Érico Veríssimo: um almoço em Guimarães em 1959 (1)


A 19 de Fevereiro de 1959, desembarcou em Lisboa o escritor brasileiro Érico Veríssimo (1905-1975), na companhia da sua mulher, Mafalda Halfen Volpe, e do seu filho, o também escritor Luís Fernando Veríssimo. Naquela “fria manhã de fim de inverno, sob um céu tão azul e límpido que seria uma insensatez procurar adjectivos raros para qualificá-lo”, esperavam-no, no cais, entre outros, o seu editor português António de Souza Pinto e o escritor Jorge de Sena. Depois de uns dias em Lisboa e arredores, partiriam de “Lisboa para visitar as províncias de aquém e além-Tejo. O veículo? Um automóvel alemão B.M.W. O piloto? Souza Pinto. O navegador e guia? Jorge de Sena. Os passageiros? A trinca Veríssimo.”


O relato da viagem de Érico Veríssimo por terras de Portugal em 1959 ficou  no segundo volume da sua obra Solo de Clarineta”, editado postumamente em 1976. A sua passagem por Guimarães ficaria marcado pelo “memorável almoço de Guimarães”. Aqui fica:



Prosseguimos a viagem, sempre para o norte, rumo de Braga, onde não tínhamos nenhum compromisso com estudantes, grupos literários ou livreiros. Dedicamos um par de horas à velha Bracara Augusta, fundada pelos romanos e na antiguidade ponto de irradiação de cinco importantes estradas militares. Ocupada pelos suevos, arrasada pelos árabes, apagou-se durante quatro séculos de decadência, ao cabo dos quais ressurgiu, tornando-se um dos centros religiosos mais importantes de Portugal. Nesta nossa pressa quase cómica mal relanceamos os olhos por suas igrejas, capelas, conventos, santuários, claustros. Não podíamos esquecer que estávamos sendo esperados com um almoço especialíssimo na vetusta Guimarães, considerada o berço da nacionalidade portuguesa.

(…)


Braga merecia pelo menos cinco de nossos dias inteiros, para que começássemos a conhecê-la, a senti-la bem em profundidade e mesmo em superfície. Mas eis que, pobres mortais, chegamos os cinco à conclusão de que estamos todos com uma certa fominha. Entramos num café para comer algo leve que nos mantenha os estômagos iludidos até à hora do almoço guimarantino.

(…)


De novo tomamos a estrada. "Sabem que horas são?" — pergunta Souza Pinto. — "Uma e meia da tarde. Já devíamos estar chegando a Guimarães." Lembro-me de que o almoço nessa cidade não é nosso único compromisso neste dia.

(…)


Continuamos a jornada na direcção de Guimarães.


Jorge de Sena surpreende-me com a informação de que o nome da histórica cidade é de origem germânica. Sua forma original era Wimara, que deu em Guimara, pois era comum na língua portuguesa o w germânico transformar-se em gu. A forma Vimaranis — diz ainda Jorge — é encontrada duas vezes nas Inquirições de 1258.

(Érico Veríssimo, Solo de Clarineta, Editora Globo, Porto Alegre, 1975)

[continua]

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