Guimarães, segundo Craesbeeck (4)


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4. Sobre o terreno, fundadores e sua antiguidade temos já tratado; e quanto aos ares é o sítio fresco, airoso, em tudo propício à propagação humana e procriação dos frutos, tão aprazível aos olhos, que vista de longe de um Infante Português, sujeita ao inferior domínio, disse: - Quem te deu, não te viu; que se te vira, não te dera. - Cinco mil fontes, de copiosas e cristalinas correntes, inundam o terreno, fertilizando os campos e regalando os corpos, formando multiplicados ribeiros, que incorporados no precipitado Ave e fresco Avizela, desafogam no Oceano o túmido da sua inundação copiosa. A frugalidade dos mantimentos recomendam mais de cinquenta mil cruzados que os dízimos rendem às igrejas, e não menos que ao Príncipe nas suas sisas, tributos e próprios; desta rendosa soma se colhera a opulência de sua riqueza nos frutos naturais; para a multiplicação destes amontoou Ceres as espigas e acumulou Baco os cachos, dando-se as mãos; ocupa este os extremos no levantado das árvores, dando posse aquela do estendido dos campos: ambos em competência úteis, em conformidades férteis; não se queixa Baco ver-se menos suave, por ver a Ceres mais loura; as sementes são trigo, e milho branco, primeiro conhecido em Itália no tempo de Plínio, abundante copa do grande, que de poucos anos a esta parte fertilizou toda a Lusitânia; cevada menos, por se escusar com o milho; todo o género de legumes, e toda a variedade de hortaliças que frutificaram como nos mais terrenos; e como se diz da Campânia, não se avantaja a frugalidade com um só fruto, senão com a multiplicação deles: nas mais férteis terras produz um campo uma só vez e neste três frutos brotam cada ano uma seara; parece incrível de verdade se a experiência a não abonava; e nas mesmas terras se produz o pão, o vinho, as frutas e as hortaliças; na limitação do terreno se multiplica quanta nas mais dilatadas campinas tributa a natureza: de sorte que não inveja a estendida largueza do Alentejo. Na criação e multiplicação dos gados excede as mais terras das outras províncias, por em seu terreno se criar inumerável gado.

(in Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre-Douro-e-Minho no ano de 1726, Edições Carvalhos de Basto, Lda., Barcelos, 1993,pp. 83-84)
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