Há dias, recebi do meu amigo Torcato Ribeiro a notícia da existência, em tempos, de um licor com receita das clarissas de Guimarães, cuja existência desconhecia. Dias depois, caíam-me na caixa do correio as fotografias da respectiva garrafa, que aqui se reproduzem. No rótulo, surge a marca "Licor de Santa Clara – Guimarães" e a indicação "José Martins Júnior". No dorso da garrafa, estão descritas as virtudes deste licor, cuja composição se desconhece, apenas se sabendo que não continha "substâncias nocivas à saúde":
O segredo do fabrico deste licor tenuíssimo, duma fluidez incomparável e dum sabor delicioso e inesperado, provém das monjas do antigo mosteiro de Sta. Clara, de Guimarães, fundado em 1559. Na fórmula desta bebida finíssima não entram substâncias nocivas à saúde, antes estimula e facilita a função digestiva, sendo particularmente recomendado às naturezas débeis. Quem uma vez o provar jamais dispensa diariamente, no fim da refeição principal, um pequeno cálice isolado ou acompanhando o seu café.
A origem desta bebida no convento de Santa Clara suscita algumas interrogações. No relatório da Exposição Industrial de 1884 faz-se referência à produção de toucinho-do-céu em Santa Clara, mas nada se refere a propósito de qualquer licor. Na obra Guimarães, O Labor da Grei, publicação comemorativa da exposição industrial e agrícola de 1923, informa-se que o Convento de Santa Clara se dedicava “ao Toucinho-do-céu, às Tortas, às Chouriças (morcelas) e outras espécies de doce que eram a delícia dos apreciadores, como o são ainda hoje” (p. 200). Também aí, nada consta a propósito de licores.
Com tais propriedades, causa estranheza ter-se perdido o rasto ao Licor de Santa Clara de Guimarães. Pela ortografia e pela composição do texto dos rótulos, em caracteres góticos, muito em uso em Guimarães em meados do século XX, percebemos que não deve faltar por aí quem ainda se recorde deste licor "dum sabor delicioso e inesperado".
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