A implantação República nos jornais de Guimarães (4)


De A Restauração, 11 de Outubro de 1910



A nossa orientação


Decerto nenhum dos nossos leitores espera que A Restauração lhe venha dar notícia das alterações políticas da última semana, que já são conhecidas no mundo inteiro. Mas talvez que alguns nos não levassem a bem que deixássemos de expor a nossa orientação relativamente a esses acontecimentos.

A este respeito porem nada temos que dizer. Norteados por princípios que pairam acima de todas as contingências políticas — princípios que nos dominam e em que nós não dominamos — nada temos que alterar no rumo até aqui seguido.

A Restauração, como claramente indica o seu subtítulo, é um semanário católico. Cuidamos que, por mercê de Deus, não temos desonrado essa nobre profissão; e esperamos continuar a honrá-la quanto em nossas limitadas forças caiba.

Como esta profissão é indivisível, nós, para sermos católicos, queremos sê-lo em todas as manifestações da actividade moral, tanto da vida individual como da vida social. Reprovamos pois e combatemos tudo quanto é contrário aos ensinamentos católicos, e só abraçamos e defendemos o que com eles se conforma.

Nomeadamente em política, temos seguido sempre a orientação que nos parece mais harmónica com os grandes princípios da moral e do direito aplicados às circunstâncias sociais em que vivemos. Essa mesma orientação continua remos a seguir: podem mudar — como têm com efeito mudado — estas circunstâncias, e portanto a aplicação daqueles princípios ; mas estes não mudam.

Na república, como na monarquia, cabem excelentes normas de governo: estas temo-las sempre louvado, e louva-las-hemos sempre. Mas em ambas as formas políticas são possíveis os maiores erros: estes nunca nós temos aprovado, nem aprovaremos jamais.

Em suma, o que nos importa, em política, não são as formas de governo, mas sim o modo como dentro delas se governa. Para que este modo de governar seja o que deve ser, é que sempre temos empregado e continuaremos empregando os nossos esforços.

Assim, apesar das grandes perturbações políticas produzidas pela mudança de instituições entre nós, nada temos que alterar à nossa orientação.

Estas palavras que escrevemos agora, ao ser derribada a monarquia e proclamada a república em Portugal, escreve-las-íamos com a mesma verdade, se a mudança fosse em sentido inverso.

É esta uma das vantagens de que gozam os homens de princípios.

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