Voltaria a ser apanhado, mas, por circunstâncias de natureza política, receava-se que fosse mandado em liberdade. A notícia foi enviada para a Revista Universal Lisbonense pelo seu correspondente em Guimarães, Silva Pereira.

SINGULAR MANEIRA DE PUNIR LADRÕES

Os arredores das Caldas de Vizela são, há largo tempo, avexados de bandidos: Cristino, um dos mais terríveis e afamados, fora, em certa expedição das suas, levemente ferido, com um tiro no pescoço, pelo que o recolheram ao hospital da Misericórdia de Guimarães; poucos dias aí permaneceu: receando que a justiça aproveitasse o lanço para o autuar, fugiu. O regedor de paróquia da próxima freguesia de S. João das Caldas conseguiu prendê-lo, mas é voz pública na vizinhança que, em consequência dos depoimentos das testemunhas, que devidamente o culparam, este famigerado ladrão e assassino vai ser rigorosamente castigado… com a soltura!!! e presume-o assim a opinião pública porque o roubo que deu ocasião à sua prisão foi cometido contra o pároco, homem que noutro tempo pertencera ao partido de D. Miguel. Sobre a probabilidade deste escândalo faz mui judiciosas e tristes reflexões o nosso correspondente de quem recebemos a notícia, o sr. Silva Pereira.

Revista Universal Lisbonense, volume 2, 1842-1843, 22 de Setembro de 1842, p. 20

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