De O Comércio de Guimarães, de 11 de Outubro de 1910
"O Comércio de Guimarães"
Não se publicou na sexta-feira passada o nosso periódico por ficar sem efeito toda a matéria que estava composta, relativa ao regime findo.
NOVO REGIME
Após dias sangrentos, lutas encarniçadas e heróicas, dias de amargura e ansiedade, foi proclamada a república em Portugal.
Após esse dia que marcará uma era importante em a nossa nacionalidade, as manifestações têm-se repetido pelos adeptos ao novo regime, têm-se içado bandeiras, foi enfim proclamada a República.
Quanto sangue derramado, quantas vidas imoladas, dizem que 3 a 4 mil, quantos esforços heróicos e dedicações sinceras tombadas!...
O novo regime não nos apavora. Nele homens há de valor que lutarão pela salvação de Portugal, a nossa única ambição e assim seja a deles.
O nosso periódico, que defendeu sempre um ideal político nobre e altivo, nunca teve em vista ferir pessoalmente.
Advogava ideias, não atacava pessoas.
A confirmar o que deixamos escrito aí estão os arquivos de 27 anos de existência, aonde, é certo, se travaram questões (algumas bem graves) as quais tratamos sempre com aprumo e lealdade.
A nossa pena nunca se moveu a ódios; procurou edificar e não destruir.
Em frente do novo regime, o nosso jornal nunca se esquecerá de pugnar, como o tem feito, pelos interesses morais e materiais de Guimarães, conservará a sua atitude de defensor dos interesses da Pátria e da Igreja.
Será esta a nossa divisa.
O povo tem-nos encontrado sempre a seu lado, nas lutas que julgamos justas, a seu lado queremos viver.
Tudo nos leva a crer que os vencedores de hoje respeitem a crença dos vencidos.
Que uma nova era de paz caia sobre Portugal e a luz divina alumie os seus filhos, são esses os votos que como portugueses e cristãos fazemos.
Vimaranenses:
Por Guimarães, Por Deus e pela pátria.
Proclamação da República
Como em quase todas as terras do país, em Guimarães também houve manifestações de regozijo pelos adeptos do novo regime.
Os republicanos têm sido correctos e bastante moderados nas suas manifestações, não havendo, no meio de tanto movimento, uma única nota discordante.
A não ser vivos comentários, discussões e manifestações, nada de anormal se tem passado em Guimarães.
Algumas casas religiosas têm estado policiadas, o que a nosso ver seria desnecessário, pois cremos que os vimaranenses as respeitariam, pois que todas estão no firme propósito de respeitar e fazer respeitar a lei.
No dia 8 foi solenemente proclamada a República nesta cidade.
Foi içada a bandeira na Câmara Municipal, no meio de vivas à República, ao exército, à Pátria, ao povo português, etc., etc.
O largo fronteiro àquele edifício achava-se repleto de povo, bem como estacionavam ali duas bandas de música e a banda regimental que fez a devida continência à bandeira.
Em seguida também foi içada a bandeira no quartel de Infantaria 20, repetindo-se as manifestações de regozijo.
Alguns dias e noites percorreu as ruas da cidade uma marcha "aux flambeaux", vendo-se à sua frente alguns conhecidos republicanos que entusiasmados soltavam vivas e empunhavam bandeiras republicanas.
Em todo o percurso houve boa ordem, debandando tudo sem incidentes.
Alguns edifícios particulares hastearam bandeiras e iluminaram as suas fachadas.
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