Abre-se, finalmente, um novo ciclo na preparação da Capital Europeia da Cultura. O tempo perdido já não se recupera, mas acredito que ainda se vai a tempo de fazer de 2012 um momento único na história de Guimarães e uma oportunidade de celebração colectiva.
Aqueles que conheço, dos que agora chegam ao novo Conselho de Administração da FCG, são excelentes escolhas que têm que ser creditadas a benefício de quem os escolheu. Paulo Cruz é, como tem sido repetido, como se sê-lo fosse defeito, um académico, mas é também um homem de cultura, com sólido currículo e provas dadas. Fortunato Frederico é um empresário bem sucedido, mas também é um homem com preocupações sociais, que tem apoiado actividades culturais em Guimarães, e que pode dar um bom contributo para o que ainda é possível fazer-se numa das áreas que tem sido vista como uma das batalhas perdidas da CEC, a regeneração económica. O regresso de Carlos Martins ao processo constitui uma garantia de que ainda é possível (re)construir uma CEC envolvente e coerente com um pensamento articulado.
Porque não há tempo para estados de graça, o novo CA da FCG não terá direito a mais do que o benefício da dúvida da parte de todos aqueles que, ao longo de dois anos, foram acumulando desconfianças e resistências ao modo como o processo da construção da CEC foi conduzido. Terá que partir dos novos responsáveis da FCG o estímulo mobilizador que seja capaz de trazer os cidadãos de Guimarães para um projecto do qual foram afastados com menosprezo e sobranceria.
O problema da CEC2012 nunca foi uma questão de pessoas, nem uma dificuldade de discurso, pelo que não basta mudar as pessoas, nem ajustar o discurso. A origem do problema sempre esteve na distância que ia entre o dizer e o fazer, entre o discurso cativante, que elevava as expectativas, e a prática redutora que afastava as pessoas e projectava para o exterior uma imagem negativa de Guimarães, ferindo a cidade na sua auto-estima. Já não bastam as palavras para curar as feridas abertas. Esta é a hora de passar aos actos que regenerem a esperança.
Sejamos realistas: não é possível, nem desejável, reiniciar todo o processo. 2012 é já ali. Mas ainda se vai a tempo de corrigir parte dos erros e das omissões em que se incorreu. Impõe-se que se reflicta sobre o que foi feito, sobre o que não foi feito e sobre o que ainda é possível fazer-se. Para guião desta reflexão, sugere-se a (re)leitura do documento da candidatura ao título de Capital Europeia da Cultura.
2 Comentários
1. O presidente da FCG sente-se confortável com a dimensão dos poderes que lhe são atribuídos pelos estatutos da Fundação e com a ausência da obrigação de prestação de contas à CMG e à SEC?
2. Pondera o presidente da FCG tomar a iniciativa de propor, a quem de direito, a revisão dos estatutos?
3. Será que o presidente do CA vai tomar alguma iniciativa no sentido de promover a sua revisão imediata dos salários da FCG?
4. Será que o novo CA entende que o regime de trabalho em part-time é compatível com as funções de programador e com a dimensão das verbas que recebem?
5. Quais são as regras da FCG para a contratação de colaboradores e para as remunerações que lhes são atribuídas?
6. A FCG vai continuar a praticar um horário de entrar ao meio-dia e folgar à tarde, praticado por alguns dos seus colaboradores?
7. A FCG vai continuar a não fazer contratações por concurso?
8. A regra para as adjudicações vai continuar a ser o ajuste directo?
9. Vão ser procuradas explicações para adjudicações controversas já realizadas pela FCG?
10. Vai ser explicada, por exemplo, a razão pela qual os trabalhos de tipografia para a FCG eram feitos em Loures?
11. Vamos, finalmente, perceber porque é que o concerto de Bobby McFerrin foi entregue a uma associação de estudantes do Porto?
12. Qual foi o resultado do trabalho do especialista contratado para captar apoio mecenático?
13. Os programadores vão continuar a andar em roda livre, fazendo o que muito bem entendem com os milhões que têm à sua disposição?
14. Faz algum sentido existir um cluster dedicado às artes e à arquitectura e as actividades relacionadas com Fernando Távora terem sido remetidas para o cluster do Pensamento?
15. Vai manter-se a aposta na orquestra sinfónica, que era um capricho muito caro da anterior presidente da FCG, especialmente incompreensível nos tempos que correm?
16. Qual o custo, se o há, da saída do CA da ex-administradora executiva que não foi reconduzida?
17. E com o administrador não-executivo que sai, há algum custo?
18. O mandato da ex-presidente da FCG durava até ao final de 2015. Quando termina o mandato do actual presidente?
19. Já foi demitida, por manifesta incompetência e incompatibilidade com Guimarães, a senhora que foi agraciada com o título honorífico de directora de comunicação e marketing?
20. Vai ser tomada alguma medida para apurar a existência (ou não ) de propalados conflitos de interesses, por motivos familiares, que existiriam no cluster da comunidade?
21. Sendo cada vez mais óbvio que o programa dos Tempos Cruzados é um flop, como é que a FCG vai corresponder ao desígnio que constava na candidatura e que apontava para elevar as instituições culturais vimaranenses para um novo patamar?
22. Será que o agora presidente da FCG vai abandonar as funções de programador do cluster do pensamento?
As perguntas que coloca podem ser pertinentes, mas suponho que não estará à espera de que seja eu a responder-lhes. Sugiro-lhe que, se espera respostas, as coloque directamente a quem de direito. Os contactos pode encontrá-los aqui: http://www.guimaraes2012.pt/?cat=73